O consumismo se resume em atos de consumo exagerado, por uma série de motivos que vão desde demonstrar um certo estado socioeconômico, melhorar a autoestima, resolver problemas como tédio ou ansiedade até mesmo de forma compulsiva, como uma doença. Por outro lado, não deixa de ser uma forma de manter indústrias e comércios aquecidos, com alta quantidade de compra e venda.
O tema é um dos grandes problemas da humanidade, que se vê cada vez mais imersa em problemas como aquecimento global, aumento de pessoas com questões médicas relacionadas à saúde mental, além da fuga da realidade, ao construir uma imagem baseada apenas no que é consumido, de forma a manter um status social, de beleza e os demais padrões estabelecidos no capitalismo.
Fato é que há uma sociedade do consumo, com propagandas maciças, que buscam criar necessidades de compra, indústrias com produção em larga escala e baixo custo e estímulo competitivo que promove a troca rápida de tudo que é comprado, inclusive com piora na qualidade de produtos em alguns casos.
Por conta disso, o tema vem se tornando cada vez mais frequente nos vestibulares, com abordagens distintas, como você verá abaixo. Pontos como publicidade infantil, padrões de consumo, escravidão moderna e impactos no meio ambiente são alguns dos assuntos tratados pelos temas de redação citados no artigo.
Ainda que as bancas dos vestibulares por todo o Brasil, e até mesmo do Enem, sejam diferentes, os temas propostos podem ser adaptados para as características da prova que você pretende realizar. Portanto, fica o exercício de compreender alguns cenários em que o consumismo e suas relações com a sociedade atual podem aparecer como tema de redação.
Convidamos o professor de Redação e Filosofia do Estratégia Vestibulares, Fernando Andrade, para comentar os temas e ampliar ainda mais o repertório formado no artigo abaixo. Confira!
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O indivíduo como mercadoria de si mesmo (Simulado Uema 2021)
Em um dos simulados do Estratégia Vestibulares de preparação para a prova da Uema, o tema foi desenvolvido sob a perspectiva da autopromoção e do marketing pessoal para abordar o consumismo.
Dentre os textos de apoio utilizados foram trechos de uma reportagem da Revista Veja, do livro “A Nova Razão do Mundo”, de Pierre Dardot e Christian Laval e do livro “Vida para consumo – A transformação das pessoas em mercadoria”, de Zygmunt Bauman. Confira os três abaixo.
“Ipo de si mesma.” Assim, em tom laudatório e com a vaidade potencializada pela beleza e pelos 21,6 milhões de seguidores no Instagram, a italiana Chiara Ferragni, de 33 anos, anunciou um ineditismo: a possível abertura de sua imagem na bolsa de valores por meio de uma “oferta pública inicial”. Muita água há de rolar até que as ações de Chiara subam ou desçam no mercado financeiro da Itália. Mas uma pergunta se impõe: o que há de tão valoroso no trabalho dela que mereça ser negociado? (VEJA de 4 de novembro de 2020, edição nº 2711)
Trata-se, na verdade, de produzir uma relação do sujeito individual com ele mesmo que seja homóloga à relação do capital com ele mesmo ou, mais precisamente, uma relação do sujeito com ele mesmo como um ‘capital humano’ que deve crescer indefinidamente, isto é, um valor que deve valorizar-se cada vez mais”.
(Pierre Dardot e Christian Laval, A Nova Razão do Mundo, p. 31)
Numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fadas.
(Bauman, Z., Vida para consumo – A transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora)
O texto, de caráter dissertativo-argumentativo, deveria tratar sobre o assunto refletindo sobre os problemas causados pela prática e como as pessoas reagem sobre o tema, tanto como espectador, como também como “mercadoria”.
O papel do consumidor no combate à escravidão moderna (Facisb 2017)
A escravidão moderna também foi subtema para abordar o consumismo e como o estilo de vida pode destruir o planeta na prova da Facisb, edição 2017. Em um dos textos de apoio, “Escravidão moderna atinge 45,8 milhões de pessoas no mundo”, da Agência Brasil, há esse e outros dados sobre como o problema tem relevância mundial.
Há também trechos das matérias “Fiscalização flagra trabalho escravo e infantil em marca de roupas de luxo em SP”, da BBC, “Sociedade precisa assumir a responsabilidade pelo trabalho escravo”, do Metrópoles e “Trabalho escravo: a culpa é de quem?”, do portal Consumidor Moderno.
