Redação Nota 1000 no Enem: leia 15 exemplos reais dos últimos anos

Redação Nota 1000 no Enem: leia 15 exemplos reais dos últimos anos

Aprenda com as redações nota 1000 do Enem! Acesse e conheça 15 redações que tiraram a nota máxima, com comentários dos nossos professores!

Se você já prestou ou pretende se inscrever no Enem, sabe muito bem que a redação é uma das áreas de conhecimentos avaliada pelos corretores da prova. Aliás, a redação corresponde a um quinto da nota final, ou seja, para garantir uma boa nota no Enem, é imprescindível produzir uma boa dissertação.

Por isso, é preciso reservar um tempo na rotina de estudos para treinar exclusivamente a redação, seja aprendendo o formato do tipo de texto que é cobrado pela banca ou lendo e analisando as redações nota 1000 das edições anteriores. Afinal, dessa forma, você consegue aprender quais foram os pontos positivos de cada candidato e descobrir como adaptar isso ao seu modelo de redação.

Para te ajudar, o Portal Estratégia Vestibulares listou 15 redações que tiraram a nota máxima nas últimas edições do Enem. As redações nota 1000 contam com análises dos professores de redação do Estratégia Vestibulares. Bora começar a estudar?

📢 Saiba mais
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Redações nota 1000 do Enem 2024

Sabrina Ayumi Alves, de Araçatuba (SP)

O livro “Nós matamos o cão tinhoso” de Luís Bernardo Honwana retrata a sociedade moçambicana durante a colonização portuguesa. Na obra literária, observa-se uma dinâmica social pautada pela inferiorização dos indivíduos negros, na qual o racismo está enraizado nas interações entre as pessoas, na qualidade de vida e na autoimagem de cada ser. Assim, ao inserir a imagem criada pelo livro no contexto brasileiro de ínfima valorização da herança africana, infere-se que o passado colonial persiste nas estruturas do Brasil, se manifestando a partir do apagamento sistemático da cultura afro-brasileira. Em razão disso, deve-se discutir o papel do Estado no setor escolar e cultural diante desse contexto de silenciamento.

Em um primeiro momento, é necessário entender a relação entre a dinâmica social brasileira e a desvalorização da herança africana. Para fundamentar essa ideia, o filósofo Ailton Krenak afirma que, no Brasil, existem dois grupos — a humanidade, formada pela elite econômica, e a subumanidade, a qual tem seus direitos negados e é constituída principalmente pelas populações marginalizadas socialmente, como os povos originários e os negros. Por conseguinte, entende-se que o apagamento da cultura africana é uma extensão do panorama da desigualdade social brasileira, já que essa desvalorização sistemática silencia as vozes de populações que são violentadas e oprimidas há séculos, o que favorece a manutensão dessas pessoas no grupo da subumanidade. Dessa forma, o Estado deve desenvolver medidas que visem valorizar e apoiar artistas e escritores relacionados à herança africana no Brasil.

Sob outra ótica, a compreensão acerca da importância da ancestralidade na formação da autoimagem e da noção de pertencimento de cada indivíduo é imperativa. Para isso, a filósofa brasileira Marilena Chaui defende a ideia de que, enquanto os animais são seres naturais, os humanos são culturais – ou seja, a cultura em que cada pessoa está inserida compõe a essência desse ser. A partir disso, compreende-se que o silenciamento da herança africana nega a uma grande parte do povo brasileiro a sua própria essência, o que constitui uma violência estrutural e resulta numa noção de não pertencimento generalizada e em uma autoimagem defasada. Frente a isso, o Estado deve agir em prol da promoção de manifestações culturais afro-brasileiras.

Em suma, conclui-se que a desvalorização da cultura africana está diretamente relacionada a um processo sistemático de silenciamento de grupos oprimidos e resulta na falta de pertencimento de muitos indivíduos. Portanto, cabe ao Estado, por meio de uma parceria entre o Ministério da Economia (ME) e o Ministério da Educação e da Cultura (MEC), desenvolver manifestações culturais afro-brasileiras nas escolas, como, por exemplo, peças teatrais e festivais de dança, música e arte, assim como investir financeiramente na promoção de artistas e escritores que têm suas carreiras relacionadas à herança africana. Por fim, essas ações serão responsáveis por impedir o perpetuamento da desvalorização da cultura africana no Brasil.

Comentário da professora Marina Ferreira sobre a redação

Na introdução, há um recurso interessantíssimo para apresentar o tema, envolvendo aspectos culturais que podem agregar à proposição argumentativa. Além disso, é feita adequadamente a contextualização, apresentando a relação entre a ficção e a realidade. A tese está bem apresentada e são apresentados os dois argumentos a serem desenvolvidos. 

Vale reparar, também, que as palavras-chave do tema se repetem e direcionam a perspectiva argumentativa. No desenvolvimento argumentativo, a autora conseguiu utilizar muito bem o repertório, de modo contextualizado, sofisticado e coerente com a tese apresentada. Observa-se que a relação entre o repertório e o argumento em si também é muito bem destacada.

Ao final, o reforço de que essa problemática é grave e requer intervenção se dá de modo adequado e fechando a circularidade do parágrafo. É preciso considerar que os repertórios não são coringas, são bem articulados à discussão e envolvem totalmente a tese. 

No final do texto, a autora acertou fazendo a retomada da tese e apresentando uma proposta detalhada e completamente relacionada à discussão. Trata-se de uma redação autoral, com originalidade no uso dos repertórios, sem nada que remeta a um modelo estrutural e com um uso fluido dos conectivos.

Quer algumas dicas para a garantir a sua redação nota 1000 no Enem? Assista o bate-papo entre os professores de redação do Estratégia Vestibulares:

Rafael Santana Assunção, de Belo Horizonte (MG)

O álbum musical “Duas Cidades”, da banda brasileira Baiana System, aborda, em algumas de suas canções, o apagamento da influência histórica africana no Brasil. Inegavelmente, em dias atuais, é possível constatar uma relação direta entre a composição artística citada e a desvalorização da herança africana no país. Isso é explicado devido à falta de política pública de ensino e à ausência de lei específica. Logo, é essencial analisar e intervir sobre essa problemática.

A princípio, deve-se observar que o pouco fomento governamental em ações de gestão educacional é um problema a ser combatido. Sob a perspectiva de Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos, é urgente a necessidade de iniciativas para a inclusão da história e da cultura afro-brasileira nas escolas. Para entender melhor tal posicionamento, é importante compreender que o atual ensino sobre os povos africanos é apenas relatado em aulas específicas de algumas disciplinas, como história e literatura, sem se aprofundar na grande influência cultural que a África possui no Brasil. Dessa forma, de acordo com Chico César, cantor e compositor de músicas afro-brasileiras, as crianças e os adolescentes necessitam ter uma formação ampla sobre a temática, com aulas multidisciplinares, por exemplo, de música e de capoeira, bem como as tradicionais aulas já existentes, porém integradas à herança africana presente na sociedade. Nesse sentido, é substancial modificar esse contexto e desenvolver uma forte política pública de ensino.

Ademais, é imperativo pontuar que atitude insuficiente do Poder Legislativo Federal em atuar no tema é um problema a ser combatido. Sob a ótica de Duda Salabert, deputada federal e professora de literatura, é imprescindível a alteração da lei que orienta a educação básica brasileira. Isso pode ser explicado pelo entendimento de que apenas com empenho legislativo é possível transformar o mecanismo legal que define as matrizes de referência do ensino nacional. Dessa maneira, com a união de parlamentares para o reconhecimento da importância da herança africana na formação educacional, poderá ocorrer a consolidação de políticas públicas, como o investimento da capacitação de professores e de profissionais especializados em cultura afro-brasileira. Assim, o crescimento do fomento estatal no setor, garantido por aparato legal, contribuirá para a efetivação de uma forte identidade nacional. Em suma, se o Congresso Nacional se omite de enfrentar tal cenário danoso, entende-se o porquê de sua perpetuação.

