The Boys: como usar a série no repertório sociocultural da redação?
Divulgação Amazon Prime Vídeo

The Boys: como usar a série no repertório sociocultural da redação?

Conheça as temáticas apresentadas ao longo das três temporadas da série e saiba como usá-las para defender seus argumentos na redação

Derivada de uma série de histórias em quadrinhos (HQs), The Boys já era um sucesso antes de ganhar as telas. A história retrata como seriam “super-heróis da vida real”. A premissa dos autores Garth Ennis e Darick Robertson é que humanos com poderes especiais não são, necessariamente, os mocinhos o tempo todo.

Lançada em 2019, atualmente a série conta com três temporadas, disponíveis no serviço de streaming Amazon Prime Vídeo, e apesar de se passar em um cenário ficcional, trata de muitos temas pertinentes que podem aparecer no seu vestibular. Confira:

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Atenção: esse texto contém spoilers.

O que é repertório sociocultural da redação?

O repertório sociocultural é o uso de conceitos e conhecimentos de campos variados para defender um argumento. Na proposta de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ele faz parte da competência dois de avaliação.

Nessa competência, a banca avalia se o candidato conseguiu “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.” 

Um bom repertório sociocultural pode trazer referências a acontecimentos históricos, conceitos filosóficos, citações a obras do cinema e da música, literatura e muito mais.

The Boys: a série

A produção retrata um mundo em que os super heróis são reais e, em sua grande maioria, não são tão heróis assim. A trama gira em torno de um grupo de supers, que podem ser entendidos como uma paródia dos Vingadores ou da Liga da Justiça, que usam de sua fama, influência e poderes especiais para fazerem o que quiserem e não sofrerem consequência alguma.

Do outro lado da história, estão os “The Boys”, um grupo de pessoas sem poderes especiais, mas que de alguma maneira já tiveram problemas com os supers e buscam não só vingança, mas combater a boa reputação que os super humanos carregam. 

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Agora que você já está por dentro do enredo, vamos conhecer os pontos da história que podem render bons repertórios para diversos temas de propostas de redação.

Interferência abusiva dos pais

Apesar de ser uma série sobre super-heróis, The Boys sabe como trabalhar o controle abusivo que pode acontecer em relações de pais e filhos, servindo como ótima citação para redações que abordem o tema. A produção concentra o assunto na personagem Annie January (Erin Moriarty), ou Luz Estrela, seu nome artístico.

Desde criança, Luz Estrela foi forçada por sua mãe a se tornar uma super-heroína. Ela era levada a concursos de crianças com super habilidades, dos quais não se sentia bem em participar.

Com o passar dos anos, Luz Estrela frequentava eventos de jovens super-heróis critãos e começou a enfrentar criminosos locais de sua cidade. Mais tarde, ela acabou fazendo parte dos Sete, o grupo que reúne os supers mais poderosos do mundo, tudo por influência de sua mãe.

Uma vez nos Sete e depois de conhecer os The Boys, a super-heroína ainda descobre que ela, assim como todos os outros super humanos, não nasceram com poderes especiais, mas tiveram a autorização de seus pais para participar de experiências, quando ainda eram bebês, para desenvolver as habilidades.

Violência sexual

De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, relativos à violência letal e sexual contra meninas e mulheres no Brasil, uma menina ou mulher foi vítima de estupro a cada 10 minutos, em 2021, considerando apenas os casos que chegaram até as autoridades policiais.

Mesmo ambientada nos Estados Unidos, The Boys demonstra que a realidade das mulheres estadunidenses não é muito diferente e se coloca como repertório sociocultural para redações como a do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015: “A Persistência da Violência contra a Mulher na Sociedade Brasileira”; e a da Universidade Estadual de Londrina (UEL) 2018: “Violência contra a mulher”. Entenda como a série aborda o tema:

Depois de ser escolhida para entrar para o grupo dos Sete, Luz Estrela conhece Profundo (Chace Crawford), membro da equipe e seu ídolo de infância. Logo na primeira interação a sós com a novata, o “herói” a assedia sexualmente e sugere que a permanência dela nos Sete depende dela ter relações sexuais com ele.

Outro exemplo que a série traz, envolve o Capitão Pátria (Antony Starr) e Becca Butcher (Shantel VanSanten). Recém contratada pela Vought-American — empresa que agencia os super-heróis —, Becca vira interesse do líder dos Sete, o super mais poderoso do mundo e completamente sem limites.

A funcionária, que é casada com Billy Butcher (Karl Urban), que viria se tornar o líder dos The Boys, recusa as investidas do Capitão Pátria. Entretanto, ele não desiste e a estupra. Becca acaba grávida como resultado do abuso, e a Vought a esconde para evitar escândalos, enquanto seu marido pensa que ela foi morta.

