Não Olhe Para Cima: como usar o filme no repertório sociocultural da redação?

Não Olhe Para Cima: como usar o filme no repertório sociocultural da redação?

Conheça seis temáticas apresentadas no longa que vão te ajudar a defender seus argumentos no vestibular

Lançado pela plataforma de streaming Netflix, em dezembro de 2021, a comédia é protagonizada pelos ganhadores do Oscar Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence. E ainda traz no elenco gigantes do cinema norte americano, como Meryl Streep e Jonah Hill, além da cantora Ariana Grande. 

E por falar na maior premiação do cinema, o longa-metragem é um dos indicados ao Oscar 2022. Concorrendo a quatro estatuetas, inclusive na principal categoria, Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Edição.

Ficou interessado? Acompanhe a Coruja nesse texto que vai te ajudar a usar o filme Não Olhe Para Cima como repertório sociocultural na sua redação.

ATENÇÃO: esse texto contém spoilers.

O que é repertório sociocultural da redação?

O repertório sociocultural é o uso de conceitos e conhecimentos de campos variados para defender um argumento. Na proposta de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ele faz parte da competência dois de avaliação.

Nessa competência, a banca avalia se o candidato conseguiu “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.” 

Um bom repertório sociocultural pode trazer referências a acontecimentos históricos, conceitos filosóficos, citações a obras do cinema e da música, literatura e muito mais.

Não Olhe Para Cima: o filme

O filme, dirigido por Adam McKay, gira em torno da descoberta da estudante de PhD Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) de um cometa a caminho da Terra. 

O choque com o nosso planeta é previsto para acontecer em seis meses e causar o fim da vida por aqui. Preocupados, Kate e seu professor e orientador Randall Mindy (Leonardo DiCaprio), procuram as autoridades para que alguma medida seja tomada para evitar a extinção da raça humana.

Eles são levados a Jane Orlean (Meryl Streep), presidente dos Estados Unidos, que demonstra estar mais preocupada com sua campanha de reeleição e não dá a devida importância à ameaça. Quando decidem procurar a imprensa, a notícia também não é tratada com a seriedade necessária.

Agora que você já está por dentro do enredo, vamos conhecer os pontos da história que podem render bons repertórios para diversos temas de propostas de redação.

Negacionismo

Esse, sem dúvidas, foi o tema que mais se popularizou sobre o filme. Em tempos de luta contra a pandemia de uma doença nova e negacionismo contra fatos cientificamente comprovados, a abordagem do longa-metragem se mostrou muito atual.

Com a ameaça de colisão do cometa sendo ignorada pelo governo e não tratada de forma séria pela mídia, o assunto se espalha nas redes sociais. Quando o cometa passa a poder ser visto sem a ajuda de equipamentos, a campanha “Olhe para cima” surge na internet com a intenção de chamar a atenção do mundo para o perigo.

Indo contra a ciência, a presidente, que busca recuperar sua reputação para reeleição, cria uma campanha contrária chamada “Não olhe para cima”, negando a gravidade da colisão e a existência do cometa.

Em propostas de redação como a da Fuvest em 2020, “O papel da ciência no mundo contemporâneo”, o negacionismo pode ser explorado, por exemplo, como um fator que traga a necessidade da valorização e disseminação do trabalho científico.

Presidente Jane Orlean em campanha negacionista. // Foto: Divulgação/Netflix

Fake news

Tema da redação do vestibular Unicamp 2018, com a proposta “Pós-verdade e suas consequências”, as fake news surgem em Não Olhe Para Cima no mesmo contexto do negacionismo sobre a ciência.

Isso porque, ainda durante os eventos de campanha da presidente Orlean, as fake news aparecem para descredibilizar o movimento pró-ciência, que confia na colisão do cometa com o planeta Terra.

Além disso, a cientista Dibiasky, que é mais incisiva ao tentar alertar a população sobre o cometa, precisa enfrentar mentiras a seu respeito nas redes sociais. Kate, inclusive, apesar de ter descoberto o asteroide e ser uma (quase) doutora no assunto, é expulsa da casa de seus pais que foram convencidos por fake news negacionistas.

Para fechar a sucessão de consequências das fake news que caem sobre a cientista, ela deixa seus estudos na universidade e passa a trabalhar como caixa em uma loja. Já deu para entender como a situação se encaixa no tema, né, Estrategista?

