Contexto e Intertextualidade: elementos da interpretação dos textos

Contexto e Intertextualidade: elementos da interpretação dos textos

A interpretação de textos é uma habilidade imprescindível para a vida em sociedade, permite a compreensão das mensagens, sejam de cunho publicitário, informativo ou até mesmo em conversas do dia a dia. Nesse sentido, o contexto e intertextualidade de cada mensagem interferem na forma como o material será entendido pelos leitores. 

Nos vestibulares nacionais, especialmente nas provas do Enem, muitos enunciados trazem dois ou mais textos que estão inseridos em contextos diferentes, mas versam sobre o mesmo assunto, seja com ideias opostas ou semelhantes. O objetivo dos exames é avaliar a capacidade crítica do leitor, considerando os diferentes cenários que os artigos foram produzidos. 

Como é um formato de questão muito comum, é importante estudar o assunto e, além disso, treinar muito essa forma de interpretação por meio de exercícios das provas antigas. Neste artigo, além da base teórica sobre o tema, você encontra questões comentadas e resolvidas que cobram a relação contexto e intertextualidade, aproveite!

O que é contexto?

Cada texto pode ser classificado conforme sua estrutura e a finalidade da mensagem, geralmente são agrupados em gêneros textuais, que variam entre injuntivo, argumentativo, expositivo, descritivo, científico, dissertativo, narrativo, entre outras subdivisões.

Diante disso, a forma como o texto é apresentado já dá alguns aspectos importantes sobre sua estrutura. Textos encontrados em grandes outdoors e folhetos de lojas possuem, em suma, um objetivo publicitário e encontram-se neste contexto produtivo. 

No caso das redações construídas em provas de vestibulares, a maior parte dos exames recorre ao gênero argumentativo e/ou dissertativo, então toda a construção tem a intenção de argumentar, apresentar, discutir uma ideia em torno de um tema específico, geralmente fornecido pela banca examinadora.

Para além do objetivo da escrita, o contexto também leva em consideração o local em que o material será divulgado, o grupo de leitores que será atingido e a posição do escritor diante do assunto.

Por exemplo, o contexto didático direciona os textos para serem escritos com clareza, transmitindo e expondo informações, muitas vezes são adicionados argumentos de autoridade, o público leitor são estudantes de determinada área do conhecimento, e a intenção é transmitir o máximo de dados sobre o assunto. 

Outro ponto importante na construção do contexto de um artigo tem uma relação com o mundo externo que circunda o autor no momento da escrita. Textos escritos em um período de guerra, por exemplo, serão influenciados, direta ou indiretamente, por ela. Os materiais produzidos em períodos de oposição política podem ter um viés mais politizado ou neutro e cético, conforme aquele cenário político interfere no autor. 

Por isso, sempre que um texto é lido, as palavras estão influenciadas por muito mais do que a simples expressão do autor. As questões políticas, internacionais, econômicas, a intencionalidade da escrita e as emoções do autor podem interferir na construção do material, ainda que seja um artigo de extrema objetividade.

+ Veja também: Interpretação de textos teóricos e científicos: como fazer?

O que é intertextualidade?

O termo intertextualidade faz referência a “interação entre textos”, a forma como cada material pode ser relacionado à medida que são lidos e interpretados. O elo intertextual pode ser a temática dos artigos, a finalidade dos autores em suas produções, o contexto histórico, a escola literária, entre outros pontos de diferenciação ou similaridade entre os materiais observados.

As intertextualidades podem ser construídas de diferentes formas, seja apresentando os dois textos separadamente dentro de um mesmo enunciado, de maneira que o leitor terá que interpretar o ponto de intersecção entre os textos.

Há relações intertextuais em que os autores preferem inserir um trecho de um material integralmente, fazer uma construção de raciocínio em cima de um texto de outro escritor, escrever a mesma ideia em palavras diferentes ou, ainda, adicionar um ponto de humor ou ironia ao mencionar o escrito de outrem. Veja exemplos e explicações sucintas nos tópicos a seguir.

