Os autores do romantismo brasileiro focaram em personagens, cenários e temas específicos para a construção das obras. Em alguns casos, a temática era mais indígena, em outras tinha um enfoque histórico e, na prosa urbana, que é o assunto deste artigo, o cenário era a cidade e seu cotidiano urbano. Continue lendo e conheça mais características, contexto histórico, obras e autores principais.
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O que é prosa urbana?
Um texto em prosa está organizado em uma estrutura de parágrafos sequenciais, que se encadeiam para a formação de um enredo ou transmitir determinada informação. Então, a nomenclatura “prosa urbana” diz respeito a obras escritas em parágrafos com temática urbanizada.
Reconhecer esse tipo de texto pode ser importante para delimitar as escolas literárias. No Brasil, a principal corrente relacionada com a prosa urbana é o romantismo, então, ao encontrar obras com essa estrutura, há mais chances de ser um romance.
Por outro lado, escolas literárias como o Arcadismo possuem um forte viés bucólico, então há uma temática campesina, apreço pela natureza e pelo ambiente rural. Assim, esses textos podem ser diferenciados e contrapostos nesse sentido.
Em provas de vestibulares, esse conhecimento de características opostas em correntes literárias pode ser essencial tanto para a interpretação da questão e dos textos, como para delimitar as alternativas mais condizentes com a temática do texto.
Contexto histórico: prosa urbana
A prosa urbana, também chamada de romance urbano ou romance de costumes, aconteceu durante o romantismo brasileiro, no século XIX. Nesse período, a Família Real Portuguesa tinha se estabelecido no Brasil, devido a problemas internacionais com a liderança do imperador francês Napoleão Bonaparte.
Quando chegaram aqui, Dom João VI e sua corte se abrigaram no sudeste, mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro. A época de reinado de João ficou conhecido como Período Joanino e, nessa ocasião, diversas reformas foram implementadas Brasil afora.
A cidade que mais experimentou mudanças foi o próprio Rio de Janeiro, uma vez que a capital do Brasil foi transferida de Salvador para o Rio. Então, foram construídos prédios monumentais, como a Biblioteca Real, que tinha o objetivo de abrigar importantes obras da literatura em Língua Portuguesa.
Diante disso, os autores dedicaram-se a escrever narrativas que se passavam no cenário urbano, especialmente o cotidiano carioca. Geralmente, havia um enfoque na elite burguesa e seu estilo de vida, que serviam como pano de fundo para a construção de uma história de amor idealizada, comum no romantismo.
Características da prosa urbana
A característica central dos romances urbanos é o cenário citadino, em que os personagens se encaixam em estereótipos urbanos. Então, há elementos como meios de transporte, calçadas, a casa situada em um determinado bairro, geralmente com população burguesa.
Muitas vezes são adicionados temas como trabalho, vendas, comercialização e viagens de negócios, reforçando os valores burgueses, com interesse em lucratividade e desenvolvimento financeiro.
Em algumas obras temas sensíveis são mencionados, com críticas políticas e sociais. Note, entretanto, que não se trata de um engajamento nessas questões, mas apontamentos de aspectos duvidosos da sociedade de elite.
Como essas prosas estão englobadas no romantismo, os elementos essenciais dessa corrente literária estão presentes: idealização da mulher e da relação amorosa, personagens com características heroicas e exageradas, aspectos melancólico, dramático e emocional, entre outros elementos próprios dos romances.
Geralmente, romances de costume são textos longos que são construídos no cenário do Rio de Janeiro, escritos em linguagem mais simples quando comparados a outros estilos literários. As obras citam temas éticos, culturais, políticos e morais que norteiam a vida urbana daquela época. A conclusão dos enredos, na maior parte das obras, é dada por um desfecho feliz e amor concretizado entre os protagonistas.
Principais autores e obras da prosa urbana
Memórias de um Sargento de Milícias (1852)
Uma das prosas urbanas mais conhecidas é o livro Memórias de um Sargento de Milícias, escrito por Manuel Antônio de Almeida (1831). Nesta obra, o autor elegeu um protagonista “anti-herói”, Leonardo, que age de forma contrária aos costumes da sociedade da época em que vive.
