Conflito em prosa: o que é e como se estrutura dentro da narrativa

Conflito em prosa: o que é e como se estrutura dentro da narrativa

Você sabe como o conflito se desenvolve na prosa? Entenda seus diferentes tipos e sua importância dentro da narrativa

O conflito é o motor da narrativa em prosa. É ele que movimenta a história, provoca transformações nas personagens e mantém o interesse do leitor ao longo do enredo. Seja em romances, contos ou novelas, sempre há uma tensão central que impulsiona a trama e dá sentido às ações narradas.

Compreender como o conflito é construído e desenvolvido é essencial para analisar textos literários com profundidade, algo frequentemente cobrado nos vestibulares e no Enem. 

Para entender como o conflito organiza a história, quais são seus principais tipos e como ele funciona como eixo fundamental das análises literárias, continue lendo este artigo que a Coruja preparou. 

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Conceito de conflito em prosa

O conflito em prosa é a oposição de forças que sustenta e movimenta a narrativa. Essas forças podem surgir de diversas formas: choque de personagens, confronto entre valores e ideias, dilemas internos, disputas sociais, desejos incompatíveis, ou seja, qualquer tensão que coloque o enredo em movimento.

É essa oposição que funciona como motor da história. Sem conflito, a narrativa permanece estática; com ele, surge a necessidade de ação, mudança ou enfrentamento, o que impulsiona o desenvolvimento dos acontecimentos. O conflito cria perguntas fundamentais para o leitor: O que vai acontecer? Como o personagem vai reagir? Que consequências isso trará?

Dentro da estrutura narrativa, é importante distinguir dois momentos essenciais:

  • A situação inicial, em que o enredo estabelece o cenário, as personagens e um estado de equilíbrio; e
  • O momento da complicação, quando o conflito é introduzido e rompe esse equilíbrio, abrindo caminho para a trama se desenvolver.

A partir dessa ruptura, a narrativa passa a acompanhar os desdobramentos do conflito, que só se resolve (ou não) no desfecho da história.

Tipos de conflito

O conflito pode assumir diferentes formas dentro da narrativa, e reconhecer esses tipos ajuda o leitor a compreender com mais profundidade o percurso das personagens e o sentido da obra. De modo geral, dividimos os conflitos em internos e externos, cada um contribuindo de maneira distinta para o desenvolvimento do enredo.

Conflito Interno (personagem X si mesmo)

O conflito interno ocorre dentro da mente do protagonista. Envolve dilemas morais, dúvidas, desejos contraditórios, crises existenciais ou questões de identidade. Nesses casos, a tensão principal não vem de fora, mas das próprias emoções, percepções e angústias da personagem.

É um tipo de conflito comum em autores que tratam de temas mais psicológicos, como Clarice Lispector, cujas narrativas exploram intensamente o mundo interior e os impasses subjetivos das protagonistas.

Conflito Externo

O conflito externo aparece quando a personagem enfrenta forças que estão fora dela: outras pessoas, a sociedade, o meio ambiente ou circunstâncias adversas. Dentro desse grupo, há três tipos principais:

  • Personagem X Personagem: o embate entre duas personagens com objetivos, valores ou interesses opostos. É a forma clássica de antagonismo e costuma estruturar muitos romances e contos.
  • Personagem X Sociedade: a tensão surge da luta da personagem contra normas sociais, instituições, leis, injustiças ou preconceitos. Esse tipo de conflito é muito presente em narrativas que criticam estruturas de poder e desigualdade.
  • Personagem X Natureza: aqui, o protagonista enfrenta forças naturais, como seca, tempestades, fome, intempéries, animais. Esse conflito aparece, por exemplo, em obras que retratam a luta pela sobrevivência, como nos relatos marcantes de adversidade em Graciliano Ramos.

O ciclo do conflito na estrutura do enredo

O conflito organiza a narrativa em etapas. Cria um movimento natural que vai do equilíbrio inicial ao desfecho final. Compreender esse ciclo é indispensável para interpretar a estrutura do enredo e identificar de que modo a história se constrói em torno das tensões vividas pelas personagens. Veja quais são os momentos cruciais que organizam a história:

Complicação

A complicação é o momento em que o conflito principal se apresenta, rompendo o estado de equilíbrio que marcava a situação inicial. É aqui que surge o problema central da narrativa, aquilo que “desarruma” o mundo das personagens e dá início ao movimento da história. Sem essa ruptura, não há enredo.

Desenvolvimento (ação ascendente)

Depois de introduzido o conflito, a narrativa entra em sua fase de desenvolvimento. Nessa etapa, vemos a progressão e a escalada da tensão, conforme as personagens tentam resolver o impasse — e frequentemente falham, ampliando ainda mais o drama. Cada tentativa, obstáculo ou descoberta contribui para elevar a intensidade do conflito e aproximar o leitor do momento decisivo.

Clímax

O clímax é o ápice do conflito, o ponto de maior tensão da narrativa. Aqui, as forças em oposição se chocam de forma definitiva, seja em um confronto direto, uma decisão crucial ou uma revelação transformadora. É o momento mais intenso da história e aquele que determina sua direção final.

Desfecho

Após o clímax, a narrativa entra no desfecho, etapa em que o conflito é resolvido (ou não). A resolução pode ser positiva, negativa, ambígua ou até mesmo frustrada, dependendo da proposta do autor. É essa última fase que fecha o arco narrativo e dá ao leitor a sensação de conclusão, ainda que provisória.

Conflitos Principais e Secundários

Dentro de uma narrativa, nem toda tensão possui o mesmo peso na construção do enredo. É importante distinguir entre o conflito principal, que impulsiona a trama central, e os conflitos secundários, que enriquecem a história com novas nuances, aprofundam personagens e ampliam a complexidade temática.

Conflito Principal

O conflito principal é a linha de tensão dominante, aquela que organiza toda a narrativa e determina sua estrutura. Ele é responsável por mover o enredo do início ao fim, guiando o ciclo de complicação, desenvolvimento, clímax e desfecho. Sem esse conflito, a história não avança, não se desenrola.

Conflitos Secundários

Já os conflitos secundários são tensões menores, paralelas à trama central. Eles não determinam o rumo principal da narrativa, mas acrescentam profundidade ao universo ficcional. Fazem isso ao explorar facetas das personagens e ao criar redes de significados que enriquecem a leitura. Esses conflitos podem:

  • espelhar o conflito principal, funcionando como variações temáticas;
  • contrapô-lo, criando contrastes que destacam suas implicações; ou
  • complicá-lo, introduzindo novos obstáculos emocionais ou sociais.

Um exemplo disso aparece em “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.

  • O conflito principal é a luta da família de retirantes contra a seca e a miséria, um embate direto entre o ser humano e as condições adversas do sertão.
  • Já os conflitos secundários surgem nas relações internas do núcleo familiar: o ressentimento de Fabiano por sua própria ignorância, o medo da violência institucional, o sonho frustrado de Sinhá Vitória com uma cama nova, e até as percepções ingênuas de Menino mais velho e Menino mais novo.

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