Como usar filmes e séries na redação?

Como usar filmes e séries na redação?

Sabe aquela obra audiovisual que retrata questões sociais super importantes? Ela pode te ajudar na redação; veja como

Uma boa redação dissertativa-argumentativa é composta pela defesa de uma tese que leve em consideração elementos culturais que fazem alusão ao tema debatido no texto. Esse repertório sociocultural de argumentação precisa ser construído ao longo da preparação para o vestibular, e obras como filmes e séries podem ajudar a debater as mais variadas temáticas.

No texto de hoje, o Portal Estratégia Vestibulares explica o que é um repertório sociocultural e te conta como usar filmes e séries na redação, mirando a busca da sonhada nota mil. Vem com a gente!

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O que é repertório sociocultural da redação?

O repertório sociocultural é o uso de conceitos e conhecimentos de campos variados para defender um argumento. Na proposta de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por exemplo, ele faz parte da competência dois de avaliação.

Nessa competência, a banca avalia se o candidato conseguiu “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.” 

Um bom repertório sociocultural pode trazer referências a acontecimentos históricos, conceitos filosóficos, citações a obras do cinema e da música, literatura e muito mais.

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Veja como usar filmes e séries na redação

Antes de usar filmes e séries na sua redação, é muito importante saber em quais partes do texto você deve citá-los. No caso das redações do gênero dissertativo-argumentativo, que é cobrado tanto no Enem quanto na maioria dos vestibulares, as obras audiovisuais podem ser usadas na introdução e no desenvolvimento.

Ao usar um filme ou uma série em qualquer parte do texto, é necessário fazer uma breve contextualização sobre a obra, de forma a abranger apenas os detalhes que farão o leitor entender a conexão com o tema da redação. Outra dica para evitar excessos, é não exagerar na quantidade de produtos audiovisuais mencionados só para mostrar à banca que você possui um grande repertório sociocultural.

Durante a introdução da redação, as obras mencionadas devem mostrar uma ligação com o tema proposto pela banca e estabelecer uma conexão com a tese que será defendida no seu texto. Veja no exemplo:

“No filme estadunidense ‘Joker’, estrelado por Joaquin Phoenix, é retratado a vida de Arthur Fleck, um homem que, em virtude de sua doença mental, é esquecido e discriminado pela sociedade, acarretando, inclusive, piora no seu quadro clínico. Assim como na obra cinematográfica abordada, observa-se que, na conjuntura brasileira contemporânea, devido a conceitos preconceituosos perpetuados ao longo da história humana, há um estigma relacionado aos transtornos mentais, uma vez que os indivíduos que sofrem dessas condições são marginalizados. Ademais, é preciso salientar, ainda, que a sociedade atual carece de informações a respeito de tal assunto, o que gera um estranhamento em torno da questão.”

Texto de Adrielly Clara Enriques, redação nota mil no Enem 2020, com o tema “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira“

Já no desenvolvimento da redação, você usará os filmes e séries para reafirmar sua argumentação, trazendo as obras para o texto em forma de analogias e exemplos. Nesta parte, ainda é necessário contextualizar o trecho mencionado, e é importante conectá-lo com as ideias apresentadas na introdução. Confira:

Ademais, a carência de representatividade nos veículos midiáticos fomenta o preconceito contra pessoas com distúrbios psicológicos. Nesse sentido, a série de televisão da emissora HBO, “Euphoria”, mostra as dificuldades de conviver com Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), ilustrado pela protagonista Rue, que possui a doença. A série é um exemplo de representação desse grupo, nas artes, falando sobre a doença de maneira responsável. Contudo, ainda é pouca a representatividade desses indivíduos em livros, filmes e séries, que quando possuem um papel, muitas vezes, são personagens secundários e não há um aprofundamento de sua história. Desse modo, esse processo agrava os esteriótipos contra essas pessoas e afeta sua autoestima, pois eles não se sentem representados.

Texto de Isabella Gadelha, redação nota mil no Enem 2020, com o tema “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”.

Redações nota mil que usaram filmes e séries 

Confira exemplos de redações que alcançaram a nota máxima no Enem usando filmes ou séries como repertório:

Ana Alice Teixeira Freire – Enem 2022

Para escrever sobre o tema “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”, a participante usou a série documental “Guerras do Brasil.doc” como repertório. Na obra, são contadas diferentes versões, de diferentes perspectivas e povos, sobre os principais conflitos armados da história do Brasil.

Na minissérie documental “Guerras do Brasil.doc”, presente na plataforma Netflix, o professor indígena Ailton Krenak propõe a reflexão acerca da dizimação dos povos originários a partir de perspectivas atuais, em que é retratada a história sob o olhar do esquecimento e da violência contra esses povos, a despeito da sua riqueza cultural e produtiva. Essas formas de desvalorização das comunidades tradicionais do Brasil são respaldadas, dentre outros fatores, pela invisibilização histórica desses atores sociais no ensino básico e pelo preconceito que rege o senso comum. Dessa forma, é imprescindível a intervenção sociogovernamental, a fim de superar os desafios mencionados. 

Com efeito, cabe destacar a exclusão generalizada dos aspectos históricos e culturais referentes às etnias tradicionais dentro do sistema educacional como fator proeminente à perpetuação da desvalorização do grupo em questão, uma vez que, sendo a escola um dos núcleos de integração social e informacional, a carência de estímulos ao conhecimento dos povos nativos provoca desconhecimento, e consequentemente, o cidadão comum não tem base da informação acerca da indispensabilidade das comunidades originárias à formação do corpo social brasileiro. Nesse sentido, os versos “Nossos índios em algumas poucas memórias/Os de fora nos livros das nossas escolas”, da banda cearense Selvagens à Procura da Lei, ilustram uma construção do ensino escolar pautada no esquecimento dessa minoria, de maneira a ampliar sua desvalorização. Assim, é constatável a estreita relação entre as lacunas na educação e o fraco reconhecimento dos povos e das comunidades tradicionais. 

