Parnasianismo: o que foi, características, principais autores

Parnasianismo: o que foi, características, principais autores

Perfeição formal: essa é a característica mais marcante do parnasianismo. A escola literária surgiu no final do século XIX, e foi alvo de muitas críticas por focar principalmente nas questões estéticas durante a composição das obras.

Neste artigo, você pode entender melhor o que foi o parnasianismo e qual o contexto histórico em que o movimento está inserido. Conheça também os principais atributos da corrente, bem como os autores e obras mais famosos no Brasil.

Especialmente, se você vai prestar o Enem, acompanhe uma resolução de questões desse vestibular sobre o tema. Esse processo é importante para você compreender a forma como o assunto é cobrado e como criar um raciocínio para responder à prova. 

O que é parnasianismo?

O termo “parnasianismo” remete ao grego “Parnaso”, que se refere a um monte da mitologia grega, consagrado ao deus Apolo. No monte de Parnaso, os poetas faziam contemplações para criarem poesias mais inspiradoras — nesse ponto, os artistas do parnasianismo estavam em um “Parnaso Contemporâneo”.

O principal lema da escola literária foi a “arte pela arte”, em oposição aos movimentos artísticos naturalistas e realistas, que tentavam trazer o cotidiano e questões críticas de maneira mais explícita nos livros. 

Contexto histórico do surgimento do parnasianismo

O surgimento do parnasianismo ocorreu na França, no fim do século XIX. Na literatura, a época estava movimentada: o realismo, o naturalismo e alguns resquícios do romantismo estavam em curso.

Em termos sociais, os artistas parnasianos estavam imersos em diversas transformações, pois o mundo tornava-se cada vez mais cientificista. As ideias positivas de Auguste Comte, por exemplo, são contemporâneas à escola.

As mudanças e inovações não afetam apenas a movimentação comercial, mas abrangem toda a mentalidade social. As moradias, comportamentos e rotinas se alteraram radicalmente. Diante disso, todo o subjetivismo tão presente no romantismo passa a dar lugar para uma arte mais objetiva e descritiva, a exemplo das poesias parnasianas.

Características do parnasianismo

O parnasianismo é caracterizado, principalmente, pelo intenso rigor formal encontrado nos textos. Isso se demonstra, também, pela escrita de muitos sonetos parnasianos na época — essa é a estrutura preferida entre os autores. 

A admiração da Antiguidade Clássica se manifestou na citação de deuses, deusas e elementos mitológicos nos textos parnasianos. De certa forma, pode-se considerar que isso é uma transformação para a época, em contraposição ao caráter lúdico do simbolismo ou ao cristianismo, que ia contra todo paganismo (incluídas as mitologias gregas).

O vocabulário, em geral, segue a tendência da perfeição formal. Nesse sentido, muitas palavras raras aparecem nos textos, no sentido de embelezamento e maior rebuscamento da expressão — os poemas fogem de qualquer aproximação com a oralidade. Rimas ricas, métrica poemática, sonoridade e todas as possibilidades de aperfeiçoamento estético eram aproveitados.

De fato, os parnasianos se dedicaram à construção de textos puramente artísticos. A ideia era que os poemas fossem artes simplesmente por serem, sem a necessidade de intervenção nas questões sociais, críticas ou extrema expressão sentimental — nesse ponto, observa-se um afastamento do lirismo e subjetividade.

Muitos dos poetas desenvolveram textos descritivos, em que contavam as características e formas de um objeto, por exemplo um vaso, um copo ou algo que lhes chamasse a atenção. As descrições, por simples que pareçam, foram apreciadas pela objetividade de uma informação. Ou seja, quando se afirma que um objeto tem a cor azul, ele de fato terá.

Sobre isso, podemos dizer que os parnasianos lançaram mão de temas mais universais, com certa tendência ao materialismo. Muitos dos críticos enxergaram essa característica como uma superficialidade, ao ponto de considerar a poesia parnasiana fútil.

Parnasianismo no Brasil 

No Brasil, o parnasianismo também surge em oposição aos românticos e naturalistas. Por volta de 1870, alguns artistas se dedicaram à arte pela arte. Os mais famosos são a tríade parnasiana, composta por Alberto de Oliveira, Raimundo Correa e Olavo Bilac, como você acompanha nos tópicos a seguir.

Alberto de Oliveira

Antônio Mariano Alberto de Oliveira deixou uma trajetória incrível, que o levou ao título de Príncipe dos Poetas, em 1924. Todo esse prestígio tem razão: Alberto foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. 

Um dos textos mais conhecidos do artista descreve um vaso chinês com grande preciosidade, acompanhe:

Vaso chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

(Sonetos e poemas, 1886)

Raimundo Correa

Raimundo da Mota Azevedo Correia foi professor, formou-se em direito e ainda se dedicou à poesia parnasiana. Ele também participou da fundação da Academia Brasileira de Letras e compôs textos com temática mais sombria e pesada — no poema abaixo você pode observar uma abordagem mais pesarosa das paixões, como se o amor fosse um peso:

Desdéns
Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz… O sândalo se evola;
O ar cheiroso em redor se desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinas…

Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolência mórbida, espanhola…
Como eu sou infeliz! Como é sangrenta
Essa mão impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!

Essa mão de fidalga, fina e branca;
Essa mão, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!

(Versos e versões, 1887)

Olavo Bilac

Um dos nomes mais citados no parnasianismo brasileiro, Olavo Bilac participou da fundação da Academia Brasileira de Letras, era politicamente engajado e foi o escritor do Hino Nacional Brasileiro. 

Em alguns textos, o autor foge um pouco da temática parnasiana por abordar uma lírica amorosa, com maior tendência à subjetividade que seus contemporâneos. 

Em uma tarde de outono

Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono… Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto…

Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?

A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos…
Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado no clarão nascente do arrebol…

+ Veja também: Literatura brasileira: panorama histórico das principais escolas

Questão de parnasianismo no Enem

ENEM 2013

Mal secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

(CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasilia: Alhambra, 1995.)

Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que:

a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada.

b) o sofrimento intimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.

c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja.

d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.

e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.

O autor traz, no poema “Mal Secreto”, uma elucidação a respeito das aparências externas dos indivíduos. Demonstra que uma pessoa que se mostra feliz não é, necessariamente, alegre. Então, a melhor alternativa para responder ao enunciado é a letra A. 

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