Você já imaginou como seria o nosso conhecimento sobre a história do Brasil sem a “Carta de Achamento” de Pero Vaz de Caminha?
Pero Vaz de Caminha foi o grande responsável por escrever, no século XV, o primeiro documento da história do Brasil, a carta que relata a chegada dos portugueses ao território brasileiro e, assim, eternizar em palavras os primeiros traços da terra que viria a se tornar o Brasil.
No contexto dos vestibulares, é fundamental compreender a relevância do trabalho de Caminha para a literatura e história brasileira, além de desenvolver a habilidade de interpretá-la com precisão para acertar questões de literatura que exigem uma leitura crítica e o conhecimento do contexto em que está inserida.
Por isso, o Portal Estratégia Vestibulares preparou este artigo para você entender melhor sobre quem foi Pero Vaz de Caminha e os principais aspectos de sua carta. Confira!
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Quem foi Pero Vaz de Caminha?
Pero Vaz de Caminha nasceu por volta de 1450, na cidade de Porto, Portugal. Filho de um cavaleiro do Duque de Bragança, Caminha teve uma trajetória marcada por cargos administrativos: foi mestre da balança da Casa da Moeda e vereador de sua cidade natal em 1497. Além disso, casou-se com Dona Catarina e teve uma filha, a Isabel de Caminha.
Pero Vaz de Caminha se consolidou como figura histórica em 1500, quando integrou a frota de Pedro Álvares Cabral como escrivão-mor, por ser conhecido como um dos mais exímios escrivães de Portugal. Ao chegar ao território que viria a ser o Brasil, em 22 de abril, Caminha iniciou a redação de uma carta ao rei Dom Manuel I, relatando suas impressões sobre a nova terra e seus habitantes. Após essa missão, seguiu viagem às Índias, onde faleceu na batalha em Calicute, em 15 de dezembro de 1500.
A função de Caminha na expedição
Como escrivão da feitoria, Caminha tinha a responsabilidade de registrar oficialmente os acontecimentos da viagem, visto que a expedição partiu de Lisboa com o objetivo de estabelecer uma feitoria portuguesa em Calicute, na Índia, para consolidar o comércio de especiarias iniciado por Vasco da Gama em 1498.
No entanto, durante o trajeto, a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral chegou ao litoral brasileiro, algo que já foi visto como um acontecimento acidental, mas hoje é consenso entre a maioria dos historiadores que a chegada buscava consolidar a nova rota para as Índias e estabelecer a conquista do Tratado de Tordesilhas, assinado seis anos antes.
Foi exatamente nesse contexto que Pero Vaz tornou-se um elo importante entre os descobridores e a Coroa portuguesa, visto que ficou incumbido de produzir um documento que informasse com precisão os detalhes da nova terra e seu potencial. Essa função resultou em um registro fundacional que o tornaria célebre na história do Brasil: a Carta de Pero Vaz de Caminha.
A carta de Pero Vaz de Caminha
Ao chegar em terras brasileiras, Pero Vaz de Caminha escreveu a “Carta a el- Rei Dom Manoel sobre o achamento do Brasil”. A carta foi endereçada ao rei Manoel I de Portugal, em 1⁰ de maio de 1500, diretamente da região de Porto Seguro. Ela tinha por objetivo informar o rei de forma minuciosa sobre:
- As novas terras encontradas;
- Os povos indígenas e seus costumes;
- A natureza local, seu clima e matas exuberantes;
- A primeira missa celebrada em solo brasileiro; e
- As impressões sobre o potencial da terra, inclusive sua fertilidade.
Portanto, a carta era um um documento oficial e descritivo e essa produção viria a compor uma das vertentes literárias do Quinhentismo.
Características formais da carta
Por se tratar de um documento oficial, destinado à metrópole portuguesa, a carta possui características notáveis:
- Estilo epistolar, com temporalidade, localização e reverência ao rei;
- Linguagem simples e direta, típica de um documento administrativo;
- Detalhamento descritivo minucioso;
- Tom informativo e sem intenção artística; e
- Linguagem descritiva e detalhada.