Portando, com o intuito de solucionar esses desafios, o Poder Executivo Federal, por meio do aumento de ações governamentais, deve estimular iniciativas educacionais relacionadas à herança africana, a fim de valorizar a temática. Além disso, o Poder Legislativo Federal, por intermédio da criação de um projeto de lei, necessita elaborar uma nova política nacional de ensino, com a obrigatoriedade de investimento público na área, com a definição de medidas de gestão pública capazes de instituir aulas multidisciplinares, como de música e de cultura afro-brasileira nas escolas, com o objetivo de reconhecer a importância do tema na formação da sociedade. Feito isso, o apagamento da influência africana abordado na obra da banda Baiana System será, enfim, combatido.

Comentário da professora Marina Ferreira sobre a redação

A introdução está bem construída, a apresentação é original – o álbum “Duas Cidades”, da banda Baiana System – para contextualizar o tema e estabelecer sua relevância no cenário atual. A tese está clara e adianta a discussão que será proposta. É uma introdução curta e boa! 

Nos parágrafos de desenvolvimento, os repertórios são bem articulados e relacionados diretamente à argumentação. O primeiro argumento é fundamentado por falas de figuras relevantes, o que fortalece a ideia de que o ensino sobre a herança africana precisa ser mais abrangente.

No segundo parágrafo, a ausência de iniciativas legislativas é debatida, com a referência à Duda Salabert e à necessidade de mudanças na legislação educacional para garantir um ensino mais inclusivo e representativo. Não se trata de repertório clichê, pelo contrário.

A conclusão retoma a tese e apresenta uma proposta detalhada, com agentes claramente definidos – o Poder Executivo e o Legislativo – e ações concretas, como o investimento público e a reformulação curricular. O fechamento eficiente reforça a circularidade do texto, conectando a argumentação ao repertório inicial. De fato, é um bom texto!

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Clara de Oliveira, de Niterói (RJ)

O filme “Pantera Negra” foi considerado um marco da cinematografia mundial, devido à presença de um elenco majoritariamente negro e à representação da cultura desse grupo étnico-racial de maneira inovadora e prestigiada. Fora da ficção, o cenário apresentado distancia-se da realidade brasileira, haja vista os desafios, sustentados pelo sistema de ensino e pelo copo civil, para a valorização da herança africana no país. Nesse sentido, de modo a atenuar essa situação, é preciso analisar o descaso da esfera educacional e a mentalidade social como causas dessa grave problemática.

De início, convém ressaltar a negligência do setor instrucional como preponderante para minimizar o combate do desprestígio das heranças africanas no Brasil. Essa inoperância decorre da precariedade da atuação das escolas nacionais, principalmente das públicas, para o cumprimento da Base Nacional Comum Curricular — documento normativo da grade educacional brasileira — no que tange à abordagem histórica dos povos africanos com ensino aprofundado e que exalte as suas contribuições culturais, tendo em vista o lecionamento, muitas vezes, superficial e eurocêntrico. De fato, essa conjuntura justifica-se na insuficiência da capacitação dos professores e na vigência de uma didática passiva e voltada para o vestibular, o que torna tais instituições possíveis de serem consideradas como um estado de “zumbi”, conforme o sociólogo Zygmunt Bauman, já que se afastam de seus objetivos principais, isto é, de formação social do aluno. Com efeito, diante dessa falta de conhecimento, fomenta-se a criação de estereótipos e a invisibilidade de personalidades negras importantes, prejudicando a representatividade e a valorização dessa comunidade, além de ser um risco à preservação dos costumes.

Além disso, é válido destacar que o imaginário social cria uma configuração propícia para a permanência dos entraves a esse grupo étnico-racial. Isso ocorre, pois verifica-se a persistência de atitudes de discriminação contra a afirmação das influências herdadas na aparência e nas atividades sociais por indivíduos afrodescendentes, a exemplo do preconceito associado aos cabelos crespos e às religiões de matriz africana, respectivamente. Evidentemente, tal prisma fundamenta-se em resquícios do passado colonial e imperial do país, em que se vigorava a desvalorização e a desumanização de pessoas negras em um contexto escravocrata. Por conseguinte, o enraizamento desse pensamento e a sua consequente naturalização mostram-se responsáveis por altos de violência simbólica, como atribuição dessas heranças como pejorativas. Dessa forma, observa-se o prejuízo à inclusão dessa população, a qual perde suas individualidades.

Portanto, torna-se evidente que os desafios advindos da área educacional e da nação devem ser amenizados. Diante disso, urge que o Ministério da Educação — órgão encarregado do ensino brasileiro — execute a melhoria do lecionamento sobre a história africana e a importância de suas heranças, com uma perspectiva aprofundada e protagonista frente ao recorte europeu. Isso deverá ser feito por meio da maior capacitação dos docentes e da universalização do conteúdo nas escolas, a fim de atender à BNCC. Ademais, cabe ao Ministério das Comunicações, mediante propagandas periódicas nos veículos midiáticos, elucidar o povo sobre a temática e desconstruir mentalidades preconceituosas. Espera-se, assim, que haja a valorização dessas contribuições culturais no Brasil como em “Pantera Negra”.

Comentário da professora Marina Ferreira sobre a redação

O início da redação é bem construído, trazendo uma alusão a uma obra que retrata ficcionalmente o afrofuturismo. Isso demonstra o nível de conhecimento da autora e já enfatiza que seu texto faz um bom recorte temático. Observe que é interessante trazer um elemento da cultura pop, desde que ele faça sentido com a argumentação em si. 

Apesar do uso de repertórios mais consolidados, como o de Bauman e o da violência simbólica, é feita uma boa relação com o tópico frasal, de modo que fica explícito o argumento da autora e se dá ênfase à problemática. A proposta está muito bem detalhada e faz a retomada ao início da introdução, trazendo mais circularidade ao texto.

Trata-se de uma redação correta e bem construída, com menos sofisticação no uso do repertório em relação às outras, mas com construção argumentativa impecável. O mil foi merecido!

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Marina Vieira Almeida Lima, de Maceió (AL)

Na obra literária “Raízes do Brasil”, escrita pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, há a representação da miscigenação brasileira, caracterizada pela predominância da etnia africana na formação populacional do país. Contudo, apesar da indiscutível relevância da cultura advinda dos negros para a construção cultural da nação, a herança dos povos africanos não é devidamente valorizada, visto que suas contribuições culturais são omitidas no meio social. Logo, perante esse entrave, cabe a análise da estagnação estatal e da negligência educacional.

Diante dessa panorama, é perceptível a fragilidade governamental em valorizar a herança proveniente da África no Brasil. Nesse viés, a partir de 1888m dada a promulgação da Lei Áurea – responsável pela abolição da escravatura -, os escravizados africanos e seus descendentes tornaram-se marginalizados socialmente, em virtude da ausência de ressarcimento dos seus direitos civis por parte do governo. Sendo assim, como reflexo desse fato histórico, o Estado ainda negligencia a cultura afrodescendente ao não proporcionar políticas públicas eficazes, uma vez que não impulsiona a inserção de manifestações culturais africanas, como as danças tradicionais no ambiente social – a exemplo da falta da disseminação de festivais africanos pelo território -, em virtude da priorização da destinação de verbas a eventos de culturas privilegiadas, como a europeia. Por conseguinte, as práticas culturais dos afrodescendentes são invisibilizadas, tornando-as vítimas de discriminação, como o racismo, anulando suas identidades étnicas. Em suma, a omissão estatal é um fator agravante da problemática retratada.

