Ao enunciar uma frase ou construir um texto, o locutor busca transmitir uma mensagem, seja para comover o leitor, promover um produto ou serviço, explicar uma situação, informar um acontecimento, abrir um canal de comunicação ou outros objetivos. Nesse sentido, as funções da linguagem são uma classificação para os usos da língua em diferentes contextos.
Neste resumo, você entenderá melhor cada uma das seis funções da linguagem: metalinguística, fática, emotiva, apelativa, poética e referencial. Conheça os usos principais de cada uma delas e, ainda, observe exemplos. Vamos lá?
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O que são as funções da linguagem?
As funções da linguagem são elementos da comunicação que permitem enfatizar um elemento da mensagem. Por exemplo, você pode construir o texto com mais foco nos sentimentos do locutor, ou focar na forma como o interlocutor receberá a mensagem.
Podemos definir, então, as funções da linguagem versam sobre a forma como a língua se rende à intenção comunicativa. O bom uso dessa ferramenta permite que os conteúdos tenham mais significado e cumpram o objetivo da comunicação.
Veja, na lista abaixo, os elementos que podem ganhar atenção durante a escrita de uma obra em língua portuguesa.
- Emissor: aquele que pronuncia ou escreve a fala. Pode ser real ou fictício. Em geral, nos textos poéticos, é representado pelo eu-lírico;
- Código: é o instrumento utilizado para construir a mensagem. No caso deste artigo, são as letras do alfabeto, em língua portuguesa. Outros exemplos seriam as libras, o braile, as línguas estrangeiras, etc;
- Contexto: é o panorama que sustenta a história. Geralmente, traz as informações do porquê, como, onde e com quem aconteceu algo ou alguma coisa;
- Receptor: o interlocutor da conversa, o leitor da obra. O receptor é o indivíduo que receberá a mensagem que está sendo transmitida;
- Canal: representa o meio de comunicação. Pode ser o celular, uma carta, um rádio, a televisão, ou a nossa voz (nas situações cotidianas);
- Mensagem: por fim, o último elemento da linguagem é a mensagem. O conteúdo que está sendo expresso e transmitido.
Quais são as funções da linguagem?
Função emotiva
A função da linguagem do tipo emotiva ou expressiva é aquela que foca no emissor. Veja que há uma semelhança nas palavras — utilize isto como uma memorização: função emotiva ↔ emissor.
Geralmente, os textos que utilizam tal ferramenta apresentam caráter subjetivo: o autor fala muito de si, dos seus sentimentos e valores. Assim, a primeira pessoa do singular está muito presente e marcante no decorrer da obra.
São utilizadas ferramentas linguísticas que expressam as emoções do emissor, como interjeições, exclamações. Além disso, a escolha das palavras traz muito conteúdo sentimental, com temas amorosos, melancólicos, saudosistas, entre outros.
O juízo de valor pode aparecer nos textos com função emotiva, inclusive a partir da opinião do locutor. Então, adjetivos e advérbios opinativos são muito explorados.
Perceba que essa função da linguagem não é nada objetiva e direta, e não possui cunho argumentativo. Por isso, quando for escrever a redação do Enem, que é dissertativo-argumentativa, não dê enfoque ao emissor — isso deixaria seu texto muito opinativo e sem credibilidade!
Exemplo de função emotiva
Ao longo da explicação, é notável que a função emotiva é essencial para a escrita de poemas e textos mais sentimentais. De fato, esse tipo de linguagem é muito expressiva para os poetas. Acompanhe no exemplo abaixo, um poema que explora o foco no emissor.
(Fragmento de texto retirado de uma questão do Enem 2012)
Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.
CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
Função metalinguística
A próxima função da linguagem é a metalinguística em que, como supõe o nome, o enfoque é na própria língua. Isso significa que o código é o tema central da mensagem.
Em geral, a metalinguagem aparece quando um autor resolve escrever sobre o fazer literário, sobre os usos da língua ou explicar algumas construções textuais. Aliás, este resumo que você está lendo utiliza a função metalinguística: é um artigo inteiro falando sobre o próprio código de escrita.
De maneira semelhante, o dicionário é um dos maiores exemplos da função metalinguística. Afinal, ele é um conjunto de palavras que explicam o significado de outras.
É importante destacar que o mesmo processo pode ser observado quando uma música cita outra música, um programa de televisão discorre sobre outro, ou situações semelhantes.
Exemplo de função metalinguística
Veja, agora, um exemplo de função metalinguística e como ele apareceu em uma questão do Enem 2020.
O resgate de um barco com 25 imigrantes africanos na costa do Maranhão reacendeu a discussão sobre o quanto o Brasil estaria, cada vez mais, atraindo pessoas de outros países em busca de refúgio ou de melhores condições de vida.
O país recebeu 33.866 pedidos de refúgio de imigrantes no ano de 2017, segundo um relatório recente do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça.
A definição clássica de refugiado é “o imigrante que sofre de fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas”.
No entanto, a Acnur, agência da ONU para refugiados, já tem um entendimento ampliado do que pode configurar um refugiado, incorporando também as características de uma crise humanitária: fome generalizada, ausência de acesso a medicamentos e serviços básicos e perda de renda.
Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 22 maio 2018 (adaptado).
Nesse texto, a função metalinguística tem papel fundamental, pois revela que o direito de o imigrante ser tratado como refugiado no Brasil depende do(a)
a) número de pedidos de refúgio já registrados no relatório do Conare.
b) compreensão que o Ministério da Justiça tem da palavra “refugiado”.
c) crise humanitária que se abate sobre os países mais pobres do mundo.
d) profundidade da crise econômica pela qual passam determinados países.
e) autorização da Acnur, que gerencia a distribuição de refugiados pelos países.