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Doping no esporte

Trem Bala (Jesse T. Usher) é mais um dos membros dos Sete, o herói que é velocista, tenta manter seu recorde de homem mais rápido do mundo com doping. A droga usada por ele é o Composto V, a mesma substância aplicada nas crianças que crescem como super-heróis.

Com o uso do Composto V, Trem Bala tem suas habilidades potencializadas e acaba viciado, sendo responsável, inclusive, por mortes por causa da substância.

O cenário que o personagem vive pode ser usado para debater muito mais do que a questão do doping, englobando também o vício em substâncias químicas, as consequências disso e a pressão para manter-se em destaque na profissão.

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Religião e homofobia

No universo da série, existem vários super humanos além do grupo principal formado pelos Sete, e eles estão inseridos nos mais diversos setores da sociedade. Um exemplo é Ezequiel (Shaun Benson), pastor de uma grande igreja cristã, que prega ideologias reacionárias e faz discursos homofobicos condenando a homossexualidade.

A grande ironia, no entanto, é que o próprio Ezequiel é homossexual e tem relações com outros homens, especialmente quando frequenta uma boate destinada a super humanos. 

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Neonazismo e supremacia branca

Na segunda temporada da série, a “super heroína” Tempesta (Aya Cash) é trazida para fazer parte da equipe dos Sete. O que a audiência ainda não sabe, até aquele momento, é que ela havia nascido em 1919 e era membro do Partido Nazista Alemão.

Por ter sido casada com o cientista Frederick Vought, Tempesta foi a primeira pessoa a receber o Composto V e ganhar poderes especiais, entre eles, a habilidade de não envelhecer.

Nos dias atuais, onde se passa a série, Tempesta — que mudou de nome algumas vezes depois da Segunda Guerra Mundial — é conhecida por sua personalidade “sincerona” e faz sucesso com isso nas redes sociais. Ela aproveita de sua fama nos Sete para propagar sua ideologia preconceituosa de supremacia branca.

“As pessoas adoram o que eu tenho a dizer! Elas acreditam nisso! Elas simplesmente não gostam da palavra ‘nazista’. Isso é tudo”, é uma das falas de Tempesta na série.

Pensando em temas de redação como a da Universidade de São Paulo (USP) 2019, “A importância do passado para a compreensão do presente”, a série demonstra a importância de conhecer os pilares de ideologias de intolerância, como o nazismo, para não se deixar levar por discursos parecidos mas emitidos de formas diferentes.

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Tempesta / Reprodução – Amazon Prime Vídeo

Xenofobia

Nas edições 2012 e 2015, o Enem e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) fizeram os candidatos refletirem sobre imigração e por que não, xenofobia, com os temas “O movimento imigratório para o Brasil no século XXI” e “Trabalho, imigração e diversidade no Brasil”, respectivamente. E essa é mais uma temática que a produção do Prime Vídeo pode contribuir com seu texto.

Uma das estratégias de negócio da Vought durante a segunda temporada da série, é convencer o Congresso dos Estados Unidos a incluir seus super-heróis no exército do país. Para isso, eles desviam o Composto V, que dá poderes às pessoas, para grupos terroristas criarem “super-vilões”.

As ações sigilosas da empresa, endossadas pelos discursos de Tempesta, geram uma onda de reações xenofóbicas dos cidadãos estadunidenses, em especial contra estrangeiros de países do Oriente Médio. 

É nesse cenário que Tommy Peterson (Charley Koontz), um fã da super-heroína nazista, assassina Kuldeep Singh (Kris Siddiqi), um atendente de uma loja de conveniência que tem descendência árabe, acusando-o de ser um super-terrorista.

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Racismo

Apesar de o tema se relacionar com os dois tópicos anteriores, The Boys traz o racismo contra pessoas negras, especificamente, na sua terceira temporada. Falcão Azul (Nick Wechsler) é um novo personagem branco que faz o policiamento em bairros majoritariamente negros.

São várias as denúncias de abordagens truculentas e até de agressões a moradores inocentes contra o Falcão Azul. Coincidentemente, o local em que o super atua é o bairro natal de Trem Bala, que apesar de ser negro, não dá muita importantancia às consequências do racismo.

Tentando associar sua imagem às causas negras, Trem Bala realiza um evento em seu bairro e convida Falcão Azul para se desculpar com a comunidade. Mesmo não estando sob nenhum risco, Falcão ataca os moradores durante o evento, uma das vítimas da agressão é o irmão mais velho de Trem Bala, que acaba paralítico.

Tema muito presente no cotidiano brasileiro, o racismo contra pessoas negras se expressa em dados do Fórum Brasileiro de Segurança 2020, que demonstram exatamente o que a série sugere: 78,9% dos mortos por intervenções policiais naquele ano foram negros. Já nos presídios, as pessoas negras eram 66,7% dos encarcerados em 2019.