Outrossim, é notório o impacto da ineficiência educacional em relação à desvalorização da herança dos negros na nação verde-amarela. Nesse contexto, o político Nelson Mandela ressalta o valor da educação e o seu potencial de salvar a humanidade. Entretanto, a educação brasileira apresenta uma série de lacunas que dificultam a promoção da herança africana no país. Prova dessa conjuntura é a escassez de disciplinas que abordem a história da cultura afrodescendente no Brasil — sem ilustrar apenas o período da escravidão —, devido ao destaque dado a matérias consideradas mais importantes, como a matemática. Consequentemente, as manifestações culturais africanas são negligenciadas são negligenciadas pelos estudantes, por adquirirem uma visão estereotipada de suas práticas e desconsiderarem sua diversidade. Em síntese, a lacuna educacional corrobora a temática mostrada.

Portanto, medidas necessitam ser tomadas para mitigar os desafios supracitados. Assim, é dever do Ministério da Cultura — órgão responsável por administrar a preservação cultural brasileira — incentivar a exposição da cultura africana, mediante eventos culturais. De igual modo, cabe ao Ministério da Educação, órgão responsável por assegurar a educação nacional, inserir os estudos africanos na grade curricular, mediante a criação de uma matéria para isso. Nesse sentido, com o intuito de valorizar a herança africana, suas práticas serão respeitadas.

Comentário da professora Marina Ferreira sobre a redação

A introdução inicia com um livro que é relativamente conhecido e que pode trazer uma contextualização para inúmeros temas. A contextualização é boa e a tese faz a síntese dos argumentos, apontando o direcionamento da discussão. 

O repertório, no primeiro desenvolvimento, é bastante contextualizado, trazendo as raízes históricas da desvalorização das tradições africanas. É interessante observar que há exemplos específicos de como a cultura é desvalorizada, o que dá ao texto mais fundamentação.

Já o segundo argumento é mais genérico, porém correto, demonstrando que a educação falha e faz perpetuar o estigma quanto a essas manifestações. A proposta é bem detalhada, com todos os atores e bem ilustrada. Trata-se de uma boa redação, mas sem muita sofisticação.

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Tema de redação Enem 2024: veja os comentários dos professores do Estratégia Vestibulares 

Anna Cabral — professora de Redação

“Tema de redação pouco esperado tendo em vista as diversidades apresentadas ao longo do ano. Entretanto, os episódios que acontecem com o Vini Jr podem ter suscitado algo na escolha. É um tema muito parecido com o Enem 2022, povos tradicionais, então conseguiríamos citar a luta dos povos e claro promover a manutenção da cultura de matriz africana, importantíssima para a cultura brasileira”.

Marina Ferreira — professora de Redação

“Vale começar dizendo que se trata de um tema que faz interseção entre dois eixos: Arte e Cultura e Direitos e Cidadania. A herança dos povos africanos envolve a língua, a arte, a dança, a música, entre tantas outras manifestações e expressões identitárias que compõem a cultura brasileira. No entanto, pode-se perceber que os principais desafios quanto à valorização se encontram no racismo – cujos traços são notórios na formação do país, como exposto por diversos sociólogos brasileiros – e na criação de políticas públicas que reparem a mancha da escravidão deixada na História. A escravidão e a persistência do racismo estrutural são aspectos que devem ser considerados para uma boa abordagem. Isso porque o tema traz esse viés, justamente para que se problematize a desvalorização das expressões culturais mais populares, as que são atreladas à herança dos povos africanos, e o impacto do racismo estrutural que criminaliza corpos negros, descendentes dos povos africanos, cotidianamente, seja no sistema judiciário seja na demonização de seus costumes. Penso que tratar do legado dos povos africanos deve passar por mencionar a escravidão e a colonização. Diferentemente do que foi abordado quando se citaram os povos tradicionais e originários, esse eixo temático propõe aspectos mais amplos (cultural, econômico e histórico), já que os povos africanos foram decisivos para que o Brasil fosse o que é hoje”.

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Fernando Andrade —- professor de Redação e Filosofia

“A minha impressão da prova de Redação foi que a banca escolheu um tema que é interessante aos participantes, que não é difícil. Dá para falar da não valorização da herança negra, e isso é mais ou menos óbvio porque temos um dispositivo legal que garante o ensino de história e cultura negra nas escolas, mas isso quase não é levado em consideração. O recorte do tema estava em ‘valorização’, e outra coisa interessante é que o participante poderia utilizar o argumento comum da omissão do Estado por conta dessa não fiscalização da obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana nas escolas. Outra coisa interessante é que, por não ter um recorte, não vão haver muitos desvios, porque a proposta é muito clara”.

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Redações nota 1000 do Enem 2023

Karoline Soares Teixeira, Ji-Paraná (RO)

redação nota 1000 enem 2023 karoline soares
Foto: Reprodução/Inep

O filme “Como você consegue?” explora as transformações que envolvem a figura feminina durante a chegada da maternidade e o gerenciamento das tarefas domésticas. Semelhante a obra cinematográfica, no atual contexto social brasileiro, observam-se desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres relacionados às configurações de gênero historicamente construídas e a inadequação da legislação trabalhista do país. Urge, então, a modificação de tal conjuntura, tendo em vista a necessidade de acompanhar as mudanças sociais ocorridas nos últimos anos.

De início, é válido elencar o processo de construção dos parâmetros de gênero que ainda permeiam a sociedade brasileira. Nesse sentido, no período da República Velha e do coronelismo, as ideias patriarcalistas, que atribuem aos homens os papéis de chefia e de destaque, foram fortalecidas e conferiram as mulheres uma postura de subordinação, acompanhada da responsabilidade reprodutiva e da organização domiciliar, estrutura abordada no filme “Como você consegue?” e que, além de ter sido reproduzida por muitos anos, foi transferida às gerações futuras.

Sob esse viés, apesar das diversas mudanças sociais que incluem a participação da mulher no mercado de trabalho formal e a progressiva redução da taxa de fecundidade, ainda existem resquícios dos paradigmas históricos, que se manifestam por meio da permanente associação do ideal de cuidado à figura feminina, do insuficiente e reconhecimento do assistencialismo das mulheres como forma de trabalho e da contínua necessidade de reafirmação dos direitos conquistados. Dessa forma, é possível estabelecer a parcela de participação da cadeia social na invisibilização dos serviços realizados pelas mulheres.

Ademais, não há uma especificidade legislativa que reconheça o trabalho de cuidado feito pela população feminina dentro dos padrões de formalidade. Nesse ponto, ainda que a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) tenha ampliado e normatizado os direitos dos trabalhadores brasileiros, há uma incoerência no que diz respeito à ausência de uma lei específica sobre o trabalho das chamadas “donas de casa” e sobre a garantia de sua cidadania fato que reverbera seus efeitos pelo elevado contingente de mulheres que desempenham funções de assistência com pouca ou nenhuma remuneração, ficando à margem dos benefícios promovidos pela admissão em cargos formais. Dessa maneira, faz-se necessária uma reorganização do complexo legislativo nacional.

Logo, torna-se evidente a necessidade da adoção de medidas que visem a minimização dos desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado desempenhado pelas mulheres no Brasil. A partir disso, o governo, como principal responsável pela manutenção do bem-estar dos brasileiros, junto aos complexos midiáticos, deve debater sobre o tema, por meio da criação de campanhas publicitárias sobre o essencialismo dos serviços feitos pelas mulheres, com o intuito de estimular a sociedade a dar mais atenção ao tema.

Comentário do professor Fernando Andrade sobre a redação:

“Esse texto é realmente um ponto fora da curva do que consideramos ‘modelo de redação nota 1000 do Enem’, mas perfeito para exemplificar os traços de uma redação analítica que poderia servir para outras bancas, inclusive. 

Observe como a autora desenvolve, com a maestria de quem conhece história, o argumento do 2º parágrafo. O mesmo acontece no parágrafo seguinte. A menção à ausência de lei é comprovada pela descrição minuciosa da lei existente e da sua insuficiência.”