Todas as matérias trazem dados e expõe situações análogas à escravidão em setores como na indústria textil e na alimentícia, por exemplo. O texto dissertativo deveria trazer uma reflexão sobre o papel do consumidor a respeito do tema.
Publicidade infantil em questão no Brasil (Enem 2014)
O Enem tratou sobre o tema na década passada, abordando a publicidade infantil e as regras — que foram alteradas nos últimos anos — para fazê-la no Brasil. Uma resolução do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) sobre o assunto e pedidos de manifestação pelo órgão responsável, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), foram expostos em um trecho da matéria “A publicidade infantil deve ser proibida?”. da BBC
Além disso, foram utilizados como textos de apoio um infográfico, publicado pela Folha, sobre como é regulamentada a publicidade infantil pelo mundo e trecho do livro “A criança e o marketing: informações essenciais para proteger as crianças dos apelos do marketing infantil” (veja abaixo).
Vale relembrar que textos do Enem são dissertativos e devem apresentar proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.
“Precisamos preparar a criança, desde pequena, para receber as informações do mundo exterior, para compreender o que está por trás da divulgação de produtos. Só assim ela se tornará o consumidor do futuro, aquele capaz de saber o que, como e por que comprar, ciente de suas reais necessidades e consciente de suas responsabilidades consigo mesma e com o mundo”.
Resíduos sólidos e consumismo (Sprint Enem 2021)
Em um Sprint preparatório para o Enem 2021, o EV utilizou a pauta de geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil para falar também sobre consumismo. Foram utilizados dados comparativos entre a cultura japonesa e americana, ilustrada na pesquisa “O consumismo e a geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil”, que comparava o volume de resíduos com o nível de riqueza.
Além disso, havia cinco itens listados na matéria “O que é obsolência programada?”, da revista Mundo Estranho, destacando pontos que respondem a pergunta, além de um infográfico sobre a coleta de lixo no Brasil. Veja abaixo:
A proposta de intervenção deveria abordar o problema, e propor uma solução para amenizá-lo ou para resolvê-lo, sem ferir os direitos humanos e em um texto dissertativo-argumentativo.
Compro, logo existo (Unesp 2019)
Com clara referência ao filósofo francês René Descartes, a Unesp, na edição 2019, trouxe quatro textos de apoio e solicitou um texto dissertativo para seus candidatos, abordando a relação atual da sociedade com o consumismo.
Tirinhas de Quino e André Dahmer foram utilizadas dentre os textos de apoio, acompanhadas de um poema de José Paulo Paes e de um trecho do livro “A riqueza de poucos beneficia todos nós?”, de Zygmunt Bauman. Confira os quatro, abaixo.
Ao shopping center
Pelos teus círculos
vagamos sem rumo
nós almas penadas
do mundo do consumo.
De elevador ao céu
pela escada ao inferno:
os extremos se tocam
no castigo eterno.
Cada loja é um novo
prego em nossa cruz.
Por mais que compremos
estamos sempre nus
nós que por teus círculos
vagamos sem perdão
à espera (até quando?)
da Grande Liquidação.
(José Paulo Paes. Prosas seguidas de Odes mínimas, 1992.)
Nós somos consumidores agora, consumidores em primeiro lugar e acima de tudo. Para todas as dificuldades com que nos deparamos no caminho trilhado para nos afastar dos problemas e nos aproximar da satisfação, nós buscamos as soluções nas lojas. Do berço ao túmulo, somos educados e treinados a tratar as lojas como farmácias repletas de remédios para curar ou pelo menos mitigar todas as doenças e aflições de nossas vidas particulares e de nossas vidas em comum. Comprar por impulso e se livrar de bens que já não são atraentes, substituindo-os por outros mais vistosos, são nossas emoções mais estimulantes. Completude de consumidor significa completude na vida.
(Zygmunt Bauman. A riqueza de poucos beneficia todos nós?, 2015. Adaptado.)
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Consumismo e visão de mundo (Fuvest 2013)
A simples imagem de um shopping vultoso, acompanhado da frase “Aproveite o melhor que o mundo tem a oferecer com o Cartão de Crédito X.” foi o texto de apoio para a redação da segunda fase da Fuvest 2013 (veja a imagem abaixo).
A reprodução de uma propaganda real, mesmo que substituída pela letra X, traz a mensagem que a banca queria, projetar uma visão de mundo que prioriza os tais valores consumistas.
Era necessário, portanto, traçar uma relação entre imagem e texto para redigir um texto dissertativo em prosa que discutisse a mensagem gerada pelo anúncio.
