Literatura moçambicana: aspectos históricos e principais autores

Literatura moçambicana: aspectos históricos e principais autores

A Língua Portuguesa, derivada do latim, é um idioma que não se restringe à Portugal e Brasil, na verdade, existem atualmente muitas outras regiões que falam e produzem textos literários em português, como a literatura moçambicana, os nativos angolanos, cidadãos cabo verdianos, além dos habitantes de Timor-Leste, Guiné-Bissau e das ilhas São Tomé e Príncipe. 

A importância desse conhecimento permite valorizar a Língua Portuguesa em sua pluralidade, que abrange diferentes costumes, culturas, países e etnias. Para fomentar a construção desse conhecimento e reforçar a interconexão entre os países falantes do português, muitos vestibulares têm adicionado a temática de literatura moçambicana, angolana e outras em suas provas. 

Em provas específicas, que aparecem na Unicamp e Fuvest, por exemplo, há cobrança de livros africanos na lista de leitura obrigatória. No Enem, a temática é cobrada do ponto de vista histórico e literário, tanto em ciências humanas quanto na área de linguagem e suas tecnologias. Para te ajudar com isso, este texto da Coruja reuniu as principais informações da história de Moçambique e uma visão geral sobre os mais famosos autores da literatura do país. 

Panorama histórico de Moçambique

Moçambique é um país que fica ao sul do continente africano, em que o idioma oficial é o português, mas a origem étnica bantu permite que existam mais de 40 línguas nacionais, porque existem vários dialetos utilizados pela população. 

Para além da língua oficial, parte da história moçambicana possui muitos aspectos semelhantes à vivência histórica brasileira, o que pode ser caracterizado como uma conexão África-Brasil. O país não era colonizado até o século XV, quando viviam diversas populações étnicas na região, de origem bantu. Mas a chegada dos portugueses, especialmente das caravanas de Vasco da Gama deram início à ocupação europeia da região africana por volta de 1498. 

A localização geográfica de Moçambique favorece que o país também tenha condições climáticas parecidas com as do Brasil. Em termos alimentares, existem algumas similaridades importantes, como o consumo de mandioca e o pão francês — essas equivalências podem ser atribuídas a questões de solo e clima, como também são decorrentes da colonização portuguesa, que difundiram seus hábitos na cultura brasileira e moçambicana. 

Na história da nação moçambicana, entretanto, a colonização portuguesa foi mais prolongada, porque a população só conquistou a plena independência a menos de 50 anos, em junho de 1975 — assim como outros países africanos que foram libertos recentemente, ainda no século XX. 

Mesmo após a independência, não havia um consenso sobre qual sistema político-econômico seguir, no contexto da Guerra Fria, então desencadeou-se uma guerra civil  que durou cerca de 16 anos. O conflito gerou muitos danos e perdas para o país, do ponto de vista econômico, como também a morte e desaparecimento de populares. 

+ Veja também: Reinos africanos na Idade Média: história e características

Literatura moçambicana: principais autores

Mia Couto (1955 – atual)

Mia Couto é um escritor, professor e jornalista moçambicano que publica obras com diversos formatos, entre contos, crônicas, poemas e romances. Alguns de seus textos são Tradutor de Chuvas (2011), E Se Obama Fosse Africano? e Outras Intervenções (2009),Na Berma de Nenhuma Estrada (1999). 

Embora os tipos textuais sejam diversos, há uma temática central que é observada nas obras do autor africano: críticas à sociedade e à política. Parte dessas obras também estão inseridas em períodos históricos importantes, como a Independência e a pós-Independência. Ou ainda, abordam assuntos de relevância social, como o racismo, veja alguns excertos da crônica E Se Obama Fosse Africano?:

“Na noite de 5 de novembro, o novo presidente norte-americano [Obama] não era apenas
um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta,
dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a
pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha
cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos comungando de uma
mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre
outra: sem a participação maciça dos americanos de todas as raças (incluindo a da
maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para
festejarmos.”

“No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários
internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da
vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras,
má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto
a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em
alguns casos. Noutros, a desistência e o cinismo”

Paulina Chiziane (1955 – atual)

Paulina Chiziane é uma mulher moçambicana, escritora, que aprendeu o português como língua secundária, porque suas primeiras e nativas comunicações foram realizadas em um dialeto moçambicano chamado chope. 

Conquistou o Prêmio Camões e é o nome que deu início ao romance de autoria feminina na literatura moçambicana, após a independência do país. Seu papel não foi somente reforçar o valor da mulher enquanto produtora de conteúdo por tornar-se escritora, mas a autora também adicionou a temática em seus romances, em que enfoca o valor social da mulher dentro da sociedade africana, contradizendo valores ortodoxos que eram difundidos na região. 

Entre suas obras mais famosas está o romance “Niketche: Uma História De Poligamia” (2002) e outras como “Eu, Mulher: Por Uma Nova Visão Do Mundo” (2013) e “O Canto Dos Escravizados” (2017). Veja um trecho de Niketche, que discorre sobre a relação entre o amor, a fertilidade e a mulher:

“Em algumas regiões do norte de Moçambique, o amor é feito de partilhas. Partilha-se mulher com o amigo, com o visitante nobre, com o irmão de circuncisão. Esposa é água que se serve ao caminhante, ao visitante. A relação de amor é uma pegada na areia do mar que as ondas apagam. Mas deixa marcas. Uma só família pode ser um mosaico de cores e raças de acordo com o tipo de visitas que a família tem, porque mulher é fertilidade. É por isso que em muitas regiões os filhos recebem o apelido da mãe. Na reprodução humana, só a mãe é certa. No sul, a situação é bem outra. Só se entrega a mulher ao irmão de sangue ou de circuncisão quando o homem é estéril.”

Luís Bernardo Honwana (1942 – atual)

Também moçambicano, Luís B. Honwana, além de escritor, também foi jornalista. Gastou parte de sua vida na luta pela independência de Moçambique e essa escolha se relaciona com seus posicionamentos e com a escrita que tem desenvolvido ao longo de sua vida. 

Ainda sob o domínio português sobre a nação moçambicana, Honwana lançou, em um jornal chamado a Tribuna, uma série de obras que denunciavam opressões sociais. Eram ficções em que os personagens eram crianças que, de forma sutil, criticavam as autoridades portuguesas.

Mediante suas manifestações anticoloniais, foi preso e alguns de seus escritos foram proibidos na nação. Somente após a independência de Moçambique é que seus livros ganharam popularidade, entre eles podem ser citados “Rosita, Até Morrer” (1971) e “Nós Matamos o Cão Tinhoso” (1964). Este último, inclusive, foi premiado como um dos 100 melhores livros da literatura africana do século XX. Veja um trecho:

“O Cão-Tinhoso tinha uns olhos azuis que não tinham brilho nenhum, mas eram enormes e estavam sempre cheios de lágrimas, que lhe escorriam pelo focinho. Metiam medo aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como uma pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer.”

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