Arthur Sanches Sales, de Belém (PA)

redação nota 1000 enem 2023 arthur sales
Imagem: Reprodução/Inep

Conforme estudos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de idosos crescerá drasticamente nas próximas décadas. Nesse contexto, o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres é fundamental para acolher essa parcela populacional. Todavia, a invisibilidade e a omissão estatal são desafios que perpetuam o descaso sofirdo por essas trabalhadoras no Brasil. Logo, faz-se imperioso a tomada de medidas que resolvam esse contexto de emergência generalizada.

Sob essa perspectiva, é crucial que a escassez de debates acerca da importância das atividades de assistência seja superado. A esse respeito, a ilustre filósofa Djamila Ribeiro defende que, para atuar em uma situação, deve-se, antes de tudo, tirá-lo da invisibilidade. Entretanto, o panorama nacional destoa do pensamento da autora, já que o alto índice de empregadas domésticas em condições ocupacionais precárias não é enxergado pelo círculo social, de modo que discussões sobre essa questão não sejam priorizadas, dificultando intervenções nesse problema. Então, essa nebulosidade prescisa ser exposta para conscientizar a sociedade.

Outrossim, vale ressaltar de que maneira a negligência do Estado fomenta a marginalização das cuidadoras. A partir disso, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman utiliza o termo “Instituição Zumbi” para simbolizar as entidades que não cumprem seu papel previamente estabelecido. Segundo o raciocínio, é possível compreender o Poder Executivo como um exemplo da ideia do expoente da Sociologia, uma vez que a sua função de garantir dignidade profissional a todo não está sendo cumprida em sua totalidade, pois muitas trabalhadoras de acolhimento ainda encontram-se em situações indignas. Por isso, a conduta governamental necessita ser reformulada para assegurar os direitos dessas profissionais.

Portanto, torna-se primordial mitigar a marginalidade do trabalho de cuidado realizado pelo gênero feminino. Dessa forma, o Ministério da Cidadania, enquanto responsável por políticas cidadãs, deve propagar dados e pesquisas que revelem a gravidade do esquecimento sofrido pelas cuidadoras, por meio de plataformas midiáticas de destaque, a fim de atingir o maior contingente possível e conscientizá-lo. Ademais, a coletividade, por intermédio do Ministério Público, precisa cobrar do Governo Federal ações efetivas de proteção ocupacional às empregadas domésticas, com o intuito de promover o labor digno a esses indivíduos. Assim, a acolhida da nova geração de pessoas de terceira idade poderá ser efetiva.

Comentário da professora Anna Cabral sobre a redação:

“Mais uma vez, o texto está dentro do vocabulário utilizado por um jovem, desmistificando a relação de que redação nota 1000 do Enem é algo para pessoas com MUITO repertório. Na verdade, são para pessoas que conseguem estabelecer uma sequência lógica, de forma a explicitar seus argumentos acerca de um assunto. Fica ligado nos elementos coesivos, eles determinarão sua boa nota em conjunto com o restante.”

Francisco Roney Sousa Suriano, de Fortaleza (CE)

redação nota 1000 enem 2023 francisco roney
Foto: Reprodução/Inep

A Constituição Federal, promulgada em 1988, foi esboçada com o objetivo de delinear direitos básicos para todos os cidadãos – como condições satisfatórias de trabalho. Contudo, hodiernamente, esse postulado constitucional é deturpado, visto que o contato com a área trabalhista, por meio do trabalho de cuidado realizado por mulheres, se encontra na invisibilidade e não efetivado na sociedade nacional. Acerca disso, para discutir a questão de maneira ampla, hão de ser analisados os seguintes fatores: as desigualdades no acesso à informação e a inobservância governamental.

Em primeiro âmbito, é válido perceber o panorama de assimetria social como fator potencializador da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Segundo Ariano Suassuna, ilustre pensador brasileiro, o território nacional está dividido em dois países distintos; o dos privilegiados e o dos despossuídos. Sob essa lógica, o autor faz um alerta a respeito da desigualdade de renda, de oportunidades e de acesso à informação vigente no Brasil. Nesse sentido, parcela da população feminina, majoritariamente jovem e preta, padece frente à carência de informações relacionadas às garantias de assistência previstas para esse setor trabalhista, pois tem dificuldade em obter meios de comunicação, como o aparelho celular, pelo custo elevado. Esse cenário potencializa a invisibilidade do trabalho de cuidado, tendo em vista que a desinformação permite que muitas mulheres fiquem passivas e inativas na busca por seus direitos, ocasionamento, consequentemente, explorações de jornadas de trabalho exaustivas, muitas vezes, não remuneradas. Dessa maneira, por não reconhecer a importância da assistência e da regulamentação do trabalho, por exemplo, muitas mulheres assumem trabalhos de cuidado sozinhas e na informalidade, conduta que dá margem à formação de diversos problemas, como desgastes físicos e psicológicos, dificultando, assim, o combate à invisibilidade do trabalho de cuidado. É essencial, então, a difusão de informações sobre a assistência para esse setor laboral.

Outrossim, cabe enfatizar a negligência governamental como um dos principais fatores que viabilizam a invisibilidade do trabalho de cuidado no tecido social. Nesse aspecto, por não investir suficientemente na criação e na implementação de projetos que fiscalizem e promovam assistência para as trabalhadoras de cuidado, o país omite esse impasse do meio comunitário e permite, dessa forma, a continuidade desse infeliz cenário de exploração feminina. Nessa perspectiva, como afirmou o filósofo Gilberto Dimenstein, em sua obra “Cidadão de Papel”, a legislação brasileira é ineficaz, dado que, embora aparente ser completa na teoria, muitas vezes não se concretiza na prática. Prova disso é a escassez de políticas públicas satisfatórias voltadas para a aplicação do Artigo 23 da “Constituição Cidadã”, que garante, entre tantos direitos, condições dignas e satisfatórias de trabalho. Sob esse viés, evidencia-se que a pouca atuação do Estado no que concerne à garantia de condições laborais dignas para as mulheres possibilita, de certa forma, a existência de várias “cidadãs de papel”, no Brasil, uma vez que embora um ambiente de trabalho satisfatório seja um direito constitucional, muitas mulheres sofrem com a falta de assistência ao realizar trabalhos de cuidado. É preciso, pois, como alternativas ao enfrentamento da invisibilidade do labor de cuidado, a reformulação dessa postura estatal.

Portanto, é nítido que o debate sobre o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil é relevante e precisa ser difundido. Para tanto, urge, que as instituições educacionais, a exemplo de escolas e faculdades, promovam, por meio de verbas governamentais, campanhas e palestras em espaços públicos, validando a importância da valorização do trabalho de cuidado e informando as garantias assistenciais desse setor para a sociedade, visando garantir a construção de uma mentalidade crítica na coletividade. Ademais, cabe ao Ministério do Trabalho desenvolver, em parceira com o Ministério da Mulher, fiscalizações em ambientes de trabalho de assistência, aspirando mitigar formas de exploração de laborais de cuidado. Quiçá, nessa vida, tornar-se-á notável a amenização do infortúnio, e a Constituição será cumprida de forma precisa.

Comentário do professor Fernando Andrade sobre a redação:

“Agora estamos diante de uma redação que lança mão dos recursos conhecidos do Enem: introdução na qual se apela para a Constituição; argumento da falta de informação e argumento da ausência de Estado. Vale observar como o autor comprova a ausência de Estado, ‘por não investir suficientemente na criação e na implementação de projetos’. Se você pretende usar modelos de redação nota mil, essa é uma redação que merece ser estudada.”

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Quais outros dados poderiam ter sido citados sobre o tema de redação?