Ademais, vale ressaltar o preconceito cultivado no ideário popular como empecilho à importância atribuída aos povos nativos, posto que, em decorrência da baixa representatividade em ambientes escolares, como mencionado anteriormente, e do baixo respaldo cultural, marcado por estereótipos limitantes e etnocentristas, isto é, que supõem superioridade de uma etnia em relação à outra, há formação de estigmas sobre pessoas dessas minorias e, por conseguinte, não há o reconhecimento de suas ricas peculiaridade. Seguindo essa linha de raciocínio, é possível estabelecer conexões entre a atualidade e a carta ao rei de Portugal escrita por Pero Vaz de Caminha, no momento da chegada dos portugueses ao Brasil, de forma que a perspectiva do navegador em relação ao indígena, permeada de suposta inocência, maleabilidade e passividade, pouco alterou-se na concepção atual, evidenciando a prepotência e a altivez que são implicações da ignorância e do silenciamento das fontes tradicionais. Então, são necessárias medidas de mitigação dessa problemática para o alcance do bem estar da sociedade. 

Em suma, entende-se o paralelo entre a desvalorização dos povos nativos e o apagamento histórico destes, além do preconceito sobre este grupo, de modo a urgir atenuação do cenário exposto. Para isso, cabe ao Ministério da Educação a ampliação do ensino histórico e cultural do acervo tradicional, por meio da reformulação das bases de assuntos abordados em sala de aula e da contratação de profissionais dessas etnias, com o objetivo de pluralizar as narrativas e evitar a exclusão provocada por apenas uma história, em consonância com o livro da escritora angolana Chimamanda Ngozie Adichie “O perigo da história única”. Também, é papel dos veículos culturais, como a mídia, a representação ampla e fidedigna desses grupos, com o fito de minorar a visão estigmatizada que foi construída. Com isso, o extermínio simbólico denunciado por Krenak será minguado.

Daniel Gomes – Enem 2018 

Na edição 2018 do Enem, o tema escolhido para a redação foi “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. O produto audiovisual que o participante resolveu tratar foi o filme “Cine Holliúdy”. Na trama, o protagonista busca tornar seu cinema mais atrativo, expondo uma tela em praça pública.

O filme ‘’Cine Hollywood’’ [sic] narra a chegada da primeira sala de cinema na cidade de Crato, interior do Ceará. Na obra, os moradores do até então vilarejo nordestino têm suas vidas modificadas pela modernidade que, naquele contexto, se traduzia na exibição de obras cinematográficas. De maneira análoga à história fictícia, a questão da democratização do acesso ao cinema, no Brasil, ainda enfrenta problemas no que diz respeito à exclusão da parcela socialmente vulnerável da sociedade. Assim, é lícito afirmar que a postura do Estado em relação à cultura e a negligência de parte das empresas que trabalham com a ‘’sétima arte’’ contribuem para a perpetuação desse cenário negativo.

Em primeiro plano, evidencia-se, por parte do Estado, a ausência de políticas públicas suficientemente efetivas para democratizar o acesso ao cinema no país. Essa lógica é comprovada pelo papel passivo que o Ministério da Cultura exerce na administração do país. Instituído para ser um órgão que promova a aproximação de brasileiros a bens culturais, tal ministério ignora ações que poderiam, potencialmente, fomentar o contato de classes pouco privilegiadas ao mundo dos filmes, como a distribuição de ingressos em instituições públicas de ensino básico e passeios escolares a salas de cinema. Desse modo, o Governo atua como agente perpetuador do processo de exclusão da população mais pobre a esse tipo de entretenimento. Logo, é substancial a mudança desse quadro.

Outrossim, é imperativo pontuar que a negligência de empresas do setor – como produtoras, distribuidoras de filmes e cinemas – também colabora para a dificuldade em democratizar o acesso ao cinema no Brasil. Isso decorre, principalmente, da postura capitalista de grande parte do empresariado desse segmento, que prioriza os ganhos financeiros em detrimento do impacto cultural que o cinema pode exercer sobre uma comunidade. Nesse sentido, há, de fato, uma visão elitista advinda dos donos de salas de exibição, que muitas vezes precificam ingressos com valores acima do que classes [sic] populares podem pagar. Consequentemente, a população de baixa renda fica impedida de frequentar esses espaços.

É necessário, portanto, que medidas sejam tomadas para facilitar o acesso democrático ao cinema no país. Posto isso, o Ministério da Cultura deve, por meio de um amplo debate entre Estado, sociedade civil, Agência Nacional de Cinema (ANCINE) e profissionais da área, lançar um Plano Nacional de Democratização ao Cinema no Brasil, a fim de fazer com que o maior número possível de brasileiros possa desfrutar do universo dos filmes. Tal plano deverá focar, principalmente, em destinar certo percentual de ingressos para pessoas de baixa renda e estudantes de escolas públicas. Ademais, o Governo Federal deve também, mediante oferecimento de incentivos fiscais, incentivar os cinemas a reduzirem o custo de seus ingressos. Dessa maneira, a situação vivenciada em ‘’Cine Hollywood’’ poderá ser visualizada na realidade de mais brasileiros.”

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