Estratégia Resume: Dom Casmurro, de Machado de Assis

Estratégia Resume: Dom Casmurro, de Machado de Assis

Livro é considerado um dos mais importantes da literatura brasileira; leia o resumo de Dom Casmurro e veja como a obra pode cair no vestibular

Considerado uma das obras literárias mais importantes da história do Brasil, Dom Casmurro ainda é um dos retratos mais fiéis da sociedade brasileira do século XX. Traduzido em mais de 19 línguas, o livro é um dos marcos do Realismo e até hoje perturba a mente de seus leitores com a seguinte dúvida: afinal, Capitu traiu Bentinho? 

Há aqueles que acreditam que Capitolina realmente cometeu adultério com o melhor amigo de seu marido. Há aqueles que acreditam que a invenção da traição foi resultado da imaginação ciumenta de Bento Santiago. De qual lado você está? 

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Independentemente da sua resposta, o livro escrito por Machado de Assis é um clássico da literatura brasileira e, consequentemente, uma aposta de diversos vestibulares. Fuvest, UEA, Unitins, Famerp, UEG, UFPR, Mackenzie são alguns exemplos de provas que cobraram essa obra em seus processos seletivos. 

Para te ajudar a compreender Dom Casmurro, o Portal Estratégia Vestibulares preparou um resumo com tudo o que você precisa saber: contexto histórico, personagens, biografia do autor, linguagem, gênero textual e questões fundamentais do livro. Confira:

Quem foi Machado de Assis?

Filho de escravos alforriados, Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em junho de 1839 no Rio de Janeiro, enquanto a capital fluminense ainda era a capital do então Império do Brasil. Sua primeira publicação ocorreu em 1854, aos 15 anos, o soneto “Ilustríssima Senhora D.P.J.A”, no Periódico dos Pobres, um jornal do Rio de Janeiro. 

Aos 21 anos, Machado de Assis já era considerado um intelectual carioca. Sua trajetória o levou a trabalhar como jornalista, repórter, crítico teatral, crítico literário, contista, poeta, cronista e dramaturgo. Em sua carreira, o autor escreveu cinco livros de poesia, 10 peças teatrais, 10 romances, 216 contos e mais de 600 crônicas. Sua última obra publicada em vida foi o livro “Memorial de Aires”, em 1908, mesmo ano de sua morte. 

Sua escrita foi inspiração para as próximas escolas literárias que ocorreram no Brasil, influenciando nomes como Carlos Drummond de Andrade, Lima Barreto e Olavo Bilac. Em 2017, seu nome foi incluído no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”.

Contexto histórico de Dom Casmurro

O século XIX foi marcado por grandes modificações políticas, econômicas, sociais e artísticas. Na Europa, mais especificamente a França e a Inglaterra, houve duas magnânimas revoluções no século anterior: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. 

Essas revoluções ocorridas no século XIII, irão, aos poucos, impactar a sociedade europeia, promovendo desenvolvimento tecnológico, eclodindo teorias científicas, ideológicas e filosóficas, proporcionando a urbanização em massa. 

Na segunda metade do século XIX, a sociedade já era outra. Os artistas se viram desolados em uma sociedade capitalista. As visões românticas, as idealizações, as ilusões e o escapismo não cabiam no poema ou na prosa. Com isso, surge uma visão científica e racional que adentrou as rodas artísticas e fez surgir um movimento contrário ao Romantismo: o Realismo. 

Essa nova tendência apareceu em diversas artes, incluindo a literatura e, posteriormente, aprofundar-se-á e misturar-se-á a uma outra: o Naturalismo. As novas descobertas científicas, as correntes sociológicas, filosóficas e biológicas desse período tentavam explicar o mundo e, dessa forma, o artista tomou posse dessas ideias trazendo-as para sua arte. 

Há, claramente, um diálogo entre os escritores realistas e naturalistas com: o Positivismo, de Comte; o Socialismo, de Marx e Engels; o Evolucionismo, de Darwin; o Determinismo, de Taine; dentre outros. Isso justifica não só as descrições e a objetividade da linguagem, mas também os temas das obras desse período serem verossímeis, mostrando sem pudores a falsidade, o egoísmo, o adultério, a marginalidade e as relações de interesses, como os casamentos por conveniência, por exemplo. 