De acordo com Anna Cabral, além de obras e autores, o candidato também pode, e deve, utilizar de fatos atuais ou históricos para embasar a tese defendida na redação. Leia abaixo as sugestões da professora de redação:

  • Dados estatísticos sobre o trabalho de cuidados no Brasil: pesquisas como a PNAD Contínua do IBGE e estudos da ONU Mulheres podem fornecer informações sobre a divisão desigual de tarefas domésticas entre homens e mulheres no Brasil.
  • A questão da interseccionalidade: o trabalho de cuidados realizado por mulheres negras e de classes mais baixas é ainda mais invisibilizado e explorado. A interseccionalidade pode ser um ponto importante para discutir como diferentes formas de opressão se sobrepõem.
  • Políticas públicas para valorização do trabalho de cuidados: a falta de políticas públicas voltadas à valorização e ao reconhecimento desse trabalho, como a inclusão do trabalho doméstico nos direitos trabalhistas e previdenciários, pode ser uma boa discussão.
  • O impacto da pandemia de COVID-19: a pandemia exacerbou a sobrecarga de cuidados sobre as mulheres, tornando o tema ainda mais urgente e relevante. Muitos estudos apontam que o trabalho não remunerado em casa aumentou consideravelmente durante esse período.

Redações nota 1000 do Enem 2022

Rodrigo Junqueira, de São Paulo (SP)

rodrigo junqueira redação nota 1000 enem 2022
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

No livro “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, Ailton Krenak critica o distanciamento entre a população brasileira como um todo e a natureza, o que não se aplica às comunidades indígenas. Tal pensamento é extremamente atual, já que não só indígenas como todas as populações tradicionais têm uma relação de respeito mútuo com a natureza, aspectos que as diferenciam do resto dos brasileiros. Com isso, a agressão ao meio ambiente e o apagamento dos saberes ancestrais configuram desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil.

Primeiramente, é preciso compreender como a agressão ao meio ambiente fere as comunidades tradicionais. Há séculos esses povos vêm construindo suas culturas com respeito à natureza, tratando-a de forma sustentável. Consequentemente, criou-se nesses grupos uma visão afetiva dos recursos naturais, que se tornaram base para a manutenção de uma identidade característica a cada uma dessas comunidades. No entanto, todos os biomas brasileiros estão sendo constantemente ameaçados, seja pela mineração, garimpo ilegal, desmatamento ou poluição, fatores que têm em comum a priorização do gasto financeiro em detrimento da preservação ambiental. Assim, parte da população coloca em risco o maior patrimônio dos povos tradicionais, a natureza, em busca de recursos naturais que trazem benefícios restritos aos agressores, tornando o modo de vida dessas comunidades impraticável. Portanto, com base na importância do meio ambiente para as comunidades tradicionais, causar danos à natureza significa, também, causar danos aos povos em questão.

Ademais, é de grande relevância entender como o apagamento dos saberes ancestrais leva à desvalorização dos povos tradicionais. Devido à grande diversidade de povos tradicionais no Brasil, houve, em cada um deles, a criação de um conjunto de conhecimentos, pensamentos, filosofias e linguagens distintas, passados pelas gerações, dirando e mantendo vivo o modo de vida que caracteriza identitariamente cada grupo. Entretanto, essa bagagem sistêmica é muito pouco externalizada, pelo fato de que esses saberes são coletivizados apenas em esferas menores, de forma a manter a ancestralidade dos povos locais apenas entre si. Logo, todo conhecimento produzido nessa perspectiva é desconhecido do grande público, sendo pouco discutido e não fazendo parte da visão de mundo da maioria dos brasileiros. Dessa forma, os saberes dos povos tradicionais são desconsiderados, acarretando na desvalorização de todos esses grupos.

Em síntese, o impacto causado ao meio ambiente e a desconsideração de seus saberes são grandes agentes na desvalorização das comunidades tradicionais. Por isso, cabe ao Ministério do Meio Ambiente proteger os biomas do país através do endurecimento de punições contra crimes ambientais, com a finalidade de salvaguardar o modo de vida de diferentes povos, tornando possível a manutenção da diversidade cultural brasileira. Além disso, o Ministério da Educação deve promover a discussão sobre os conhecimentos das comunidades tradicionais, por meio da incorporação de conteúdos relacionados a esses povos na grade curricular das escolas, a fim de divulgar a visão de mundo desses grupos, fomentando uma convivência pacífica entre toda a população.

Carina Beatriz de Souza Moura, de Caruaru (PE)

carina beatriz redação nota 1000 enem 2022
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Na segunda metade do século XVIII, os escritores da primeira fase do Romantismo elevaram, de maneira completamente idealizada, o indígena e a natureza à condição de elementos personificadores da beleza e do poder da pátria (quando, na verdade, os nativos continuaram vítimas de uma exploração desumana no momento em questão). Sem desconsiderar o lapso temporal, hoje nota-se que, apesar das conquistas legais e jurídicas alcançadas, a exaltação dos indígenas e dos demais povos tradicionais não se efetivou no cenário brasileiro e continua restrita as prosas e poesias do movimento romântico. A partir desse contexto, é imprescindível compreender os maiores desafios para uma plena valorização das comunidades tradicionais no Brasil.

Nesse sentido, é inegável que o escasso interesse político em assegurar o respeito à cultura e ao modo de vida das populações tradicionais frustra a valorização desses indivíduos. Isso acontece, porque, como já estudado pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos, há no Brasil uma espécie de “Colonialismo Insidioso”, isto é, a manutenção de estruturas coloniais perversas de dominação, que se disfarça em meio a avanços sociais, mas mantém a camada mais vulnerável da sociedade explorada e negligenciada. Nessa perspectiva, percebe-se o quanto a invisibilização dos povos tradicionais é proposital e configura-se como uma estratégia política para permanecer no poder e fortalecer situações de desigualdade e injustiça social. Dessa forma, tem-se um país que, além de naturalizar as mais diversas invasões possessórias nos territórios dos povos tradicionais, não respeita a forma de viver e produzir dessas populações, o que comprova uma realidade destoante das produções literárias do Romantismo.

Ademais, é nítido que as dificuldades de promover um verdadeiro reconhecimento e valorização das comunidades tradicionais ascendem à medida que raízes preconceituosos são mantidas. De fato, com base nos estudos da filósofa Sueli Carneiro, é perceptível a existência de um “Epistemicídio Brasileiro” na sociedade atual; ou seja, há uma negação da cultura e dos saberes de grupos subalternizados, a qual é ainda mais reforçada por setores midiáticos. Em outras palavras, apesar da complexidade de cultura dos povos tradicionais; o Brasil assume contornos monoculturais, uma vez que inferioriza e “sepulta” os saberes de tais grupos, cujas relações e produções, baseadas na relação harmônica com a natureza, destoam do modo ocidental, capitalista e elitista. Logo, devido a um notório preconceito, os indivíduos tradicionais permanecem excluídos socialmente e com seus direitos negligenciados.

Portanto, faz-se necessário superar os desafios que impedem a valorização das comunidades tradicionais no Brasil. Para isso, urge que o Poder Executivo – na esfera federal – amplie a verba destinada a órgãos fiscalizadores que visem garantir os direitos dos povos tradicionais e a preservação de seus territórios e costumes. Tal ação deve ser efetivada pela implantação de um Projeto Nacional de Valorização dos Povos Tradicionais, de modo a articular, em conjunto com a mídia socialmente engajada, palestras e debates que informem a importância de tais grupos em todos os 5.570 municípios brasileiros. Isso deve ser feito a fim de combater os preconceitos e promover o respeito às populações tradicionais. Afinal, o intuito é que elas sejam tão valorizadas quanto os índios na primeira fase da literatura romântica.

