Filosofia pré-socrática e socrática: características, teorias e principais filósofos

Filosofia pré-socrática e socrática: características, teorias e principais filósofos

A filosofia pré-socrática e socrática foram construídas na Grécia Antiga, no início da ciência filosófica. Apesar de todos os avanços científicos, tecnológicos e intelectuais conhecidos atualmente, os saberes de Sócrates e seus antecessores são o fundamento de muitas das ideias divulgadas até os dias de hoje.

Como as teorias das filosofias pré-socrática e socrática são de grande importância na sociedade contemporânea, muitos vestibulares nacionais colocam o tema em questões de prova. Para te deixar inteirado no assunto, a Coruja desenvolveu o resumo abaixo, que traz informações sobre as principais características de cada uma delas, os principais filósofos e influências. Acompanhe agora!

O que é filosofia pré-socrática e socrática?

Filosofia pré-socrática

Os filósofos pré-socráticos constituem o primeiro período de desenvolvimento filosófico na Grécia Antiga. Durante cerca de dois anos, entre os séculos VII e V a.C., estudiosos como Tales, Anaxímenes, Anaximandro, Pitágoras, Heráclito e Parmênides desenvolveram teorias importantes sobre os seres e o mundo.

O termo “pré-socrático” indica que eles aparecem na história antes do surgimento das ideias inovadoras de Sócrates, o outro importante filósofo grego que será abordado mais adiante. 

A filosofia pré-socrática tinha como princípio a compreensão do mundo por meio da natureza. Nesse sentido, a palavra grega “physis” significa natureza e era considerada um campo de observação, um lugar em que poderiam ser encontradas a maior parte das respostas a respeito do mundo e seus fenômenos. 

Por mais simples que pareça essa linha de raciocínio, é importante ressaltar que esse foi um dos primeiros momentos na história da humanidade em que o homem parou de buscar a explicação para todos os eventos através de mitos. Agora, os indivíduos queriam entender padrões de comportamento da natureza que justificassem certos acontecimentos. 

Dessa forma, os deuses deixaram de ser a explicação única para a origem dos objetos e seres vivos. Agora, o universo (cosmo) deve ser compreendido a partir da razão e da lógica, que derivam do grego “lógos” — inicia-se, aqui, a cosmologia.

Cada um dos filósofos pré-socráticos dedicou-se a entender o princípio que originou todas as coisas, o elemento primordial da existência de todos os seres. Naquele momento, esse conceito era chamado de arkhé e ele é definido de formas diferentes para estudiosos, alguns deles propuseram que era a água, outros o ar, outros os átomos e até mesmo os números foram considerados. 

Um outro estudo surgia, em conjunto com o crescimento da cosmologia, houve uma parte da filosofia pré-socrática que buscava explicar os seres, algo que chamamos hoje de ontologia. Ciência muito abordada nos cursos de saúde e tecnologias humanas.

Filosofia socrática

A filosofia socrática, por assim dizer, são as ideias propostas por Sócrates, um dos mais importantes filósofos de toda a história dessa ciência. Suas teorias surgem quando a argumentação retórica estava em desenvolvimento na sociedade grega. 

Sócrates observava os cidadãos ao seu redor e passou a criticar seus comportamentos, a partir disso, construiu o método socrático para o encontro da verdade. Mas, afinal, qual era o contexto que tanto indignava o filósofo?

Durante um certo período, a Grécia Antiga estava repleta de sofistas, indivíduos que transmitiam informações para outras pessoas, a troco de dinheiro. Geralmente, os ouvintes tinham o intuito de ingressar na política.

Nesse momento, inclusive, os sofistas promoviam e participavam de debates públicos. Entretanto, um ponto importante observado na filosofia socrática foi que esses homens não tinham um compromisso com fatos e verdades para propagar a política e ideias novas. 

De certa forma, eles estavam preocupados em argumentar bem o suficiente para ganhar o debate, independentemente da veracidade das informações adicionadas em suas falas. Assim, podemos dizer que eles eram relativistas.

Diante disso, os defensores do sofismo afirmavam que a verdade é uma técnica, uma forma de manipular o conhecimento e convencer o interlocutor de suas ideias. Dentre as ferramentas argumentativas utilizadas estão o convencimento, a persuasão, o entendimento guiado que não deixa a pessoa raciocinar sozinha e, por fim, a informação deve ser racionalmente válida, ainda que não seja um fato. 