No Brasil, a tendência foi a mesma, porém em passos mais lentos. A industrialização demorou um pouco mais, haja vista que o país tinha uma longa tradição agrícola-escravocrata e, por aqui, ainda reinava o império da cana de açúcar. Assim, a industrialização e urbanização, que começou na Europa no século XIII, e continuou no XIX, só reverbera por aqui na metade do século XIX.

Movimento literário em que a obra se encaixa

A trajetória de Machado de Assis foi dividida em duas etapas:

  • Fase inicial: Romantismo; e
  • Fase madura: Realismo.

Dom Casmurro faz parte da “Trilogia Realista” do autor (Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba), que marca o início do Realismo no Brasil. Em seus livros da fase realista, permanece a “fotografia” do ser humano real feita por outros desse movimento estético, que demonstrava toda a decadente humanidade. 

Veja algumas das características do Realismo:

  • Veracidade ou busca da verossimilhança;
  • Materialização do amor;
  • Mulher não idealizada e heróis cheios de fraquezas;
  • Denúncia de injustiças sociais;
  • Linguagem culta e objetiva;
  • Narrativa lenta e detalhista; e
  • Descrições psicológicas das personagens.

Essas características estão presentes em obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e Esaú e Jacó, de Machado de Assis, e O Ateneu, de Raul Pompéia, que são consideradas realistas. Em sua escrita, os autores desnudam os desvios de caráter; mostram os conflitos e as relações humanas da sociedade mercantil; apresentam a hipocrisia e afetação das regras sociais de conveniência e aparência; dentre outros.

Linha do tempo e espaço da obra

Apesar de ter sido lançado em 1900, Dom Casmurro se passa na segunda metade do século XIX na cidade do Rio de Janeiro. Apesar dos anos não serem abordados com frequências, algumas das datas especificadas na obra são:

  • 1857 – ano em que Bentinho completa 15 anos;
  • 1865 – ano do casamento de Bentinho e Capitu; e
  • 1871 – ano da morte de Escobar.

Personagens de Dom Casmurro

  • Bento Santiago (Dom Casmurro): Também conhecido como Bentinho, é o narrador da história. Filho de Dona Glória e do falecido Pedro de Albuquerque Santiago, é o único filho do casal, prometido por sua mãe para a vida religiosa. Ao conseguir se livrar da promessa de Dona Glória, forma-se advogado e se casa com Capitu.  “Dom Casmurro” é um apelido irônico que um poeta deu a Bentinho, o narrador-personagem, devido a sua vida reclusa e aparente arrogância. Isso porque “casmurro” significa triste, melancólico; e “Dom” seria para dar um ar de nobreza.
  • Capitolina (Capitu): vizinha, amiga e futura esposa de Bentinho. Entre as suas descrições no livro, há destaque para sua capacidade de aprender, sua inclinação para as artes, sua curiosidade nata, além de ter os famosos “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. No capítulo 31 se situa a frase icônica “Capitu era mais mulher do que Bento era homem”. A todo o tempo, o narrador descreve a personagem como uma mulher ativa e inteligente, muito diferente das mulheres da época.
  • Dona Glória: mãe de Bentinho. No livro, é descrita de forma respeitável e amorosa, que cumpriu eterno luto ao marido voltando-se apenas aos serviços domésticos, mesmo sendo uma jovem senhora. Por outro lado, Bentinho tem poucas lembranças do pai, mantendo sempre consigo um retrato dele junto da mãe. 
  • Agregado José Dias: José Dias chegará à família há muitos anos, quando ainda moravam em uma fazenda, na ocasião em que ele curou alguns escravos da febre passando-se por médico. Com o tempo, confessou a mentira, mas, como a família já tinha apreço por ele, foi ficando, ficando, até não ir embora mais. Como todos gostavam muito dele, o agregado transitava em todas as ocasiões, participava dos assuntos de família e até chegou a receber alguma herança do pai de Bentinho.
  • Tio Cosme: advogado de 55 anos, velho e gordo, já viúvo, foi morar com a família de Dona Glória quando ela enviuvou. Ao relembrar o sofrimento que os cavalos tinham para carregar o tio obeso, Bentinho confessa que sempre tivera medo de cavalos, só aprendendo a montar quando se viu obrigado a fazê-lo por sentir-se envergonhado de sua fraqueza.
  • Prima Justina: prima de Dona Glória, é viúva e descrita por ter uma postura hostil e ser intransigente. Na visão de Bentinho, mora com sua mãe por interesses financeiros.
  • Pádua: pai de Capitu. O narrador nos conta que o homem comprou a casa com dinheiro que ganhou na loteria, pois seu salário não era muito alto. Houve uma época em que substituiu um poderoso de repartição e ganhou bastante, mas passado esse momento, voltou a ter queda nos honorários
  • Dona Fortunata: mãe de Capitu.
  • Escobar: amigo de seminário de Bentinho. Futuramente, tornou-se melhor amigo de Bento e também o motivo de seu ciúmes com Capitu. Morreu afogado. 
  • Sancha: amiga de Capitu e futura esposa de Escobar.
  • Ezequiel: filho de Bento e Capitu.