Ana Alice Teixeira Freire, de Fortaleza (CE)

ana aline redação nota 1000 enem 2022
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Na minissérie documental “Guerras do Brasil.doc”, presente na plataforma Netflix, o professor indígena Ailton Krenak propõe a reflexão acerca da dizimação dos povos originários a partir de perspectivas atuais, em que é retratada a história sob o olhar do esquecimento e da violência contra esses povos, a despeito da sua riqueza cultural e produtiva. Essas formas de desvalorização das comunidades tradicionais do Brasil são respaldadas, dentre outros fatores, pela invisibilização histórica desses atores sociais no ensino básico e pelo preconceito que rege o senso comum. Dessa forma, é imprescindível a intervenção sociogovernamental, a fim de superar os desafios mencionados.

Com efeito, cabe destacar a exclusão generalizada dos aspectos históricos e culturais referentes às etnias tradicionais dentro do sistema educacional como fator proeminente à perpetuação da desvalorização do grupo em questão, uma vez que, sendo a escola um dos núcleos de integração social e informacional, a carência de estímulos ao conhecimento dos povos nativos provoca desconhecimento, e consequentemente, o cidadão comum não tem base da informação acerca da indispensabilidade das comunidades originárias à formação do corpo social brasileiro. Nesse sentido, os versos “Nossos índios em algumas poucas memórias/Os de fora nos livros das nossas escolas”, da banda cearense Selvagens à Procura da Lei, ilustram uma construção do ensino escolar pautada no esquecimento dessa minoria, de maneira a ampliar sua desvalorização. Assim, é constatável a estreita relação entre as lacunas na educação e o fraco reconhecimento dos povos e das comunidades tradicionais.

Ademais, vale ressaltar o preconceito cultivado no ideário popular como empecilho à importância atribuída aos povos nativos, posto que, em decorrência da baixa representatividade em ambientes escolares, como mencionado anteriormente, e do baixo respaldo cultural, marcado por estereótipos limitantes e etnocentristas, isto é, que supõem superioridade de uma etnia em relação à outra, há formação de estigmas sobre pessoas dessas minorias e, por conseguinte, não há o reconhecimento de suas ricas peculiaridade. Seguindo essa linha de raciocínio, é possível estabelecer conexões entre a atualidade e a carta ao rei de Portugal escrita por Pero Vaz de Caminha, no momento da chegada dos portugueses ao Brasil, de forma que a perspectiva do navegador em relação ao indígena, permeada de suposta inocência, maleabilidade e passividade, pouco alterou-se na concepção atual, evidenciando a prepotência e a altivez que são implicações da ignorância e do silenciamento das fontes tradicionais. Então, são necessárias medidas de mitigação dessa problemática para o alcance do bem estar da sociedade.

Em suma, entende-se o paralelo entre a desvalorização dos povos nativos e o apagamento histórico destes, além do preconceito sobre este grupo, de modo a urgir atenuação do cenário exposto. Para isso, cabe ao Ministério da Educação a ampliação do ensino histórico e cultural do acervo tradicional, por meio da reformulação das bases de assuntos abordados em sala de aula e da contratação de profissionais dessas etnias, com o objetivo de pluralizar as narrativas e evitar a exclusão provocada por apenas uma história, em consonância com o livro da escritora angolana Chimamanda Ngozie Adichie “O perigo da história única”. Também, é papel dos veículos culturais, como a mídia, a representação ampla e fidedigna desses grupos, com o fito de minorar a visão estigmatizada que foi construída. Com isso, o extermínio simbólico denunciado por Krenak será minguado.

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O que são Povos Tradicionais no Brasil?

“Segundo o Ministério da Cidadania, são considerados Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) do Brasil,  os povos indígenas, os quilombolas, as comunidades tradicionais de matriz africana ou de terreiro, os extrativistas, os ribeirinhos, os caboclos, os pescadores artesanais, os pomeranos, entre outros”, explica Celina Gil.

Como discutir o tema de valorização de comunidades e povos tradicionais?

Para a professora de redação do Estratégia Vestibulares, é fundamental que o candidato discuta estratégias para a reversão das opressões que povos originários sofrem desde o processo de colonização do Brasil.

“O aluno deveria focar principalmente em discutir estratégias para a reversão das opressões históricas, levando em consideração o nascimento colonial do Brasil e seu período escravocrata”, indica.

Além disso, Celina também relembra que o candidato poderia abordar em sua redação a importância da preservação da cultura dos povos tradicionais e a sua importância história para a também preservação do meio ambiente.

” [A redação pode abordar] a ausência de políticas públicas que garantam o direito à terra e à preservação cultural dos povos também deve ser discutida. É importante lembrar o histórico dos direitos dos povos indígenas, tendo em vista que apenas a partir do século XX essa população passou a ter mais atenção”, reforça a professora.

Alguns fatos que comprovam a importância de politicas públicas que garantam a preservação dos povos tradicionais: “histórico de demarcações de terra e direito à terra, frequentemente negado; o avanço do garimpo ilegal no brasil, que prejudicou as comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas; e a violência contra os povos tradicionais, que se encontram em situação de vulnerabilidade social”.

Redações nota 1000 do Enem 2021

Giovanna da Silva Gamba Dias, de Recife (PE)

redação nota mil enem 2021 Giovanna da Silva Dias
Foto: Divulgação

Em sua obra “Os Retirantes”, o artista expressionista Cândido Portinari faz uma denúncia à condição de desigualdade compartilhada por milhões de brasileiros, os quais, vulneráveis ocasionalmente, são invisibilizados enquanto cidadãos. A crítica de Portinari continua válida nos dias atuais, mesmo décadas após a pintura ter sido feita, como se pode notar a partir do alto índice de brasileiros que não possuem registro de nascimento, fator que os invisibiliza. Com base nesse viés, é fundamental discutir a principal razão para a posse do documento promover cidadania, bem como o principal entrave que impede tantas pessoas não se registrarem.

Com efeito, nota-se que a importância da certidão de nascimento para a garantia da cidadania relaciona-se à sua capacidade de proporcionar um sentimento de pertencimento. Tal situação ocorre, porque, desde a formação do país, esse sentimento é escasso entre a população, visto que, desde 1500, os países desenvolvidos se articularam para usufruir ao máximo do que a colônia tinha a oferecer, visando os lucros a todo custo, sem se preocupar com a população que nela vivia ou com o desenvolvimento interno do país. Logo, assim como estudando pelo historiador Caio Prado Júnior, formou-se um Estado de bases frágeis, resultando em uma falta de sentimento de identificação como brasileiro. Desse modo, a posse de documentos, como a certidão de nascimento, funciona como uma espécie de âncora para uma população com escasso sentimento de pertencimento, sendo identificada como uma prova legal da sua condição enquanto cidadãos brasileiros.

Ademais, percebe-se que o principal entrave que impede que tantas pessoas no Brasil não se registrem é o perfil da educação brasileira, a qual tem como objetivo formar a população apenas como mão de obra. Isso acontece, porque, assim como teorizado pelo economista José Murilo de Carvalho, observa-se a formação de uma “cidadania operária”, na qual a população mais vulnerável socioeconomicamente não é estimulada a desenvolver um pensamento crítico e é idealizada para ser explorada. Nota-se, então, que, devido a essa disfunção do sistema educacional, essas pessoas não conhecem seus direitos enquanto cidadãos, como o direito de possuir um documento de registro civil. Assim, a partir dessa educação falha, forma-se um ciclo de desigualdade, observada no fato de o país ocupar o 9º lugar entre os países mais desiguais do mundo, segundo o IBGE, já que, assim como afirmado pelo sociólogo Florestan Fernandes, uma nação com acesso a uma educação de qualidade não sujeitaria seu povo a condições de precária cidadania, como observada a partir do alto número de pessoas sem o registro no país.

Portanto, observa-se que a questão do alto índice de pessoas no Brasil sem certidão de nascimento deve ser resolvida. Para isso, é necessário que o Ministério da Educação reforce políticas de instrução da população acerca de seus direitos. Tal ação deve ocorrer por meio da criação de um Projeto Nacional de Acesso à Certidão, o qual irá promover, nas escolas públicas de todos os 5570 municípios brasileiros, debates acerca da importância do documento de registro civil para a preservação da cidadania, os quais irão acontecer tanto extracurricularmente quando nas aulas de Sociologia. Isso deve ocorrer a fim de formar brasileiros que, cientes dos seus direitos, podem mudar o atual cenário de precária cidadania e desigualdade.