No decorrer do texto, é abordado o significado da palavra refugiado: o código utilizado para explicar o próprio código — aqui encontramos a função metalinguística.
Para além de identificar a função, o enunciado e alternativas propõem que se discuta a importância dela no texto. Pode-se entender que o jornalista busca debater quais são as compreensões das instituições a respeito dos refugiados, comparando uma visão mais objetiva ou mais completa, que considere a crise humanitária em questão. Assim, a alternativa correta é a letra B.
Veja também: Texto jornalístico: entenda esse gênero textual
Função referencial
A função referencial da linguagem é aquela que foca no contexto para fornecer informações. Em geral, responde às perguntas do porquê, como, onde, com quem, quando e de que forma uma situação aconteceu.
A principal característica desta função é a objetividade. Os textos referenciais trazem conteúdo direto, claro, sem resquícios de opinião do emissor, com linguagem impessoal, denotativa e que se afasta do fazer literário. Por essas características, é uma construção explorada por jornalistas que estão noticiando fatos em jornais, revistas ou reportagens.
Você deve utilizar a função referencial na escrita de um texto argumentativo — assim, você não utiliza sua opinião para persuadir o leitor, mas lança mão da informação, dos dados e estatísticas que façam o receptor refletir sobre o conteúdo!
Veja também: Denotação e Conotação: qual a diferença?
Exemplo de função referencial
(Fragmento de texto retirado de questão do Enem 2018)
Deficientes visuais já podem ir a algumas salas de cinema e teatros para curtir, em maior intensidade, as atrações em cartaz. Quem ajuda na tarefa é o aplicativo Whatscine, recém-chegado ao Brasil e disponível para os sistemas operacionais iOS (Apple) ou Android (Google). Ao ser conectado à rede wi-fi de cinemas e teatros, o app sincroniza um áudio que descreve o que ocorre na tela ou no palco com o espetáculo em andamento: o usuário, então, pode ouvir a narração em seu celular.
Disponível em: http//veja.abril.com.br.
Acesso em: 25 jun. 2014 (adaptado).
Função apelativa
A função apelativa, também conhecida como função conativa, é aquela que dá mais enfoque ao receptor. Nesse sentido, é a principal ferramenta utilizada para chamar a atenção dos interlocutores e convencê-los de alguma ação.
Em geral, publicidades e propagandas empregam essa função com muita frequência para instigar a compra de um produto ou serviço. Campanhas de conscientização, receitas de bolo e manuais de instrução também são adeptas da função apelativa.
Os textos são construídos com verbos no imperativo, que expressam ordens e mandados. Se dirigem ao interlocutor ou leitor diretamente, com conjugação na segunda pessoa do singular (tu) ou, mais comumente, com o “você”. Em alguns contextos, ainda, utiliza-se o vocativo para chamar a atenção do receptor.
Exemplo de função apelativa
“Vote consciente! Não desperdice a chance de mudar o futuro do país!”
“Água pode acabar. Economize!”
“Separe 3 ovos, duas xícaras de farinha de trigo, 3 colheres de açúcar e meia xícara de cacau em pó. Misture bem no liquidificador, unte uma forma e despeje a massa sobre ela. Coloque no forno pré aquecido a 180º e deixe assar por 45 minutos.”
Função fática
O foco no canal é a principal característica da função fática da linguagem. Neste caso, busca-se a abertura da comunicação, o caminho para o início da conversa. Em outros casos, também pode ser utilizada para concluir o diálogo.
A conversa de elevador é o exemplo mais clássico dessa função: introduz-se um tema aleatório para testar a possível comunicação. Caso o vizinho responda, abre-se o diálogo, que logo se encerra com um “bom dia”, fechando novamente o canal.
Exemplo de função fática
Na música abaixo, de Léo Magalhães, o emissor busca incessantemente abrir o canal entre uma interlocutora.
“Alô, alô, alô, fala comigo
Alô, alô, te esquecer não consigo
Alô, alô, alô, não vai doer não
Alô, diz um alô coração (alô)
Diz pra mim qual a razão, por que não quer me atender
Se fez uma declaração, se apaixonar por você
Não é justo nunca mais, quero ouvir a sua voz
Juro que não ligo mais, se disser que não pensa em nós”
Função poética
A última função da linguagem é a poética, que ajusta o foco em direção ao conteúdo da mensagem e a forma como ela é elaborada.
Nesse caso, a estética aparece como um elemento importante — além de ter sentido, a mensagem deve ser bonita e de boa sonoridade. Elementos criativos são empregados, as figuras de linguagem, rimas, metrificação, organização dos versos em estrofes e outros exemplos.
Uma característica relevante são as múltiplas interpretações que a linguagem pode assumir quando focamos na mensagem. Assim, é uma função artística, que permite a criatividade do autor, com liberdade de expressão e linguagem conotativa.
Veja também: Soneto: o que é, exemplos e estrutura
Exemplo de função poética
Perceba que, como prediz o nome, a função poética merece destaque na construção de poemas, como você observa abaixo.
(Enem-2009)
Canção do vento e da minha vida
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
O vento varria os sonhos
E varria as amizades…
O vento varria as mulheres…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos…
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.
Predomina no texto a função da linguagem:
a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação.
b) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões.
c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação.
d) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais.
e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto.
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