Não à toa o tema já apareceu em diversas propostas de redação, como a da Universidade Estadual Paulista (Unesp) 2015, “O legado da escravidão e o preconceito contra negros no Brasil”; e Universidade Estadual de Ponta Grosso (UEPG) 2019, “Qual é a pior consequência do racismo estrutural no Brasil contemporâneo?”.

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Pink Money

Quando Capitão Pátria descobre que a Rainha Maeve (Dominique McElligott), com quem ele já teve um relacionamento, é bissexual e namora uma mulher longe dos holofotes de fama dos super-heróis, o líder dos Sete força sua companheira de equipe a assumir sua sexualidade publicamente.

A Vought vê nesta uma grande oportunidade de lucrar ainda mais com a imagem de Maeve, aproximando-a do público LGBTQIA+. A partir disso, a super-heroína é forçada a viver estereótipos sobre sua sexualidade.

No vestibular 2013, a USP propôs um debate sobre “Consumismo” na sua prova de redação, mais uma abordagem em que The Boys pode ser utilizado, principalmente ao analisar as estratégias publicitárias que as empresas empregam por trás de seus produtos e personagens.

O que é Pink Money?
Em tradução literal, a expressão significa “dinheiro rosa”, e refere-se ao poder de compra da comunidade LGBTQIA+ e as estratégias de marketing para atingi-los.

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Maeve e sua namorada Elena / Reprodução – Amazon Prime Vídeo

Impunidade 

Os exemplos de impunidade são vários ao longo das três temporadas da série, mas, em ordem cronológica, destacamos os quatro principais para que você possa entender a maneira que The Boys aborda o tema.

Capitão Pátria, é, contraditoriamente, o maior exemplo de impunidade da série. Por ser o “super-herói” mais poderoso do planeta, ele é pouco confrontado, tendo seus crimes encobertos pela Vought, entre eles, o estupro de Becca.

Logo no início da primeira temporada, Trem Bala está com seus poderes de velocidade aumentados devido ao uso de Composto V e atropela e mata Robin Ward (Jess Salgueiro). Sob a influência da empresa que gere as carreiras dos Sete, o super não sofre nenhuma consequência, e, inclusive, a corporação oferece dinheiro a Hughie Campbell (Jack Quaid), namorado da vítima, para não falar na imprensa sobre o assunto.

O assédio de Profundo contra Luz Estrela só não passa totalmente impune porque a própria super-heroína decide expor o episódio publicamente. Apenas por esse motivo é que a Vought afasta o super dos Sete.

E se você acha que para por aí, está errado. Após a revelação pública da identidade nazista de Tempesta, a Vought divulga que ela foi levada a uma prisão, entretanto, na terceira temporada, vemos que na verdade Tempesta está nos aposentos de Capitão Pátia no prédio da empresa, impune.

Já imaginou em como usar a séria associada ao tema da redação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) 2016? A instituição trouxe a questão “A adoção da pena de morte pode contribuir para a redução do número de crimes hediondos no Brasil?”. 

The Boys traz ótimas exemplos de como a pena de morte não seria uma saída, visto que nem todos os criminosos são punidos, muito por sua classe social, poderes sobre humanos, neste caso, e influência na opinião pública. 

Capitão Pátria, personagem que parodia Capitão América e Super Homem / Reprodução – Amazon Prime Vídeo

Grandes corporações

Se você chegou até aqui, já entendeu a importância desse tópico, né? Na intenção de capitalizar ao máxima a imagem dos super-heróis, a empresa responsável pelos Sete faz experiências com bebês, encobre crimes, cria super-vilões, tolera nazistas e molda a opinião pública o quanto pode para garantir seus interesses.

Torre da Vought, uma referência à Torre dos Vingadores / Reprodução – Amazon Prime Vídeo

Corrupção política

Um ano antes da proposta anterior, no vestibular 2015, a Unifesp trouxe para a redação o tema “O financiamento de campanhas eleitorais por empresas deve ser proibido?”. Pensou que não ia dar pra argumentar com The Boys? Dá uma olhada então:

Victoria Neuman (Claudia Doumit) é uma congressista apresentada na segunda temporada. Ela se impõe como antagonista da Vought e uma das principais vozes na exposição da aplicação do Composto V em bebês. Além disso, Neuman se torna responsável pela agência do governo que monitora a conduta dos super-humanos.

O que ela esconde é que também possui poderes especiais. E mesmo com o discurso contrário, se alia a Capitão Pátria ajudando-o em seus interesses pessoais enquanto ele a ajuda a acender em sua carreira política.

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