Resumo de Dom Casmurro

O livro Dom Casmurro é um romance psicológico escrito por Machado de Assis em meio a uma sociedade cheia de conflitos sociais, políticos e econômicos. Nesse contexto problemático e, além de tudo, patriarcal, o escritor coloca no centro da narrativa uma personagem icônica, a Capitu, mulher pobre, portanto, de uma minoria, em grave conflito com o seu marido, Bento Santiago, homem rico. 

Neste lugar privilegiado, o protagonista encontra-se doente de ciúmes e, por isso, acreditava que sua esposa, inteligente e cheia de atitude, o traía com o seu melhor amigo, Escobar. Entretanto, é também esse personagem conflituoso que nos conta a história: um narrador que confessa seu passado em tentativa de expurgo, contudo, o faz de modo parcial e baseando-se apenas em memórias fracas e subjetivas

Análise de Dom Casmurro

Veja abaixo a crítica da obra e quais são os pontos mais importantes para a análise do livro:

Enredo

A estrutura de Dom Casmurro é deslinearizada, pois começa a narrativa com o personagem Bento já velho, explicando o motivo pelo qual escolhera escrever o título e, depois, volta para a infância a fim de contar sua história com a amada Capitu. 

Embora o início seja assim, posteriormente, a sequência segue infância–adolescência–adulto–velhice. A estrutura do enredo de Machado de Assis é diferente para o período, mas o brilho deste elemento da prosa está na construção da história inusitada para a época, no qual esperava-se triângulos amorosos e finais felizes, o que não acontece em Dom Casmurro.

Narrador

O que é narrador-personagem? É quando a história é contada por alguém que participa das ações, mas não precisa ser necessariamente o protagonista ou o antagonista. Como ele “estava lá”, a narrativa é desenvolvida em 1ª pessoa e a perspectiva é parcial. Normalmente, os autores escolhem esse tipo de narrador para trazer ares de pessoalização ao seu texto. Consequentemente, o texto torna-se mais subjetivo e o uso da função emotiva salta à superfície textual. 

Aqui, percebemos Machado de Assis ironizando com a tradição, haja vista que os narradores-personagem antes não se assumiam pouco confiáveis. O narrador-personagem, no caso Bentinho, tenta um tom de verossimilhança e tenta parecer objetivo (embora use de digressões), mas assume suas fraquezas e deixa transparecer a sua parcialidade.