Por exemplo, se dissermos que o mar é feito de água e sal, depois afirmamos que um biscoito crocante é feito de água e sal, podemos induzir o interlocutor a pensar que o mar é um grande biscoito. Obviamente, essa frase é uma inverdade, apesar de fazer sentido racional.

Foi nesse cenário que surgiu a filosofia socrática. Sócrates era contra o relativismo e construiu métodos para convencer o ouvinte, de forma que ele fosse livre para raciocinar e criar suas concepções, até mesmo quando combatido com ideias opostas às suas crenças.

Diante disso, Sócrates propõe que o conhecimento sempre pode ser ampliado e que as ações devem ser condizentes com as informações de cada indivíduo.

Principais teóricos

Pré-socrático: Heráclito de Éfeso 

Para o filósofo Heráclito, que nasceu na cidade de Éfeso, na Grécia Antiga, o elemento primordial que dá origem ao universo é o fogo. Ele observava o movimento efetuado pelas chamadas e a transformação empregada pelo fogo e, ao mesmo tempo, considerava que o mundo estava em constante modificação e movimentação — nesse ponto, ele associou as ideias e chegou ao fogo como ponto principal do arché.

A mobilidade dos seres era algo que fascinava estudiosos de ontologia. Em suas teorias, ele afirmava que o mundo está repleto de modificações e não é previsível, está sempre em uma nova forma. Inclusive, a dualidade entre conceitos seria uma das características da vida: o calor como o contrário do frio, o preto oposto ao branco, a luz em oposição à escuridão, entre outros exemplos.

Pré-socrático: Parmênides

Diferentemente de Heráclito, o filósofo pré-socrático Parmênides de Eléia acreditava que o mundo não passa por constantes mudanças. Nesse caso, o universo e os seres se sustentam em uma essência fixa, sem os duelos apresentados pelo outro filósofo da ontologia.

Mas, obviamente, o estudioso percebia que aconteciam algumas transformações nas coisas e pessoas ao longo da história. Para explicar esse fenômeno, Parmênides defendia que essas alterações são superficiais e não alteram o contexto rígido que estabelece o universo.

É importante destacar que, embora os dois estudiosos não tenham se conhecido, suas ideias foram muito contrapostas durante muito tempo da história. Inclusive, enquanto Platão tinha uma inclinação mais próxima à concretude de Parmênides, Aristóteles tenta criar uma nova visão, que tentava “resolver” a diferença de visão proposta pelos pré socráticos.

Outros filósofos pré-socráticos

Tales de Mileto

Filósofo que considerou a água como elemento principal na construção do universo, seu jargão mais conhecido é simples e direto: “tudo é água”. Afinal, ele observava que a molécula de água está presente em todas as formas de vida e até mesmo no ar — o que justificava sua teoria.

Além de se dedicar à filosofia, Tales trabalhou com matemática e astronomia. Não há publicações próprias do filósofo, mas o famoso Teorema de Tales, a descoberta de alguns princípios da geometria dos triângulos, o estudo do eclipse solar e comportamentos do Nilo foram auxiliados por pensamentos e formulações próprias do cidadão de Mileto.

Anaximandro de Mileto

Outro importante estudioso nascido em Mileto foi Anaximandro, discípulo de Tales e criador do apeiron. Esse conceito seria uma matéria infinita responsável pela criação dos seres e objetos, como o elemento principal do universo.

Anaxímenes de Mileto 

Esse outro filósofo da cidade grega de Mileto acreditava que o nascimento do cosmos está relacionado com o ar. Uma famosa frase dele sintetiza a teoria: “Como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, assim um espírito e o ar mantêm unido também o mundo inteiro; espírito e ar significam a mesma coisa.”

Pitágoras

O famoso Pitágoras, do teorema dos triângulos retângulos, nasceu em Samos, Grécia. Como você pode imaginar, o estudioso tinha grande admiração pela matemática e dedicou grande parte de sua vida à essa ciência. Pelo contato íntimo com os valores, propôs que os números eram elementos principais para a construção do universo, uma vez que padrões numéricos aparecem em diversas partes da natureza e seres.

