O terceto consolidou-se ao longo dos séculos na tradição literária. Esse tipo poético apresenta versatilidade, podendo, por exemplo, surgir com rimas ou versos livres e harmonizar-se com outras estruturas estróficas, como os quartetos.
No contexto do vestibular, compreender o terceto é essencial, pois ele frequentemente aparece em questões de Literatura que exigem interpretação de textos poéticos, identificação de formas fixas e análise de recursos estilísticos.
Pensando nisso, o Estratégia Vestibulares preparou este artigo para te ajudar a entender melhor o assunto e ter sucesso nas provas. Confira!
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O que é terceto?
O terceto é uma estrofe composta por três versos que, juntos, formam um pensamento ou ideia completa.
Comparado a outras estrofes, como o dístico (dois versos) ou o quarteto (quatro versos), o terceto destaca-se pelo equilíbrio, sendo uma ponte entre a brevidade do dístico e a amplitude do quarteto.
Logo, esse é um tipo poético essencial no estudo das estrofes, e sua estrutura concisa permite que poetas expressem sentimentos, imagens ou reflexões de maneira harmoniosa, encadeada e concisa.
O terceto na história da literatura
Tercetos no Renascimento italiano
A origem do terceto está atrelada à Itália medieval, a partir da produção de Dante Alighieri, especialmente com a consolidação da “terza rima” presente na “Divina Comédia”. Isso, portanto, influenciou a poesia épica e lírica durante o Renascimento italiano.
Ainda no Renascimento, Petrarca usou tercetos nos sonetos italianos, enquanto Camões incorporou a estrutura em suas elegias e sonetos portugueses.
Tercetos na literatura modernista brasileira
No Brasil, o Modernismo trouxe releituras, com autores como Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade explorando tercetos em contextos líricos e sociais.
Um exemplo disso é o poema “A Máquina do Mundo”, de Drummond, escrito em tercetos. Essa produção foi inspirada na “máquina do mundo” de Camões (Os Lusíadas, Canto X), e questiona a visão renascentista de um universo ordenado. Essa ideia pode ser observada a seguir:
"E a máquina,
a máquina, que gira e gira
dentro de si mesma, e não pára nunca,
sem fim, sem fim."
Já no “Soneto de Fidelidade”, de Vinícius de Morais, o amor idealizado e eterno é substituído por um amor pragmático e transitório. Isso pode ser visto no terceto final do poema:
“Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
Portanto, a evolução do terceto na poesia ao longo da história mostra como sua estrutura se adapta a diferentes épocas e estilos, mantendo sua força expressiva.
Formas e contextos
O terceto nem sempre aparece como estrofe única, apresentando-se frequentemente em diferentes formas e contextos. Por exemplo, nos sonetos clássicos (poemas com 2 quartetos e 2 tercetos), os tercetos estão nas estrofes finais, associados aos quartetos que os antecedem.
Já no haicai, forma japonesa adaptada por poetas brasileiros, o poema é constituído de um único terceto, podendo seguir a métrica tradicional de 5-7-5 sílabas poéticas, como em:
“Arco-íris no céu.
Está sorrindo o menino
Que há pouco chorou.”
(Arco-íris, Helena Kolody)
Por que usar tercetos?
Apesar de parecer uma estrutura limitada, o terceto traz grandes possibilidades para a poesia. Por meio de tercetos, são criados textos curtos, diretos e impactantes, além de haver algumas vantagens no uso desse tipo poético. Confira a seguir.
Foco na brevidade
A poesia por si já é uma forma de dizer muito com pouco. Nesse sentido, o terceto é capaz de elevar essa característica à sua máxima expressão, como no haicai, usando poucas palavras para criar uma imagem ou ideia forte. O resultado disso é um poema de fácil memorização e que faz o leitor pensar além do que está escrito.
Apesar de a poesia em monóstico e dístico também compartilharem dessas características, o terceto consegue criar uma ideia completa, com início, meio e fim mais evidentes. Isso pode ser observado neste trecho do soneto “Alegres campos, verdes arvoredos” de Camões:
“Semearei em vós lembranças tristes,
regando-vos com lágrimas saudosas,
e nascerão saudades de meu bem.”
Assim, nota-se que a função principal do terceto é criar uma relação dinâmica entre os três versos, em que cada um contribui para um significado maior, seja por contraste, complemento ou clímax.