A maioria dessas características formais podem ser observadas nos trechos a seguir:
“Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza […].”
“E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam furabuchos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz.”
Assim, há uma descrição detalhada e objetiva da terra que estava sendo avistada, seu relevo, vegetação e, inclusive, a menção às aves (“furabuchos”). Consequentemente, a imagem passada pelo autor é de uma terra fértil e com grande potencial de gerar riquezas.
Características da escrita de Caminha
Embora o texto seja informativo, com linguagem formal e tom solene, na escrita de Caminha há traços de subjetividade. O escrivão demonstra encantamento com a terra e com os nativos, descrevendo-os como “de bons rostos” e com “inocência”. Isso revela uma visão idealizada dos indígenas, próxima da ideia do “bom selvagem”, desenvolvida alguns séculos depois, pela Literatura Romântica.
Para elucidar, leia, a seguir, um trecho da carta que aborda como foi o primeiro contato com os nativos:
“[…] eram ali 18 ou 20 homens, pardos, todos nus, sem nenhuma cousa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pusessem os arcos; e eles os puseram. Ali não poude deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa.
[…] A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, nem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. Traziam ambos os beiços de baixo furados e metido por eles um osso branco de comprimento duma mão travessa e de grossura dum fuso d’algodão e agudo na ponta como furador. […]”
A partir desses trechos, Pero Vaz de Caminha deixa claro sobre como ocorreu o primeiro contato entre esses dois povos de costumes tão distintos. De um lado, os portugueses, a partir de sua perspectiva eurocêntrica, não entendem a ausência de vestimenta dos indígenas e seus adereços.
Por outro, os indígenas não compreendem o motivo pelo qual os portugueses usavam roupas, traziam objetos metálicos e apreciavam certos alimentos e bebidas, como o vinho.
Ademais, nota-se a intenção catequizadora na carta, ao destacar a receptividade e “inocência” dos indígenas. Caminha, desse modo, sugere que eles seriam facilmente convertidos ao cristianismo e reforça o papel da carta como instrumento político e religioso.
A importância da carta de Caminha
Perceba que, de acordo com o que foi abordado neste artigo, a carta está intimamente relacionada com a efetividade da colonização europeia sobre o Brasil. Afinal, as informações, descrições e descobertas relatadas por Caminha chegaram à Metrópole e geraram interesse no Rei sobre o território.
Portanto, a Carta de Pero Vaz de Caminha é mais do que um simples relatório sobre aspectos geográficos e culturais: é o primeiro registro histórico do Brasil e o marco inaugural da literatura brasileira. A partir desta carta, sob o olhar curioso e deslumbrado do colonizador, podemos hoje ter conhecimento de como era o nosso país no princípio, com riqueza descritiva.
Questão de vestibular sobre Pero Vaz de Caminha
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos.
Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!
CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 31 out. 2021.
Esse texto é um fragmento da carta de Pero Vaz de Caminha para o rei de Portugal, cuja importância documental reside no fato de
a) apresentar usos pouco comuns do português padrão da época.
b) descrever o estranhamento do autor ao chegar ao Brasil.
c) fazer um inventário do expediente das rotinas de navegação e achados da tripulação.
d) exemplificar procedimentos de comunicação formal em um contexto de forte hierarquia.
e) ser um registro histórico e linguístico do período em que foi redigido.
Resposta:
Na “Carta de Achamento”, Pero Vaz de Caminha combina elementos literários: o espanto do autor, revelado por exclamações e descrições vívidas, e fatos históricos, como o contexto da expedição portuguesa rumo às Índias. Por isso, sua importância reside justamente em ser um registro histórico e linguístico do período em que foi redigida, refletindo a perspectiva europeia, os valores e a linguagem da época.
Alternativa correta: E.
+ Veja também: Classicismo: o que é, contexto histórico e características
Literatura portuguesa: o que é, importância e principais correntes
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