“Digressão: Figura de retórica, consiste em o orador afastar-se do seu tema, pelo recurso à inserção de matéria estranha àquela tratada no momento. Podendo conter a intercalação de um trecho descritivo, narrativo, poético, elogioso, etc. (...) Própria do discurso oratório, a digressão pode apresentar qualquer medida, aparecer em qualquer parte do texto e em obras de qualquer natureza, sobretudo na poesia épica, no romance e no ensaio.” (MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2013)

A digressão são as partes do livro em que Bentinho “para” de contar sua história com Capitu, a fim de:

  1. Fazer alguma observação sobre um acontecimento, analisando-o; 
  2. Conversar com o leitor, quase sempre usando de ironia, chamando-o em sua responsabilidade de proceder às interpretações implícitas do texto; 
  3. Fazer comparações, analogias e intertextualidades com outras obras, como textos bíblicos e mitológicos. Esse procedimento é difícil de ser realizado, pois o escritor pode cometer o deslize de fugir à narrativa principal ou deixar o leitor perdido.

Os personagens machadianos

Isso significa que, mesmo ao proceder a uma personagem-tipo, ou estereótipo, o autor adjetiva-os e os coloca promovendo ações singulares. 

Por exemplo, o Bentinho jovem e Capitu jovem são fotografias esparsas e fragmentadas presentes na memória de Bentinho narrador. Nada garante, por exemplo, que eles eram assim mesmo como são descritos. Quando consideramos as memórias de qualquer adulto saudável, as lembranças que retornam a mente, quase sempre, são criações e fragmentos de uma realidade. 

Agora imagine isso em um romance em que o próprio narrador assume sua condição de “ter memória fraca”. O que isso tem a ver com a personagem machadiana? Tudo! Afinal, é o personagem quem promove as ações, gera o conflito e faz o enredo acontecer, enquanto o narrador só conta.

Mas os personagens em Dom Casmurro não agem por si sós: eles são manipulados pelo narrador, pois ele só descreve a ação que lhe convém em sua tentativa de provar a traição da esposa. Fato que acaba não sendo concretizado, haja vista que, como disse, a narrativa é parcial e ele mesmo confessa ter problemas de memória.

Tempo em Dom Casmurro

Em Dom Casmurro, é preciso saber lidar com a distinção entre o tempo da ação e o tempo da narrativa: 

  • Tempo de ação: quando a história acontece “de verdade” – Bento e Capitu crianças e adolescentes; e
  • Tempo de narração: Quando a história é contada – Bento já velho lembrando-se do passado. 

Essa observação é importante pois é por meio dela que podemos afirmar Dom Casmurro como uma narrativa psicológica, memorialista e, portanto, influenciada pelo estado emocional e subjetividade do narrador-personagem.

Afinal, Capitu traiu?

Apesar de ser uma obra à frente de seu tempo e com inúmeras camadas para análise, uma das grandes questões acerca do livro é: Capitu traiu Bentinho? 

Curiosamente, na época em que Dom Casmurro foi lançado, não houve questionamentos duvidando da traição. De acordo com o jornalista Otto Lara Resende, até o ano da morte de Machado de Assis, “nenhum crítico ousou negar o adultério”.

Os primeiros questionamentos sobre a possível mentira surgiram por volta dos anos 60, quando a ensaísta Helen Caldwell publicou “The Brazilian Othello of Machado de Assis” [O Otelo brasileiro de Machado de Assis, em tradução livre]  indicando que o discurso cínico de Dom Casmurro apontava que Capitu não havia traído o seu marido. 

A escritora Lygia Fagundes Telles, que foi roteirista do filme Capitu (1968), estudou a obra e disse em entrevista, em 2008, que acreditou na inocência de Capitu, assim como em sua culpa. “Eu já não sei mais. Minha última versão é essa, não sei. Acho que enfim suspendi o juízo. No começo, ela era uma santa; na segunda, um monstro. Agora, na velhice, eu não sei. Acho Dom Casmurro mais importante que Madame Bovary. Nele há a dúvida, enquanto a Bovary tem escrito na testa que é adúltera”, confessou para o Estado de S. Paulo.

Agora que você entende mais sobre a obra escrita por Machado de Assis, qual é a sua opinião? Afinal, é um caso de adultério ou de ciúmes?

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Créditos: resumo feito com base na aula “Dom Casmurro – Machado de Assis”, desenvolvido por Viviane Andrade.

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