Fluidez no poema
Tercetos podem dar ritmo e fluidez. Isso ocorre, por exemplo, na terza rima, na qual as rimas se conectam entre os tercetos, criando um conjunto de tercetos entrelaçados.
Combinação de rimas
No terceto, as opções de rimas entre os versos são ampliadas. Assim, é possível fazer a primeira e a terceira linhas rimarem, deixando a do meio livre, por exemplo, explorar outras formas de rimas ou simplesmente construir versos brancos.
Tipos e variedades de tercetos
Os tercetos podem variar em estrutura e estilo. Os tercetos rimados seguem esquemas de rimas (como ABA, ABB ou ABC) e geralmente apresentam métrica regular, como o decassílabo. Um exemplo clássico é o de Dante Alighieri, em A Divina Comédia, escrito em tercetos encadeados (ABA, BCB, CDC), conhecidos como terza rima. Observe isso no trecho do “Inferno de Dante” (Canto I):
“No meio do caminho desta vida (A)
me vi perdido numa selva escura, (B)
solitário, sem sol e sem saída. (A)
Ah, como armar no ar uma figura (B)
desta selva selvagem, dura, forte, (C)
que, só de eu a pensar, me desfigura?” (B)
Já os tercetos brancos dispensam as rimas, mas mantêm a métrica, oferecendo liberdade ao poeta para explorar o ritmo interno das palavras, por meio da assonância e aliteração, por exemplo. Há também tercetos livres, comuns na poesia moderna, sem rima ou métrica fixa.
Aplicações dos tercetos
O terceto é versátil e aparece em diversos gêneros literários. Na poesia épica, como em Dante, ele narra grandes jornadas; na poesia dramática, pode intensificar conflitos emocionais; na lírica, expressa emoções intensas do eu lírico; e na poesia satírica, como em Gregório de Matos, condensa críticas mordazes.
Análise e interpretação de tercetos
Para analisar um terceto, muitas vezes é necessário considerar o contexto em que foi escrito. Por exemplo, um terceto de Camões reflete o ideal renascentista, enquanto um de Drummond pode carregar a angústia moderna.
Ademais, há elementos poéticos presentes que precisam ser analisados:
- Rima: qual é o esquema (ex.: ABA, ABB)?
- Métrica: quantas sílabas poéticas por verso?
- Recursos estilísticos: há metáforas, aliterações ou imagens marcantes?
Um exercício prático é interpretar este terceto presente no poema “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Camões:
“Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Esse é o segundo terceto do Soneto XI, um clássico presente nos vestibulares, que segue o modelo italiano (dois quartetos e dois tercetos). Vamos analisar brevemente seus elementos principais:
Contexto e tema
O poema como um todo reflete a visão renascentista do amor como uma força paradoxal, típica de Camões, que mescla idealização e sofrimento. Logo, observa-se neste terceto um questionamento da natureza contraditória do amor.
Recursos poéticos
- Métrica: decassílabo heroico, ou seja, um verso possui dez sílabas poéticas. Além disso, a sexta e a décima sílabas do verso são tônicas.
- Rima: o esquema CDC (favor/amizade/amor), com rimas ricas que criam harmonia sonora.
- Antítese: a ideia de “Amor” versus “amizade” destaca o paradoxo central.
- Interrogação retórica: engaja o leitor, sugerindo que a resposta está na reflexão além das linhas escritas, não havendo uma solução prática.
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Questão de vestibular sobre terceto
UNICAMP (2022)
“(…)
Não sabes, que a quem canta se lhe esquece
O mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e não chores dessa sorte.
Respondi com suspiros: Quando cresce
A muita saudade, o piedoso
Remédio é não cantar senão a morte.”
(Luís de Camões, 20 sonetos. Org. Sheila Hue. Campinas: Editora da Unicamp, 2018, p.113).
Considerando as características formais e o núcleo temático, é correto afirmar que o poema retoma o dito popular
A) “longe dos olhos, perto do coração”.
B) “mais vale cantar mal que chorar bem”.
C) “a cada canto seu Espírito Santo”.
D) “quem canta seus males espanta”.
Resposta:
O poema de Camões reflete a ideia de que cantar pode ajudar a esquecer as dificuldades, como expresso pela pergunta sobre a causa dos males do eu lírico. Assim, no primeiro terceto (versos 5 a 7), alguém sugere que ele cante para esquecer os males, mas o eu lírico discorda no terceto seguinte, trazendo uma visão melancólica, que contradiz o ditado “quem canta seus males espanta”.
Alternativa correta: “D”.
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