Rafaella Frutuoso Barbosa, de Macaé (RJ)

redação nota mil enem 2021 Rafaella Frutuoso Barbosa
Foto: Divulgação

A Declaração Universal dos Direitos Humanos busca garantir a todos os cidadãos pleno acesso aos direitos básicos, como saúde e educação, além de preservar a integridade e dignidade da pessoa humana. Entretanto, tais garantias são negligenciadas quando indivíduos não conseguem obter o registro civil, documento que garante acesso à cidadania no Brasil e previne a invisibilidade social. Dessa forma, a ausência desse documento causa a marginalização do povo e impede a ascensão social dos brasileiros.

Deve-se destacar, primeiramente, que a falta da certidão de nascimento gera a marginalização do corpo social. Nesse sentido, a obra “Vidas Secas”, do autor Graciliano Ramos, retrata a vida de indivíduos que, por não possuírem registro civil, não possuem nomes próprios, não conseguem acesso aos direitos mais básicos, como moradia e alimentação, e são submetidos à situação análoga à escravidão. Desse modo, quando cidadãos não têm acesso a esse documento, são excluídos da sociedade e não conseguem recorrer às autoridades estatais para a defesa de seus direitos, visto que, para isso, necessitam de documentos oficiais. Logo, compara-se que a ausência desse registro causa a marginalização de indivíduos no Brasil.

Além disso, a falta dessa certificação civil impede a ascensão social dos brasileiros. Sob essa perspectiva, a Constituição Federal Brasileira garante, em seu 6º artigo, que todo cidadão tem direito de acesso à saúde, à educação, ao trabalho, à moradia, entre outros, objetivando assegurar não só direitos básicos, como também a possibilidade de ascender socialmente. Contudo, quando uma pessoa não consegue obter esse documento, todas as suas garantias fundamentais são negligenciadas, impedindo que esse cidadão frequente a escola, obtenha registro trabalhista, acesse a universidade e alcance bons salários e alto nível de instrução profissional. Com isso, a ausência da certidão de nascimento impede a ascensão social dos brasileiros.

Portanto, para mitigar a invisibilidade causada pela inexistência do registro civil e garantir o acesso à cidadania, cabe ao Governo Federal ampliar as formas de obter a certidão de nascimento, por meio da criação de pontos de registro civil em prédios públicos – como escolas e hospitais –, a fim de facilitar e ampliar a obtenção desse documento. Ademais, as Organizações não Governamentais – instituições sem fins lucrativos, que buscam defender uma causa – devem organizar movimentos para cadastro civil, nas quais conduzirão a população até o cartório mais próximo, para que se reduza o número de brasileiros não registrados. Assim, o propósito principal da Declaração Universal dos Direitos Humanos será realidade no Brasil.

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Redação nota 1000 do Enem 2020

Isabella Gadelha, de Castanhal (PA)

“Nise da Silveira foi uma renomada psiquiatra brasileira que, indo contra a comunidade médica tradicional da sua época, lutou a favor de um tratamento humanizado para pessoas com transtornos psicológicos. No contexto nacional atual, indivíduos com patologias mentais ainda sofrem com diversos estigmas criados. Isso ocorre, pois faltam informações corretas sobre o assunto e, também, existe uma carência de representatividade desse grupo nas mídias.

Primariamente, vale ressaltar que a ignorância é uma das principais causas da criação de preconceitos contra portadores de doenças psiquiátricas. Sob essa ótica, o pintor holandês Vincent Van Gogh foi alvo de agressões físicas e psicológicas por sofrer de transtornos neurológicos e não possuir o tratamento adequado. O ocorrido com o artista pode ser presenciado no corpo social brasileiro, visto que, apesar de uma parcela significativa da população lidar com alguma patologia mental, ainda são propagadas informações incorretas sobre o tema. Esse processo fortalece a ideia de que integrantes não são capazes de conviver em sociedade, reforçando estigmas antigos e criando novos. Dessa forma, a ignorância contribui para a estigmatização desses indivíduos e prejudica o coletivo.

Ademais, a carência de representatividade nos veículos midiáticos fomenta o preconceito contra pessoas com distúrbios psicológicos. Nesse sentido, a série de televisão da emissora HBO, “Euphoria”, mostra as dificuldades de conviver com Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), ilustrado pela protagonista Rue, que possui a doença. A série é um exemplo de representação desse grupo, nas artes, falando sobre a doença de maneira responsável. Contudo, ainda é pouca a representatividade desses indivíduos em livros, filmes e séries, que quando possuem um papel, muitas vezes, são personagens secundários e não há um aprofundamento de sua história. Desse modo, esse processo agrava os esteriótipos contra essas pessoas e afeta sua autoestima, pois eles não se sentem representados.

Portanto, faz-se imprescindível que a mídia – instrumento de ampla abrangência – informe a sociedade a respeito dessas doenças e sobre como conviver com pessoas portadoras, por meio de comerciais periódicos nas redes sociais e debates televisivos, a fim de formar cidadãos informados. Paralelamente, o Estado – principal promotor da harmonia social – deve promover a representatividade de pessoas com transtornos mentais nas artes, por intermédio de incentivos monetários para produzir obras sobre o tema, com o fato de amenizar o problema. Assim, o corpo civil será mais educado e os estigmas contra indivíduos com patologias mentais não serão uma realidade do Brasil.”

Redação nota 1000 do Enem 2019

Daniel Gomes, de Fortaleza (CE)

O filme ‘’Cine Hollywood’’ narra a chegada da primeira sala de cinema na cidade de Crato, interior do Ceará. Na obra, os moradores do até então vilarejo nordestino têm suas vidas modificadas pela modernidade que, naquele contexto, se traduzia na exibição de obras cinematográficas. De maneira análoga à história fictícia, a questão da democratização do acesso ao cinema, no Brasil, ainda enfrenta problemas no que diz respeito à exclusão da parcela socialmente vulnerável da sociedade. Assim, é lícito afirmar que a postura do Estado em relação à cultura e a negligência de parte das empresas que trabalham com a ‘’sétima arte’’ contribuem para a perpetuação desse cenário negativo.

Em primeiro plano, evidencia-se, por parte do Estado, a ausência de políticas públicas suficientemente efetivas para democratizar o acesso ao cinema no país. Essa lógica é comprovada pelo papel passivo que o Ministério da Cultura exerce na administração do país. Instituído para se rum órgão que promova a aproximação de brasileiros a bens culturais, tal ministério ignora ações que poderiam, potencialmente, fomentar o contato de classes pouco privilegiadas ao mundo dos filmes, como a distribuição de ingressos em instituições públicas de ensino básico e passeios escolares a salas de cinema. Desse modo, o Governo atua como agente perpetuador do processo de exclusão da população mais pobre a esse tipo de entretenimento. Logo, é substancial a mudança desse quadro.

Outrossim, é imperativo pontuar que a negligência de empresas do setor – como produtoras, distribuidoras de filmes e cinemas – também colabora para a dificuldade em democratizar o acesso ao cinema no Brasil. Isso decorre, principalmente, da postura capitalista de grande parte do empresariado desse segmento, que prioriza os ganhos financeiros em detrimento do impacto cultural que o cinema pode exercer sobre uma comunidade. Nesse sentido, há, de fato, uma visão elitista advinda dos donos de salas de exibição, que muitas vezes precificam ingressos com valores acima do que classes populares podem pagar. Consequentemente, a população de baixa renda fica impedida de frequentar esses espaços.