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Filosofia socrática: Sócrates e o Método Socrático

A filosofia socrática, que encerra o período anterior a ele (pré-socrático), é um marco para o estudo filosófico ocidental. Sócrates, que viveu aproximadamente 70 anos entre 470 e 499 a.C, é chamado de pai da filosofia. Isso não diminui a importância dos pensadores anteriores, mas demonstra como as ideias socráticas são relevantes para o pensamento atual.

Diante do desejo de encontrar a verdade, Sócrates propôs que existem verdades universais, que se encaixam para tudo e todos em qualquer lugar ou época. Perceba que o relativismo dos sofistas é colocado em cheque nesse conceito, já que eles propagavam verdades relativas, que se adaptam aos contextos.

Nos estudos socráticos, é necessário refletir sobre os temas, só assim a verdade universal pode ser acessada pelos humanos. Diante disso, Sócrates também introduz o conceito do autoconhecimento: para aprender mais, o indivíduo precisa reconhecer sua ignorância sobre os temas. Assim, suas convicções seriam questionadas e novas poderiam aparecer.

Nesse sentido, surge a famosa frase “Conhece-te a ti mesmo”, tão citada para se referir ao filósofo. Inclusive, diante de todo o conhecimento que alcançou e formulou durante toda sua vida, Sócrates proferiu a frase “Só sei que nada sei” porque, mesmo que tenha aprendido muitas coisas, haveria uma infinidade de informações que não foram acessadas por ele ainda.

Com base nessa teoria da ignorância, o filósofo desenvolveu o Método Socrático, que aborda uma forma de argumentação para induzir seu interlocutor a pensar e reconhecer sua própria ignorância, para só então poder aceitar novas concepções.

Na primeira etapa do Método Socrático, o interlocutor deve ser questionado até que perceba sua própria falta de conhecimento. Tudo isso deve ser feito por meio do diálogo e argumentação bem fundamentadas, na fase chamada de ironia.

Depois que o ouvinte já está “preparado”, inicia-se a segunda fase, chamada de maiêutica, que significa trazer à luz. Por meio de exemplos, Sócrates busca que seu interlocutor perceba pontos em comum em todos os cenários apresentados. Com isso, a pessoa pode acessar a verdade a partir de seu próprio raciocínio, sem estar cercada de ideias falsas e com um método correto.

Questões

(Enem 2016)

TEXTO I

Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).

TEXTO II

Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênuo e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?

PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado}.

Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das:

A) investigações do pensamento sistemád10a41a7252″ class=”textannotation”>tico.
B) preocupações do período mitológico.
C) discussões de base ontológica.
D) habilidades da retórica sofística.
E) verdades do mundo sensível.

Tanto /entity/heraclito”>Heráclito de Éfeso como Parmênides de Eleia são dois filósofos que se dedicaram ao estudo dos seres, a ontologia. O pensamento sistemático não era o alvo de seus estudos, embora utilizassem a lógica para propor suas ideias.

A retórica dos sofistas está mais próxima ao período socrático e traz mais debates sobre a verdade relativa e métodos de persuasão. O mundo sensível, sinalizado na alternativa E só aparece quando Platão introduz suas ideias na filosofia e, por fim, os pré socráticos estavam buscando novas explicações para o mundo, que não fosse parte da mitologia grega, o que inviabiliza a opção B também. 

Perceba, então, que a melhor resposta é a letra C.

+ Veja também: Caverna de Platão: o que é?

UNCISAL 2011

Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte sob a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar certos valores religiosos.

Considerando essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que sua filosofia

A) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população ateniense.
B) transmitia conhecimentos de natureza científica.
C) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade.
D) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo Platão.
E) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natureza mitológica.

Uma das principais características da filosofia socrática era o diálogo, por meio do qual o filósofo questionava o interlocutor, que deveria refletir sobre os temas de maneira ativa para reconhecer sua ignorância e acessar novas esferas do conhecimento.

É importante observar que Sócrates não transmitia as informações, mas encontrava maneiras de levar o ouvinte a construir o raciocínio sozinho, afinal, acreditava que a verdade universal está dentro de todos os indivíduos, mas encoberta por informações falsas. 

Por fim, o filósofo não se baseava nos mitos para sua argumentação. Assim, a alternativa que melhor responde ao enunciado é a letra D: “sua filosofia ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo Platão.” Afinal, grande parte dos feitos socráticos foram documentados por Platão, já que Sócrates não se dedicou a essa atividade.

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