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Expectativas e Padrões de Consumo no Brasil (UFGD 2016)
Um artigo de opinião sobre padrões de consumo foi solicitado na prova da UFGD 2016, que utilizou a música “Burguesinha”, de Seu Jorge, como um dos textos de apoio (veja mais abaixo).
Além disso, foram utilizados uma explicação sobre o que é o capitalismo e a sociedade de consumo, do Portal Mundo Educação, uma charge do cartunista DUKE (veja abaixo) e trechos do artigo “Brasileiro corta básico para manter supérfluo, diz estudo”, da revista Exame.
Burguesinha
Vai no cabeleireiro
No esteticista
Malha o dia inteiro
Vida de artista
Saca dinheiro
Vai de motorista
Com seu carro esporte
Vai zoar na pista
Final de semana
Na casa de praia
Só gastando grana
Na maior gandaia
Vai pra balada
Dança bate estaca
Com a sua tribo
Até de madrugada
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha
Só no filé
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha
Tem o que quer
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha
Do croissant
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha
Suquinho de maçã
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha, burguesinha
Burguesinha
Composição:SeuJorge/GabrielMoura/PretinhodaSerrinha.Disponívelem:<http://letras.mus.br/seu-jorge/1089741/>. Acessoem: 20out.2015.
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Sugestão do professor: amplie a visão sobre o consumismo
Fernando Andrade, professor de Redação e Filosofia do EV, destacou a relevância do tema, ressaltando que muitos filósofos contemporâneos afirmam que vivemos em uma “sociedade de consumo”, e que isso molda “nossos valores, nossa forma de viver e nossa visão de mundo”.
O professor também diz ser importante distinguir o que é consumo do que é consumismo. “O consumo está relacionado ao que é necessário para viver, como alimentação, habitação e outros direitos básicos. Apesar de essas necessidades serem relativas, elas estão ligadas ao que é essencial”.
“Já o consumismo vai além disso. Ele envolve o desejo de consumir mais do que o necessário, buscando satisfação não no objeto adquirido, mas no próprio processo de comprar. No consumismo, você é estimulado não a se alimentar, mas a experimentar produtos que se sucedem numa cadeia sem fim. A impressão que se tem é a de que se você não comprou o produto X depois do Z, você está perdendo algo”, contextualiza Fernando.
E aí vem a pergunta: por que somos tão consumistas? Fernando responde: “Porque essa é a base da nossa cadeia de produção atual. Se não houver consumismo, não há aumento do PIB; sem aumento do PIB, há desemprego e crise. Esse é um ciclo difícil de romper. Todos nós nascemos dentro dessa lógica consumista porque vivemos na sociedade do século 21”.
Por conta disso, o professor afirma que é importante não ter uma visão moralista ou até mesmo restrita sobre o que é a tal sociedade do consumo e o consumismo em si. “Julgar alguém apenas por ser “consumista” pode ser limitador e não permite aprofundar o tema na redação. O fundamental é reconhecer que vivemos em uma sociedade de consumo, e isso molda a forma como enxergamos o mundo”.
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Desafio de análise dos temas de redação
Fernando propõe um desafio, que consiste em classificar os temas citados acima em três núcleos temáticos. Ao considerá-los, tente relacionar os temas dados acima com a classificação abaixo, feita pelo professor.
- A) Consumismo e relação entre sociedade e individualidade: este núcleo trata de como o consumismo molda a forma como as pessoas percebem o mundo, suas identidades e as relações sociais;
- B) Consumismo econômico e ambiental: este núcleo aborda o consumo sob a perspectiva econômica, sua importância e ao mesmo tempo os impactos ambientais causados pelo consumo excessivo e irresponsável, como o esgotamento de recursos e a geração de resíduos; e
- C) Consumismo e ética: este núcleo envolve discussões sobre as implicações morais e éticas do consumismo, como a exploração de trabalhadores, publicidade dirigida a públicos vulneráveis e a mercantilização da própria pessoa.
Resposta:
A) Consumismo e relação entre sociedade e individualidade: “Compro, logo existo?”; “Consumismo e visão de mundo”; e “O indivíduo como mercadoria de si mesmo”;
B) Consumismo e questão ambiental: “Resíduos sólidos e consumismo”; “Expectativas e Padrões de Consumo no Brasil”; e
C) Consumismo e ética: “Publicidade infantil em questão no Brasil”; e “O papel do consumidor no combate à escravidão moderna”.
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