Prosa regionalista: características, obras e autores

Prosa regionalista: características, obras e autores

A prosa regionalista reúne diversos textos e obras que contribuem para a valorização das culturas regionais do Brasil afora. É uma forma de escrita nascida no período romântico, momento em que a identidade nacional e o sentimento de reconhecimento de um brasileiro para com o outro estavam em desenvolvimento. 

Neste artigo, conheça as principais características dos textos literários conhecidos como prosa regionalista. Veja os temas mais abordados, a estrutura e forma de escrita, além de conhecer os autores e obras mais importantes desse estilo que se enquadra no Romantismo e Modernismo Brasileiro. Vamos lá?

O que é prosa regionalista?

Um texto em prosa, na literatura, é aquele que é formado pela união de vários parágrafos, que encadeiam-se entre si para construir uma conclusão, traçar uma argumentação coesa, descrever algo ou encadear os eventos de uma narrativa. 

Então, o termo “prosa regionalista” diz respeito a textos grandes, de estrutura paragrafal que focam em uma temática regional. Os autores escolhem determinada área do território brasileiro como cenário para a narrativa, destacando as características naturais, culturais, sociais e políticas que prevalecem naquela zona. 

Prosa regionalista romântica

Contexto histórico 

O romantismo regionalista surgiu no Segundo Reinado, em um momento de grande fragilidade política, principalmente pelo enfraquecimento da imagem de Dom Pedro II. Ao mesmo tempo, a necessidade da união nacional tomou o território, algo que foi construído desde o período pré-independência, com os romances indianistas. 

Características do regionalismo romântico

O Romantismo Brasileiro é marcado, principalmente na Primeira Geração, pelo nacionalismo literário. Ou seja, os autores tinham o desejo de expor o território e costumes brasileiros de forma a enaltecer essas características, para criar e/ou reforçar o sentimento nacionalista entre os leitores. 

Historicamente, a Literatura Brasileira sofre fortes influências das escolas literárias europeias e também da visão eurocêntrica, que muitas vezes é projetada sobre os personagens, afinal, essas crenças eram muito reforçadas durante o período colonial.

Entretanto, um destaque importante para a prosa regionalista é que esse tipo de texto teve pouca relação com essa relação etnocêntrica. Na verdade, os romances regionalistas focam em aspectos únicos e particulares das culturas brasileiras.

Lembre-se que o Brasil é um país extremamente etnocêntrico, concentrando diferentes grupos étnicos e influências externas. Isso faz com que as manifestações culturais sejam tão heterogêneas. Além de que fatores naturais e geográficos contribuem para diferentes estilos de vida, porque é um território com diversos tipos de clima, vegetação, fauna, flora, hidrografia, história demográfica, história política, entre outros elementos variados. 

Quando todas essas características e diversidades são descritas em um texto, eles são chamados de “cor local”. São necessários para a criação do cenário, mas, do ponto de vista nacionalista, contribuem para o estabelecimento das riquezas próprias de cada região do Brasil, conhecimento que pode ser disseminado por meio da literatura.

Ambiente rural e homem do campo

A maior parte dos romances regionalistas focam sua temática em um ambiente rural e seu cotidiano, em contraposição ao romance urbano que mostrava a realidade da alta sociedade burguesa carioca. 

Para acompanhar esse cenário campesino, os personagens são descritos e construídos com valores morais e éticos bem consolidados. Uma característica típica do romantismo é a idealização desses personagens, os “homens do campo”, que são tratados como pessoas fortes, resistentes, resilientes, responsáveis, corajosas.

Obras e autores da prosa regionalista romântica

Os autores mais relevantes para a prosa regionalista do Romantismo Brasileiro são:

  • José de Alencar (1829-1877), com as obras Til (1872), O Gaúcho (1870) e o Tronco do Ipê (1872); 
  •  Bernardo Guimarães (1825-1884), em A Escrava Isaura (1875), O Ermitão de Muquém (1869) e O Seminarista (1872); 
  • Franklin Távora (1842-1888), na obra O Seminarista (1872); e
  • Visconde de Taunay (1843-1899), principalmente com o romance Inocência (1872).