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Aquecimento global

Como no filme nem o governo e nem a mídia se interessam em moldar a opinião pública sobre a gravidade da situação envolvendo o evento de extinção que o cometa está prestes a causar, uma analogia interessante a ser feita com a realidade é como isso se assemelha ao aquecimento global.

Embora o assunto seja de extrema importância para todos os habitantes da Terra, as pessoas continuam vivendo sua vida normalmente sem muita preocupação com a situação e a destruição de alguns lugares do planeta com o aumento do nível do mar e as temperaturas extremas.

Esse já é um tema presente em questões de vestibulares, e o enredo do longa pode ser usado em propostas de redação como as do Enem 2001 e 2008. “Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?” e “Como preservar a floresta Amazônica: suspender imediatamente o desmatamento; dar incentivo financeiros a proprietários que deixarem de desmatar; ou aumentar a fiscalização e aplicar multas a quem desmatar?”, respectivamente.

Se seu foco é o vestibular da Unesp, saiba que o assunto também já apareceu por lá, no exame de 2009, com o tema da redação “O homem: inimigo do planeta?”.

Mídia sensacionalista

Brie Evantee (Cate Blanchett) e Jack Bremmer (Tyler Perry) são a dupla de jornalistas que recebe os cientistas em seu programa de entrevistas e responsáveis por mais um desserviço à ciência.

Durante a entrevista com os astrônomos, a notícia sobre a colisão do meteoro com o planeta Terra nunca é levada a sério. O jornalista faz piadas com a descoberta, o que faz com que Kate Dibiasky deixe o estúdio durante a transmissão ao vivo, enquanto Brie flerta com o personagem de DiCaprio, Randall Mindy.

Por fim, os apresentadores do programa preferem focar no término do relacionamento da cantora Riley Bina (Ariana Grande), em detrimento da revelação do evento de extinção feito pelos cientistas.

Em vestibulares que proponham um debate sobre o jornalismo e a televisão em um contexto brasileiro, a situação do filme pode servir de repertório ao falar do compromisso com a cidadania que as concessões públicas cobram das emissoras de televisão no acordo, e que nem sempre é cumprido, conforme mostra a sátira.

Uma crítica ao jornalismo mais próximo ao entretenimento do que ao interesse público também pode ser feita usando Não Olhe Para Cima, por exemplo.

Programa sensacionalista de Brie Evantee e Jack Bremmer. // Foto: Divulgação/Netflix

Machismo

Se você achou que lidar com negacionistas e fake news foi só o que a personagem de Jennifer Lawrence fez em Não Olhe Para Cima, se enganou. A astrônoma Kate Dibiasky ainda precisa aguentar seu ex-namorado relevando assuntos íntimos sobre ela em um programa de TV.

E como se fosse pouco, apesar de ter descoberto o cometa, e, inclusive, ele ser batizado com seu sobrenome — como é comum na ciência — quem leva o maior crédito e é envolvido mais nos assuntos sobre a colisão é seu orientador Randall Mindy.

Outro personagem que pode ser associado ao assunto é o astronauta escolhido para simbolizar o heroísmo estadunidense na missão que pretende desviar a  rota do corpo celeste, Benedict Drask (Ron Perlman). Considerado “de outra geração”, ele tem passe livre para ofender minorias na maioria de suas falas.

Precisa sustentar seus argumentos quando o assunto é machismo, seja na ciência ou na opinião pública? Essa é uma obra que também poderá te ajudar.

Capitalismo e grandes corporações

No vestibular 2017, a Unesp pediu que seus candidatos refletissem e escrevessem sobre o tema “A riqueza de poucos beneficia a sociedade inteira?” na proposta de redação. Já a Fuvest, em 2015, propôs “Camarotização da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia”.

O filme de Adam McKay também poderia contribuir para o seu repertório dentro dessas temáticas, já que apresenta o personagem Peter (Mark Rylance), um empresário do ramo da tecnologia que influencia constantemente nas decisões da presidente sobre a situação.

Além disso, quando o governo finalmente se convence em preparar uma missão espacial para desviar a rota do cometa, Peter novamente interfere e usa sua empresa para tentar pousar o corpo celeste na Terra e extrair o minério que existe em seu interior. 

Nesse ponto, fica claro que a sua vontade de lucrar com toda a situação é muito maior do que a de salvar o único planeta conhecido para a raça humana habitar, tanto que, graças à sua missão exploratória, o cometa se choca com a Terra e destrói a vida por aqui.

Peter dando ordens à Jane. // Foto: Divulgação/Netflix

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