É necessário, portanto, que medidas sejam tomadas para facilitar o acesso democrático ao cinema no país. Posto isso, o Ministério da Cultura deve, por meio de um amplo debate entre Estado, sociedade civil, Agência Nacional de Cinema (ANCINE) e profissionais da área, lançar um Plano Nacional de Democratização ao Cinema no Brasil, a fim de fazer com que o maior número possível de brasileiros possa desfrutar do universo dos filmes. Tal plano deverá focar, principalmente, em destinar certo percentual de ingressos para pessoas de baixa renda e estudantes de escolas públicas. Ademais, o Governo Federal deve também, mediante oferecimento de incentivos fiscais, incentivar os cinemas a reduzirem o custo de seus ingressos. Dessa maneira, a situação vivenciada em ‘’Cine Hollywood’’ poderá ser visualizada na realidade de mais brasileiros.”

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Redação nota 1000 do Enem 2018

Carolina Mendes Pereira, de Mossoró (RN)

“Em sua canção ‘Pela Internet’, o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a quantidade de informações disponibilizadas pelas plataformas digitais para seus usuários. No entanto, com o avanço de algoritmos e mecanismos de controle de dados desenvolvidos por empresas de aplicativos e redes sociais, essa abundância vem sendo restringida e as notícias, e produtos culturais vêm sendo cada vez mais direcionados – uma conjuntura atual apta a moldar os hábitos e a informatividade dos usuários. Desse modo, tal manipulação do comportamento de usuários pela seleção prévia de dados é inconcebível e merece um olhar mais crítico de enfrentamento

Em primeiro lugar, é válido reconhecer como esse panorama supracitado é capaz de limitar a própria cidadania do indivíduo. Acerca disso, é pertinente trazer o discurso do filósofo Jürgen Habermas, no qual ele conceitua a ação comunicativa: esta consiste na capacidade de uma pessoa em defender seus interesses e demonstrar o que acha melhor para a comunidade, demandando ampla informatividade prévia. Assim, sabendo que a cidadania consiste na luta pelo bem-estar social, caso os sujeitos não possuam um pleno conhecimento da realidade na qual estão inseridos e de como seu próximo pode desfrutar do bem comum – já que suas fontes de informação estão direcionadas –, eles serão incapazes de assumir plena defesa pelo coletivo. Logo, a manipulação do comportamento não pode ser aceita em nome do combate, também, ao individualismo e do zelo pelo bem grupal.

Em segundo lugar, vale salientar como o controle de dados pela internet vai de encontro à concepção do indivíduo pós-moderno. Isso porque, de acordo com o filósofo pós-estruturalista Stuart-Hall, o sujeito inserido na pós-modernidade é dotado de múltiplas identidades. Sendo assim, as preferências e ideias das pessoas estão em constante interação, o que pode ser limitado pela prévia seleção de informações, comerciais, produtos, entre outros. Por fim, seria negligente não notar como a tentativa de tais algoritmos de criar universos culturais adequados a um gosto de seu usuário criam uma falsa sensação de livre arbítrio e tolhe os múltiplos interesses e identidades que um sujeito poderia assumir.

Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar essa problemática. Para tanto, as instituições escolares são responsáveis pela educação digital e emancipação de seus alunos, com o intuito de deixá-los cientes dos mecanismos utilizados pelas novas tecnologias de comunicação e informação e torná-los mais críticos. Isso pode ser feito pela abordagem da temática, desde o ensino fundamental – uma vez que as gerações estão, cada vez mais cedo, imersas na realidade das novas tecnologias – , de maneira lúdica e adaptada à faixa etária, contando com a capacitação prévia dos professores acerca dos novos meios comunicativos. Por meio, também, de palestras com profissionais das áreas da informática que expliquem como os alunos poderão ampliar seu meio de informações e demonstrem como lidar com tais seletividades, haverá um caminho traçado para uma sociedade emancipada.”

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Qual é o formato da redação do Enem?

De acordo com o Inep, o candidato deve produzir um “texto dissertativo-argumentativo a partir de uma situação-problema”.

Além disso, essa texto deve ter até 30 linhas, já o mínimo são 7 linhas. Caso o candidato não cumpra o determinado, a redação é anulada.

Qual o formato de uma redação dissertativa-argumentativa?

A redação do Enem segue o gênero textual dissertativo-argumentativo, ou seja, apresenta um ponto de vista por meio de argumentos.  A estrutura é simples, sendo dividida em três partes:

  • Introdução: apresentar o tema e o posicionamento sobre o tema proposto.
  • Desenvolvimento: aprofundamento dos os argumentos citados na introdução, fortalecendo o ponto de vista que o candidato defende.
  • Conclusão: criar intervenções que contribuam para a melhoria da problemática.

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Quais são os critérios de correção da redação do Enem?

A redação do Enem é avaliada por meio de cinco competências, com o objetivo tornar a avaliação padronizada para todos os concorrentes. A seguir, confira o que cada uma das competências pede do candidato:

  • Competência 1: Domínio da escrito formal da Língua Portuguesa
  • Competência 2: Compreender o tema e não fugir da proposta
  • Competência 3: Organização das ideias
  • Competência 4: Coesão e coerência
  • Competência 5: Proposta de Intervenção

Competência 1 da redação do Enem;
Competência 2 da redação do Enem;
Competência 3 da redação do Enem;
Competência 4 da redação do Enem; e
Competência 5 da redação do Enem.

Histórico de temas de redação do Enem

Apesar das polêmicas sobre um possível tema de redação mais livre, o Enem manteve o mesmo padrão dos últimos anos. Veja abaixo o histórico de temas de redação do Enem:

  • Redação Enem 2024 – Desafios da valorização da herança africana no Brasil
  • Redação Enem 2023 – invisibilidade do trabalho de cuidados realizados pela mulher no Brasil
  • Redação Enem 2022 – Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil
  • Redação Enem 2021 – Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil
  • Redação Enem 2020 – O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira
  • Redação Enem 2019 – Democratização do acesso ao cinema no Brasil
  • Redação Enem 2018 – Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
  • Redação Enem 2017 – Desafios para formação educacional de surdos no Brasil
  • Redação Enem 2016 – Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil
  • Redação Enem 2015 – A Persistência da Violência contra a Mulher na Sociedade Brasileira
  • Redação Enem 2014 – Publicidade infantil em questão no Brasil
  • Redação Enem 2013 – Os efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil
  • Redação Enem 2012 – O movimento imigratório para o Brasil no século XXI
  • Redação Enem 2011 – Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado

+ O que são repertórios de bolso e por que eles foram proibidos na redação do Enem?
+ Dicas de redação: como se dar bem em qualquer uma!
+ Modelos de redação nota 1000 no Enem desde 2009

Conheça o Guia do Enem

Você sabia que o Enem é o segundo maior vestibular do mundo? A prova perde apenas para o Gaokao, da China. Ou seja, essa é uma das maiores oportunidades para conseguir a sua vaga dos sonhos em uma universidade, seja ela pública ou privada.

Para te ajudar, o Portal do EV desenvolveu o Guia do Enem, com tudo o que você precisa saber sobre a sobre a prova; desde a inscrição, o que estudar, possíveis temas de redação e até indicações de onde você pode usar a sua nota para conquistar o sonho de ingressar em uma universidade de qualidade. 

Veja algumas das informações que você encontrará no Guia do Enem:

  • Enem Impresso x Digital
  • Calendário do Enem
  • TRI: como funciona a nota do Enem
  • Checklist: veja o que mais cai no Enem por disciplina
  • Como desenvolver repertório sociocultural para a redação?
  • Exemplos de redação nota 1.000

Como estudar para o Enem?

Para te ajudar nos estudos e a conseguir a redação nota 1000, o Estratégia Vestibulares oferece diariamente aulas gratuitas no YouTube sobre todas as matérias que caem no Enem!

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  • Fórum de dúvidas;
  • Simulados com questões inéditas;
  • Questões comentadas;
  • Mapas mentais; e
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