Prosa regionalista moderna

Contexto histórico

A prosa regionalista do Modernismo acontece na Segunda Geração do Modernismo, contemporâneo a diversos eventos históricos importantes no cenário nacional e internacional. Por exemplo, a Crise Econômica de 1929 deixou as questões econômicas fragilizadas em diferentes nações. No Brasil, a Era Vargas estava em seu início e as questões político-sociais em efervescência, o que levou muitos autores a relatarem essa realidade em seus textos.

Características do regionalismo moderno

Durante o século XX, quando a escola literária predominante era a Modernista, a prosa regionalista ganhou novo espaço na Literatura Brasileira. Novamente, os autores utilizaram as regiões brasileiras como pano de fundo para suas históricas.

Nesse caso, a idealização do romantismo é deixada de lado. Caracteristicamente, o movimento modernista é utilizado para críticas sociais, históricas, políticas e até literárias. Os autores abandonaram o preciosismo formal e estrutural para dar enfoque em temáticas sensíveis, que desagradaram ao público literário de sua época. 

Então, a prosa regionalista moderna é focada, principalmente, nos dilemas enfrentados em diferentes regiões do país. A maior parte dessas obras enfatiza as dificuldades encontradas no Nordeste, especialmente no Sertão, com a presença marcante do personagem principal sertanejo.

Aspectos como a falta de chuva, ressequidão da vegetação, falta de alimentos, dificuldade de moradia e migrações constantes são descritos com riqueza de detalhes. Inclusive, ocorre uma espécie de determinismo geográfico, de forma que as personalidades sertanejas são construídas como uma “extensão” do território seco e sofrido. 

Obras e autores da prosa regionalista moderna

No caso do Modernismo, os escritores mais importantes para a prosa regionalista são:

  • Graciliano Ramos (1892-1953), em Vidas Secas (1938);
  • José Lins do Rego (1901-1957), na obra Menino de Engenho (1932);
  • Érico Veríssimo (1905-1975), com a trilogia O Tempo e o Vento (1949-1961); e 
  • Raquel de Queiroz (1910-2003), principalmente com o livro O Quinze (1930)

Na chamada geração Pós-Modernista, alguns autores também desenvolveram prosas regionalistas, das quais se destaca o livro Grande Sertão: Veredas (1956), escrito por Guimarães Rosa, com importante representação da vida sertaneja e suas características. 

Questão sobre prosa regionalista

(Enem/2016)
Estas palavras ecoavam docemente pelos atentos ouvidos de Guaraciaba, e lhe ressoavam n’alma como um hino celestial. Ela sentia-se ao mesmo tempo enternecida e ufana por ouvir aquele altivo e indómito guerreiro pronunciar a seus pés palavras do mais submisso e mavioso amor, e respondeu-lhe cheia de emoção: — Itajiba, tuas falas são mais doces para minha alma que os favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi. Elas fazem-me palpitar o coração como a flor que estremece ao bafejo perfumado das brisas da manhã. Tu me amas, bem o sei, e o amor que te consagro também não é para ti nenhum segredo, embora meus lábios não o tenham revelado. A flor, mesmo nas trevas, se trai pelo seu perfume; a fonte do deserto, escondida entre os rochedos, se revela por seu murmúrio ao caminhante sequioso. Desde os primeiros momentos tu viste meu coração abrir-se para ti, como a flor do manacá aos primeiros raios do sol.

GUIMARÃES, B. O ermitão de Muquém. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.

O texto de Bernardo Guimarães é representativo da estética romântica. Entre as marcas textuais que evidenciam a filiação a esse movimento literário está em destaque a

a) referência a elementos da natureza local.  

b) exaltação de Itajiba como nobre guerreiro.  

c) cumplicidade entre o narrador e a paisagem.  

d) representação idealizada do cenário descrito.  

e) expressão da desilusão amorosa de Guaraciaba.

A estética romântica valoriza os elementos naturais que adquirem significação poética ao associar estudos do espírito do personagem à paisagem que o rodeia. As comparações presentes em “tuas falas são mais doces para minha alma que os favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi”ou a menção ao manacá e aos raios de sol exemplificam essa característica humana.

Alternativa correta: A

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