O cenário do enredo é a cidade do Rio de Janeiro, e ela foi publicada no formato de folhetins, em que eram divulgados capítulos semanalmente, no Correio Mercantil, um jornal carioca. Atualmente, entende-se que o autor construiu a história repleta de “malandragens” e aspectos da vida cotidiana para expor diferentes tipos de pessoas comuns que formavam a sociedade carioca do século XIX.
“Passemos por alto sobre os anos que decorreram desde o nascimento e batizado do nosso memorando, e vamos encontrá-lo já na idade de sete anos. Digamos unicamente que durante todo este tempo o menino não desmentiu aquilo que anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança com um choro sempre em oitava alta; era colérico; tinha ojeriza particular à madrinha, a quem não podia encarar, e era estranhão até não poder mais.”
Senhora (1874)
A obra Senhora foi escrita por José de Alencar, um autor de importante representação em diferentes vertentes do romantismo. Esse livro é tão famoso e com enredo tão interessante que já foi interpretado em forma de novela, transmitida pela emissora Rede Globo no século XX. Além de também ter sido representado em forma de filme longa metragem, no mesmo período.
A história também se passa na alta sociedade carioca e um dos aspectos mais explorados pelo autor é o interesse demasiado pelo dinheiro e lucratividade que pairava sobre a elite burguesa de sua época.
“Voltou precipitadamente e entrou na sala, onde apenas havia a frouxa claridade de dois bicos de gás em lamparina. Fora ela mesma quem dispusera assim, para que a luz artificial não perturbasse a festa da natureza. Agora batia o tímpano, chamando o criado para fazer inteiramente o contrário. Os lustres acesos entornaram as torrentes deslumbrantes do gás, que expeliram da sala os níveis reflexos do luar.
– Pretendem ficar aí toda noite? perguntou Aurélia.
– Estávamos gozando do luar, disse D. Firmina entrando com Seixas.
– Há quem admire as noites de luar! Eu acho-as insuportáveis. O espírito afoga-se nesse mar de azul, como o infeliz que se debate no oceano. Para mim não há céu, nem campo, que valha estas noites de sala, cheias de conforto, de calor e de luz em que nos sentimos viver. Aqui não há risco de afogar-se o pensamento.
Outros textos de Alencar também são considerados romance de costume, como A Viuvinha (1857), Lucíola (1862) e A Pata da Gazela (1870).
A Moreninha (1844)
O romance urbano A Moreninha foi escrito por Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) e também teve grande fama, sobretudo quando foi interpretado em forma de filmes e telenovelas, ganhando atenção do público.
O romance ocorre entre um jovem burguês estudante de medicina, Filipe, e uma mulher chamada Dona Carolina. A história é construída ao redor de uma aposta realizada entre os amigos de Filipe: caso se apaixonasse, o Filipe deveria escrever um romance. O desfecho ocorre com a concretização do amor dos personagens e, por isso, o livro teria sido escrito.
“Augusto escreveu primeira, segunda e terceira vez o termo da aposta, mas depois de longa e vigorosa discussão, em que qualquer dos quatro falou duas vezes sobre a matéria, uma para responder e dez ou doze pela ordem; depois de se oferecerem quinze emendas e vinte artigos aditivos, caiu tudo por grande maioria, e entre bravos, apoiados e aplausos, foi aprovado, salva a redação, o seguinte termo:
“No dia 20 de julho de 18… na sala parlamentar da casa n… da “rua de… sendo testemunhas os estudantes Fabrício e Leopoldo, acordaram Filipe e Augusto, também estudantes, que, se até o dia “20 de agosto do corrente ano o segundo acordante tiver amado a uma “só mulher durante quinze dias ou mais, será obrigado a escrever um “romance em que tal acontecimento confesse; e, no caso contrário, igual “pena sofrerá o primeiro acordante. Sala parlamentar, 20 de julho de “18… Salva a redação.”
Como testemunhas: Fabrício e Leopoldo.
Acordantes: Filipe e Augusto.
E eram oito horas da noite quando se levantou a sessão”
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