Citações

A citação é uma forma de intertextualidade em que o autor adiciona um trecho completo de outro material em seu texto. Geralmente esse excerto é referenciado ao escritor original, como é observado abaixo.

“O furor com que se busca neste momento compreender o que é a arte indígena talvez reflita um pouco dessa ausência no processo de nossa formação escolar/acadêmica. É como aquele trecho de uma famosa canção: ‘Eu estava aqui o tempo todo / Só você não viu’. A arte indígena não nasceu nos últimos 10, 20 anos. Ela esteve aqui o tempo todo, mas você não viu (?).

(Disponível em <https://www.itaucultural.org.br/manuais-escolares-e-arte-brasileira-feita-por-indigenas>)

Alusões

As alusões ocorrem quando há uma referência a um determinado texto como forma de exemplificar, ou ainda um recurso explicativo que permite relacionar dois raciocínios semelhantes e facilitar a compreensão do leitor. Por exemplo, a alusão entre os dois textos faz-se pela noção da lágrima do homem como algo falso, mentiroso:

“Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,
Quando a teus pés um homem terno e curvo
jurar amor; chorar pranto de sangue,
Não creias, não, mulher: ele te engana!
as lágrimas são gotas de mentira
E o juramento manto da perfídia”.

                                                     Joaquim Manoel de Macedo

“Teresa, se algum sujeito bancar o
sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredite não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA”

Manuel Bandeira

Paráfrase

As paráfrases acontecem quando o autor busca uma referência literária e escreve aquela ideia com suas próprias palavras, construindo as frases de maneira diferente, mas geralmente mantém-se a essência da ideia original. 

O ditado popular “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” pode ser parafraseado para uma expressão mais objetiva e direta, como “a insistência e a persistência resultam em alcançar o que se espera”. 

Paródia

Na relação intertextual do tipo paródia há, também, a reconstrução do texto original. Em geral, no entanto, as paródias tendem a subverter o sentido essencial da mensagem primitiva, com toques de ironia, humor ou adição de um ponto de vista oposto. 

O primeiro texto abaixo, escrito por Carlos Drummond de Andrade, foi parafraseado por Chico Buarque e as notas de humor e ironia que marcam essa paródia estão em termos como “safado”, “chato”, “errado”, “entortou”. Veja que, embora o pessimismo seja marcante em ambas as obras, há uma subversão do sentido para algo mais brusco e cético na segunda versão. 

“Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. […]”

(Carlos Drummond)

“Até o fim
Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim.
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim […]”

(Chico Buarque)

Questão sobre contexto e intertextualidade

Unicamp (2022)

Texto I

Questão sobre contexto e intertextualidade

(André Vallias, 2020. Disponível em: https://gramho.com/media/241201996 8340930281. Acessado em 20/06/2021.) 

Texto II

Questão sobre contexto e intertextualidade

(Hélio Oiticica, Bandeira-poema [Seja marginal, seja herói], 1968. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2638/bandeirapoema. Acessado em 24/08/2021.) 

Considere o diálogo intertextual entre os dois poemas e assinale a alternativa correta.

A) O texto II. parodia o texto I. ao deslocar o tema da conectividade no meio digital para o elogio da marginalidade como ato heroico.
B) O texto I. parafraseia o texto II. ao chamar atenção para a posição marginal imposta a quem resiste à pressão de viver conectado às redes.
C) O texto II. alude ao texto I. para reforçar a equivalência entre as condições de ficar “off-line” e ser “marginal” em cada contexto.
D) O texto I. parodia o texto II. para situar como heroico e transgressivo o ato de se desconectar das redes sociais no contexto atual.

Resposta: O autor constrói uma paródia do texto original (o texto II é o original, uma vez que foi produzido em 1968, enquanto o texto I foi elaborado em 2020). Essa paródia visa à demonstração de que temos uma forma de resistência ao não nos conectarmos no momento atual às redes sociais. É um processo crítico, inclusive, com relação ao uso das redes.

Alternativa correta: D. 

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